O caso do cãozinho Yorkshire e a questão do sofrimento animal
O caso do cãozinho Yorkshire agredido e morto por uma Psicopata há alguns dias, chocou o Brasil de tal forma, que imediatamente após a postagem da filmagem, houve uma grande mobilização em massa via redes sociais para pedir punição severa à autora do crime além de diversas manifestações de repúdio juntamente com Heloísa Helena manifestando-se por meio de uma denúncia ao Ministério Público de Goiânia.
Ao mesmo tempo em que a notícia tomava corpo e, com razão indignava a sociedade, foram inevitavelmente surgindo comentários de diversas pessoas diminuindo a importância do caso com o velho argumento de que existem crianças sendo mortas, outras passando, fome, etc, e que não se conformavam com tamanha comoção mostrada pela população pela vida de um animalzinho.
Entre essas pessoas estão, claro, aqueles que por algum motivo não gostam de animais e que, portanto, merecem ser solenemente ignorados. Mas existem aqueles que simplesmente caíram num discurso modista, polarizado e falacioso de que se preocupar com a vida e o sofrimento animal, significa necessariamente deixar de se preocupar com a vida e o sofrimento humano ou diminuir sua importância. Esse tipo de pensamento é nada mais nada menos do que uma grandiosa mentira ( e muitas vezes difundida por muitos que sequer mexeram uma palha pela humanidade), e perigosa, que tende a nos dessensibilizar para a questão do direito à vida em todos os seus aspectos e tomar partido sobre quem merece mais esse direito, e qual sofrimento parece ser o pior para que de fato mereça atenção. Quem verdadeiramente AMA A VIDA é capaz de sentir verdadeira compaixão, empatia e amor por toda sua manifestação quer seja por um cão, quer seja por um idoso, uma criança e até mesmo um bandido, vide os porta-bandeiras dos direitos humanos.
A relativização da questão do direito à vida dos animais e a dos humanos só nos torna cegos em relação à grandiosidade do direito à própria vida em si. Por que alguém que ajuda instituições como os médicos sem -fronteiras, não poderia também ajudar instituições de amparo à vida animal e vice-versa? Quando utilizamos a verdadeira força do AMOR UNIVERSAL, ele é capaz de se estender até mesmo à alface da horta do quintal. Deveríamos parar de relativizar essas questões e começar a buscar a capacidade de amar o bem acima de tudo e de se indignar em relação à crueldade que existe no mundo em TODOS os seus aspectos e não somente quando ela atinge alguém de nossa própria espécie.
Também é preciso lembrar que, antes que se aborde o assunto do churrasco de domingo, outro argumento usado para "desmascarar" uma suposta hipocrisia daqueles que carregam a bandeira contra os maus-tratos à animais, há de se pensar que de certa forma há uma lógica nisso, pois nenhum boi é tratado carinhosamente em um matadouro. No entanto o sofrimento imputado ao animal não é gratuito e perverso (ou pelo menos não deveria ser), e tem uma finalidade específica de uso na alimentação. Isso na verdade, também requer uma maior reflexão sobre o sofrimento animal no abate, e daí podemos buscar práticas que amenizem esse sofrimento nessas circunstâncias, pensando por exemplo nos métodos judaicos Kasher de abate, que carregam uma dimensão espiritual e religiosa utilizando técnicas para que o animal não sofra. Esse é um campo a ser explorado, no qual pode-se obter uma solução adequada.
Por fim, temos de pensar na questão da justiça. O Brasil é caracterizado como uma terra sem leis, e somente a indignação popular não é capaz de mobilizar os órgãos públicos para que a situação mude, pois sabemos da perversidade daqueles que deveriam prezar pelo bem-estar da sociedade. É necessário uma verdadeira revolução nesse campo, para que todos os crimes envolvendo maus- tratos a animais, crianças, idosos, etc sejam devida e rigorosamente punidos. Isso alías se expande para toda a estrutura defasada do direito penal no Brasil. A luta por justiça não pode acabar.