Intolerância

“Nenhuma qualidade humana é mais intolerável do que a intolerância”.

-- Giacomo Leopardi

Antes de escrever sobre um tema é sempre conveniente buscar a informação e a opinião de outros sobre esse mesmo tema. Costuma-se buscar a notícia mais remota e também o significado etimológico do termo estudado e sua evolução ao longo de séculos de civilização. Palavras há que surgem no firmamento linguístico com um significado e, com o passar dos anos e as diversas significações a elas atribuídas socialmente, se mostram na atualidade muito diferentes. O termo tolerância não foge à regra e desde “sofrer”, “padecer” até prostituir-se, tem sido largamente usado pela sociedade.

“Voltaire define no Dicionário Filosófico o termo “tolerância” da seguinte forma: “É o apanágio da humanidade. Estamos todos empedernidos de debilidades e erros; perdoemo-nos reciprocamente nossas tolices, é a primeira lei da natureza.” (p. 289). A tolerância de que fala o filósofo francês visa a supressão da violência, tendo sido instaurada como lei prévia ao contrato, razão pela qual se considera um “apanágio da humanidade”. Não se trata apenas de uma estratégia em ordem à pacificação, trata-se de um elemento constitutivo da verdadeira natureza humana, a qual se entende agora como uma estrutura de valores universais e trans-históricos cujo cerne reside na liberdade. Negar a alguém o direito de pensar livremente e de agir em conformidade com os seus próprios critérios seria, a partir desta perspectiva, recusar-lhe a autenticidade de sua natureza e a integração no seio da humanidade a que, como pessoa livre, tem direito”. Sérgio Viana da Silva.

A despeito de estudos especializados, de sugestivas campanhas televisivas, da pregação constante da cidadania, do respeito aos direitos do indivíduo; dos discursos acerca da moral e da ética _ e até da disseminação de ideias voltadas para a espiritualidade, o amor e a auto ajuda _, em movimento contrário parecem correr algumas águas da discórdia e da violência.

Ainda hoje, cegas ao perigo que correm e ao mal que fazem à sociedade, famílias criam seus filhos ensinando-lhes a intolerância. Seja ao colega de menor poder aquisitivo, ao vizinho com quem não deve brincar por ter a cor da pele diferente da sua, às roupas que não deve vestir para não parecer pobre e ao comportamento que não deve ter para não ser taxado disto ou daquilo. E mais e mais neste transcendental país do “não pode”.

O que pode é passar no vestibular, ser doutor custe o que custar, obter todos os bens de consumo que indiquem pertencimento à classe social economicamente superior. Os outros são os outros, isto é, coisa alguma.

De preferência, crianças e jovens aprendem, na escola, como sempre vencer o outro, tirar nota dez e sobrepor-se ao seu colega em todas e quaisquer circunstâncias. Em todos os níveis de ensino tal fato acontece; no trabalho, nos relacionamentos pessoais; nas “naves” de confinamento; e, acreditem ou não, na igreja também, pois que cada denominação tem certificado de compra e propriedade de Deus.

O ano inteiro está ficando pequeno demais para a criação de datas festivas que, sob qualquer desculpa, aceleram o consumo e atiçam a fome insaciável do capitalismo cruel. O Natal serve para fazer cara de piedade e contrição ao lado da manjedoura dourada onde a família é uma ilustre desconhecida; e o Ano Novo serve para novas promessas de tudo repetir com a melhor das intenções.

Auxiliar o semelhante a encontrar caminhos dá muito trabalho e, então, se deixa com a televisão a atividade organizada e fachadosa em ambiente branco e musical onde todos se dão as mãos e se amam. Sim, eles se amam, aqueles dos clips, pois têm o boi na sombra e a vaca deles não irá para o brejo.

Gente bem aquinhoada paga todos os dispositivos necessários para que passem de si para os seus observadores a imagem da tolerância e da compreensão entre os sujeitos e os povos. Então, Madona batiza a filha com nome de santa e a matricula em tradicional colégio de freiras. “Então é Natal, a festa cristã” e o filho da empregada pode participar da mesa e comer uma rabanada. Então, passou Natal e, como por milagre, começa a máquina a funcionar sob as forças da desigualdade e da intolerância. Cada macaco em seu galho, em sua escola, em seu condomínio, em sua rua, em seu espaço. Assim funciona o mundo e o resto é poesia. Sim, a poesia paga o pato por falar uma linguagem tolerante. Inclusive tolera todas as manifestações culturais e linguísticas, sociais, econômicas e etc. E, para arrematar estas considerações, eu me declaro intolerante à intolerância.

REFERÊNCIAS

http://www.palavramaconica.com.br/palavra_maconica/noticias_exibe.php?id=Mjcy

taniameneses
Enviado por taniameneses em 10/01/2012
Reeditado em 10/01/2012
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