PELO BEM OU PELO MAL

A lida humana tem sido um eterno cabo de guerra entre o trabalho e o capital. E para mediar essa briga ferrenha, que transcende o tempo e a história, tanto já se fez e tanto se faz. Veio o conceito político, para criar o diálogo entre as duas pontas. Vieram os filósofos, sempre tentando construir conceitos sobre a lida do viver, sobre os valores de cada lado.

E nas duas pontas da corda continuam existindo um mesmo buraco negro, cuja queda não se sabe, nunca se soube, nunca se saberá para onde levará quem ali cair. Tantas filosofias, ideologias, conceitos ou simples opiniões já passearam pelos congressos, pelas igrejas, pelos guetos ou mesmo pelos botequins, sem jamais repassar certezas; sem jamais concluir qualquer caminho.

As empresas todas, os empresários todos, os capitalistas de toda ordem, somente se justificam e continuarão existindo, se houver a força do trabalho a seu serviço. O trabalho só se sustenta e sobrevive, se houver o capital para gerir as empresas e as oportunidades de trabalho. A questão é que para cada mão puxando de um lado, há uma multidão do outro. Um lado tem a força, o outro tem o poder.

A população do planeta cresce. A desigualdade continua. Com outros jeitos, outras formas, outras caras, mas continua da mesma forma perversa como lá no princípio que a história longínqua nos conta. O poder de poucos, de um lado, a força dos tantos do outro e a multidão continua no atoleiro. Chego a pensar que a teoria de que “quanto maior a massa, maior a inércia” surgiu não da matemática, da física, mas sim da sociologia, da antropologia.

O capitalista alega que precisa fazer o bolo crescer para poder dividir. O trabalho apregoa que tem fome e quer o pedaço do bolo que produziu com suas mãos. Só existe uma certeza, a de que o capitalista jamais vai admitir que o bolo já esteja grande o suficiente para poder dividir e saciar a fome de quem o produziu. E o trabalho nunca guardará um pedaço da sua fatia para comer no dia seguinte, se lhe faltar forças nas mãos para produzir mais.

Vieram os Governos, qualquer que seja o sistema, para administrar e buscar o equilíbrio entre a força e o poder. E o cabo de guerra continua. Seja nas oligarquias monárquicas, nas imperialistas, nas ditaduras impostas pelos tiranos; seja nos sistemas democráticos, capitalistas ou socialistas, a cabo de guerra continua sendo puxado de um lado pelo capital, pelo dinheiro e do outro pelo trabalho, pelo operário.

Da mesma forma que o desequilíbrio econômico persiste, a desigualdade social continua maltratando a multidão. A desproporção na distribuição de renda insiste na segregação humana. É a gula do poder capitalista ainda esperando o bolo crescer mais para poder dividir. E a inércia da força do trabalho acuado pelo medo de exigir o pedaço que lhe cabe, na proporção do que produz.

Qualquer uma das pontas do cabo de guerra que cair no buraco negro de fundo ignorado, esfacelarão a outra. Uni-los num mesmo lado, sabemos ser impossível, já tentado nos sonhos de Marx, com o deslumbre do Comunismo. Resta-nos somente a esperança que no decorrer da história que se construirá doravante, a inteligência que resta a ambas pontas da corda que forma o cabo de guerra social e humana, por si só busquem o equilíbrio entre o poder e a força.

Que os capitalistas entendam que não precisam de bolos tão grandes, pois, jamais conseguirão comer tanto e que os trabalhadores entendam e se sobreponham a lei da física, traduzindo-a para a lei filosófica, de que o tamanho da massa pode sim renegar a inércia e fazê-la também poderosa.

Eacoelho
Enviado por Eacoelho em 07/01/2012
Reeditado em 07/01/2012
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