Quem pagará a conta?

Quem pagará a conta?

Na 1ª semana de janeiro de 2012, as chuvas fortes (previstas) voltaram a castigar as regiões interiores do Estado do RJ. Dique (tijolo e areia apenas?) que foi “restaurado” pelo DNIT em Campos em 2009, ruiu e inundou as casas de 40.000 moradores da região. Autoridades “preocupadas” com a perda de votos sobrevoaram (mas não acampam mais de 2 horas no local) o local e prometeram (pela enésima vez) que providências serão tomadas para atender aos necessitados. Que continuarão votando nos mesmos, claro. Basta que não falte o “Big Besta Brasil” na TV!

Tal fato se enquadra numa das situações corriqueiras com as quais convivemos sem protestar:

1 - acomodação de órgãos fiscalizadores que fingem ignorar as irregularidades em troca de mordomias do estabelecimento faltoso. Bem como ausência de rigidez para serviços públicos que atendem (?) eventuais eleitores que não devem ser “contrariados”.

2 - “acordo” das autoridades (?) com as entidades (que patrocinam suas campanhas eleitorais) que manipulam as vidas das populações em todos os estados deste país. Obras que foram erguidas antes de 1950 (e as recentes que usam material de 3ª categoria) fora das especificações, sem a manutenção adequada (devido aos impostos desviados), pressa da inauguração antes das eleições, hoje tornam-se armadilhas letais contra a população que transita dentro destas áreas.

Dentro deste rastro seguem-se as pequenas empresas que são abertas antes das demoradas autorizações (burocracias para “vender” facilidades) e acabam funcionando de forma inadequada, sem segurança para seus funcionários, clientes e vizinhos em volta. Sabem que a Lei (?) é frouxa. Em caso de um evento sinistro, fecham a dita cuja, criam uma nova razão social e abrem um negócio similar em outro bairro ou em outra cidade.

Além disto, o apoio às famílias prejudicadas é apenas peça de manchete de jornais, pois a ajuda é 80% menor do que o anunciado e demora anos para chegar a este ponto aquém. Bem diferente do que acontece quando o acidente ocorre com aviões e equipamentos que atingem a classe rica. Aí o suporte é rápido e de boa qualidade.

Podemos recordar fatos trágicos (apenas os que ajudaram vender jornais) sem ordem cronológica que ceifaram dezenas de vidas pelo descaso dos responsáveis, pela falta de fiscalização adequada e pela ausência de penalidades exemplares.

- Explosão (com mortes) de botijão de gás irregular dentro de restaurante na Praça Tiradentes (RJ) em meados de 2011.

- Acidente com bonde em Santa Teresa (RJ) em 2011 por falta de manutenção (verbas canalizadas para obras do Maracanã).

- Soterramento das cidades serranas no RJ (Japão sofreu terremoto logo depois e se levantou em 9 meses) em dezembro de 2010.

- Deslizamento de dezenas de casas no morro do Bumba (RJ) que apesar de ter sido depósito de lixo, não foi interditado para moradia.

- Queda de vigas do Rodoanel em São Paulo em novembro de 2009.

- Explosão de uma “fábrica” de fogos de artifícios em bairro residencial de Santo André (SP) com 3 vítimas fatais (no local), dezenas de outros feridos e várias residências abaladas pela onda de choque.

- Desabamento da represa do Algodão (PI).

- Queda do teto da igreja Renascer (SP).

- Acidente em obras do metrô com 8 mortes (SP).

- Queda da arquibancada do Estádio da Fonte Nova (BA).

- Queda do viaduto Paulo de Frontin (RJ).

- Explosão em Santo Antonio de Jesus (BA *).

- Queda do Palace II com 8 mortes imediatas (RJ).

- Incêndio do Joelma (SP) e do Serrador (RJ).

-Afundamento do Bateau Mouche (RJ) com mais de 100 mortos.

- Queda da Gameleira (MG).

- Afundamento da plataforma P36 da Petrobras (RJ) com 8 mortos.

- Rompimento do emissário de Ipanema (RJ), das barragens de lama (MG), de pontes, estradas, escolas e hospitais públicos, encostas de morros acumulando favelas (BR) e aviões que poderiam ter sido evitadas (BR).

Fora outras dezenas de tragédias espalhadas pelo país e nem sempre destacadas na imprensa controlada.

(*) O responsável por esta tragédia em 1998 está solto e abriu novo negócio de manuseio de explosivos na mesma localidade. Eita terra boa!

O viaduto (dois andares) que vai do Joá até o túnel Zuzu Angel no RJ, exibe dezenas de pontos com ferrugens em suas estruturas. Uma Engenheira denunciou isto na imprensa, mas as providências cabíveis (manutenção) não foram tomadas de forma adequada. É um grande candidato a desabar nos próximos 10 anos. Assim como alguns viadutos urbanos. Fora os tetos de túneis infiltrados pelas águas das chuvas.

