O drama do desemprego
O desemprego é atualmente um dos mais graves problemas sociais brasileiros e de diversos lugares do mundo. Diariamente são vinculadas matérias sobre o assunto nos principais meios de comunicação. Devido à última crise, o fenômeno do desemprego afeta até mesmo países Europa, onde milhares de novos trabalhadores podem ter seus benefícios cortados ou ficar sem uma atividade remunerada. O desemprego tem sido a causa de inúmeros conflitos sociais e políticos.
A pessoa desempregada além de temer pela perda de qualidade de vida, ou pela subsistência e de sua família; ainda pode carregar a humilhação de ser aquele que não produz e que “pede” um trabalho. Muitas vezes, o trabalhador como forma de garantia, se sujeita a um emprego informal, o que em certo aspecto não é positivo devido à ausência dos direitos trabalhistas.
O filme O Corte (Gavras) ilustra bem essa questão, pois demonstra o extremo uma pessoa pode chegar ao buscar um cargo tão almejado. Nessa lógica de extrema competitividade, o personagem desempregado chega ao ponto de localizar os seus principais concorrentes e eliminá-los literalmente, ou seja, assassinando todos aqueles que estão qualificados a “roubar” a sua tão pretendida vaga em uma entrevista. Diferente de Raskolinikov em Crime e Castigo (Romance de Dostoiévski) o personagem não demonstra nem uma espécie de arrependimento pelos seus atos. Em sua hiper-individualização, ele não enxerga no seu concorrente uma pessoa, mas apenas um obstáculo a ser superado a qualquer custo.
Não se limitando a questão da perda de poder de consumo ou do individualismo, o desemprego desencadeia problemas biopsicossociais. No geral, a significação de não ter um trabalho varia conforme contexto social, conforme a idade, ocupação anterior, gênero, país, classe econômica e histórico de vida. Os efeitos de estar desempregado são em geral traumáticos e profundamente pessoais. Entre as suas causas físicas: insônia, tensão e ansiedade resultando em embriaguez, violência familiar. Quanto aos problemas psicológicos estão: resignação, baixa-estima, desespero, vergonha, apatia, desesperança, sensação de futilidade, perda de objetivo, passividade, letargia e indiferença. Já os problemas sociais: pobreza, perda de status, perda de organização temporal, isolamento, desagregação da família (divorcio, mudança na divisão sexual do trabalho) e diversas formas de comportamento anti-sociais (agressão, roubo e vandalismo). Em casos mais graves pode levar ao suicídio.
Segundo Guy Bajoit o modelo cultural da sociedade industrial, caracteriza-se pela centralidade da ética do trabalho. A experiência ou inexperiência no mercado de trabalho constitui um momento decisivo da redefinição identidaria, principalmente dos jovens. Apesar de o trabalho ter uma dimensão instrumental no qual se busca ganhar a vida e sobreviver, ele também tem uma dimensão da realização social e pessoal. As experiências adquiridas e significações simbólicas são diversas. Tudo se agrava com a perda do modelo trabalho tradicional e como novo modelo atual, pautado na individualização e inconstância de um trabalhador em um cargo. Através da sua pesquisa de campo, Guy Bajoit analisa por meio do uso de entrevistas, como é problemático para a maioria dos jovens da França a idéia de não estar estabelecido no mercado de trabalho, conforme pode ser conferido nos relatos abaixo:
“Eu gosto de trabalhar, tenho medo de ficar desempregado de novo”. (Anônimo)
“O desemprego foi um horror, um inferno na minha vida, Psicologicamente para mim foi difícil aceitar estar desempregado, aceitar esse status, foi terrível. (Dominique)
“[...] Depois de um ano a bebida começa a chegar… A bebida faz como que – bom você chega a um ponto sem volta. Se você não acha o trabalho nos próximos meses você embarca para o hospital como um alcoólatra ou então como… um louco.” (Herve)
“É preciso destacar que o trabalho continua sendo uma fonte importante de normatividade e experiência cental de socialização” (BAJOIT). Através de um discurso da livre-iniciativa, muitas pessoas responsabilizam seus atos como fracassos pessoais, não tendo consciência de que existem fatores externos como: crises econômicas, mudanças tecnológicas, problemas climáticos, questões históricas, e saturação de mercado. Como fator agravante, a partir das últimas décadas do século XX, o desemprego em massa adquire uma sua forma permanente.
Uma das saídas para amenizar o problema do desemprego em massa é separar o ter um emprego de ter uma renda; e desenvolver uma sociedade mais democrática nesse sentido. Em termos ideais, o trabalho não deveria ir além do socialmente necessário. Com isso, diminui-se a carga horária e aumenta a distribuição de trabalho, permitindo que as pessoas sejam menos exploradas e que possam fazer mais coisas durante o seu tempo livre.