Todos estes fatos acontecem por três razões básicas:

1 - a corrupção que começa no topo e já contaminou o nível mais baixo de qualquer construção ou prestação de serviço;

2 – a impunidade que não castiga os mentores e executores destas picaretagens que são “chegados” ao judiciário;

3- a população que não sabe protestar por seus direitos e apenas se contenta em ter imagens do Big Besta Brasil dentro de seus lares contendo mensagens de elevada “cultura” para seus filhos.

A fórmula de manipulação das verbas públicas basicamente é esta:

Preço real de uma obra/serviço: R$ Y milhões.

Preço a ser faturado (sai de nossos impostos) em nota “suplementar” da “licitação transparente”: R$ 5Y MI.

Distribuição do excedente (R$ 4Y MI):

R$ 2Y MI para os que assinam o contrato. Com direito a coquetel e aparição na imprensa, anunciando o “novo marco da cidade”.

R$ Y/2 MI para entidades “esquecerem” pendências e fiscais fecharem os olhos em relação às anormalidades, principalmente as relativas à forma de “licitação”, ao meio ambiente, à segurança dos operários e futuros usuários.

R$ Y/2 MI para que membros do judiciário sabotem possíveis processos indenizatórios mais lentos do que a média atual que é de 15 anos.

R$ Y/2 MI para “acalmar” donos de jornais não darem ênfase a algum fato negativo descoberto oriundo das mutretas montadas.

R$ Y/2 MI para os responsáveis diretos (engenheiros, por exemplo) não fazerem alarde pelo uso de material de 3ª. categoria no lugar do previsto em contrato nem da redução do tempo de secagem do concreto.

Para a obra sobrou o valor inicial: R$ Y MI. Valor que será reduzido devido ao exposto a seguir.

Como não foi prevista uma “cota” para a turma dos explorados lá de baixo (capatazes, motoristas, operários, cozinheiros, grupo da limpeza), eles são contaminados pelos exemplos passados pelos escalões acima. Criam seus mecanismos de desvios e subtração/substituição furtiva de material. Isto acaba consumindo R$ Y/4 do valor que seria usado para o projeto. Caso ele não desabe antes da entrega, será condenado pela Natureza dentro de algum tempo pela baixa qualidade do material, falta de manutenção adequada e pela ação das intempéries.

Resta esclarecer se somos cúmplices passivos (somos sim) por ficarmos assistindo a estas barbaridades sem que nossa indignação seja despertada para mudar de forma contundente este cenário que nos denigre perante nossos herdeiros! Quando falta energia elétrica, protestamos com veemência. Não pelos alimentos estragados na geladeira, mas pela perda do capítulo da novela que prometeu mostrar dois atores (até do mesmo sexo) rolando na cama. Mas isto é facilmente contornado pela tv que “gentilmente” repete o capítulo perdido.

Quantos estádios, viadutos, escolas e hospitais terão de desabar matando gente para que a população esqueça a anestesia oriunda de processos “Big-Besta-Brasil” e tenha consciência de que precisa aprender a cobrar seus direitos de sobreviver com um mínimo de qualidade? Quantas “fábricas” terão de explodir e barcos saturados terão de afundar?

Nota complementar - lá acima, onde você leu “Y” milhões, parta da seguinte teoria:

“Y” nunca é menor que 100.

Se a empreitada se referir a algo do porte de uma represa ou dragagem de um rio, no lugar de milhões, leia BILHÕES. Aí eles fazem uma verdadeira dragagem nas contas públicas e não há represa que aprisione nosso dinheiro.

E mortes continuarão ocorrendo sem prisão de culpados, devolução das verbas desviadas nem ressarcimento adequado aos parentes das vítimas (pobres). E os mentores continuarão no comando.

Os familiares que perderam seus entes amados ficarão clamando por justiça pelo resto de suas existências mas não encontrarão eco na mídia comprometida.

Ninguém será penalizado porque tal ação educativa abriria um perigoso precedente e parlamentares que matam dirigindo carro a mais de 150 km/h, que levantam prédios com cimento de 5ª. qualidade e torturam desafetos com serras elétricas teriam de ser encarcerados também.

Vamos aguardar o próximo evento macabro a ser apresentado no picadeiro do circo Brasil. Similar aos demais circos latinos, com uma única diferença: os palhaços (nós) observam tudo docilmente aprisionados no sujo picadeiro enquanto as feras (abutres, raposas, lobos) nos devoram rindo dentro de seus camarotes.

Dentro de um mês a população naturalmente esquecerá este lamentável fato. Ou até mesmo em 15 dias, desde que as mídias orquestradas preparem alguma exuberante manchete exaltando as virtudes de um jogador que faça um gol de canela ou de uma “popozuda” com baixos neurônios que exiba suas nádegas desnudas (mesmo com celulite) num programa de “alto” nível da tv.

Haroldo P. Barboza – Informática (adultos) / Matemática (infantil)

Autor do livro: BRINQUE E CRESÇA FELIZ!

Haroldo
Enviado por Haroldo em 11/01/2012
Código do texto: T3434236