O passeio da lacraia entediada

Prólogo

Lacraias ou escorpiões quilópodes, são animais de sexos separados cujo desenvolvimento pode ser direto ou indireto. No início da primavera a fêmea deposita de 15 a 50 ovos que medem cerca de 1mm de diâmetro em torno dos quais se enrola e deles cuida por cerca de quatro semanas, findas as quais, eclodem os filhotes idênticos à mãe, isto é, raivosos e loucos para picar algo ou alguém.

Neste período a centopéia fica muito inquieta, raivosa, estressada, entediada, vulnerável aos predadores naturais. São organismos super adaptados, tanto que uma espécie com 15 pares de patas originária do mediterrâneo se expandiu por todo o hemisfério norte.

É um mito popular que eles transmitem doenças. Ao contrário, na Coréia e toda a indochina, escorpiões secos ao sol são consumidos como remédio. Há prazeres e gostos para todos os fins. Há quem me condene por beijar e abraçar meus animais de estimação. Meus calopsitas adoram quando faço cafuné em suas cabeças diminutas.

"A beleza interessa nos primeiros quinze dias; e morre, em seguida, num insuportável tédio visual." - (Nelson Rodrigues);

"Se você sente tédio quando está sozinho

é porque está em péssima companhia." - (Jean Paul Satre);

"O repouso é uma boa coisa, mas o tédio é seu irmão." - (Voltaire);

“Execute ideias ousadas, conteste adágios e axiomas, refute, com argumentos convincentes, até mesmo as afirmações mais verdadeiras. Fazendo isso você não sofrerá do mal danoso do tédio.” - (Wilson Muniz Pereira).

O tédio é um sentimento humano descrito como um estado de falta de estímulo, ou do presenciamento de uma ação ou estado repetitivo - por exemplo, falta de coisas interessantes para fazer, ouvir, sentir, etc. Ora, se o tédio é um mal acometido pelos humanos... Por que o tema "O passeio da lacraia entediada"?

Explico escrevendo que urdi este texto em homenagem a minha doce e amada filha Fabianne. Ela vivenciou, enquanto dormia, no esplendor de sua paz, em sua antiga morada, "O passeio da lacraia estressada".

As pessoas afetadas por tédio em caráter temporário, advogando em causa própria, consideram este estado muitas vezes como perdido, inútil perda de tempo, mas geralmente, é muito mais do que isto. O ser pachorrento é ignóbil para si, sua família e a sociedade. É visto como um hospedeiro parasita improdutivo, desnecessário.

Sou autodidata, um aprendiz incansável e por isso prefiro, às vezes, tempestades carregadas de raios e trovões; noites chuvosas, frias, escuras em demasia; madrugadas tenebrosas, súbitas, a ser acordando em clima de terror pela visita inesperada de uma lacraia enfezada, por ter sido incomodada quando passeava pelo meu peito arfante e prestes a exteriorizar uma crise de apneia sofrida.

Não. O trabalhador intimorato e competente não deseja viver estressado pelo salário minguado, atrasado, com as contas a pagar vencidas, vizinhos loucos fazendo festa na madrugada, atirando rojões em direção errada!

Também não deseja a exaustão provocada pelo tédio potencializado pelo olhar bovino da velha e feia vizinha, sempre a espreita na hora de sua chegada, com a esperança de receber um cumprimento social respeitoso, quando cansado você mal lhe dirige um olhar de viés, quiçá, rancoroso.

Tais quais sombras furtivas, os dias de um entediado escorrem em doce remanso, mas ele prefere os dias desabridos. O tédio operoso teima em contrariar o interesse por sua mudança ansiada.

Assim seus dias sucedem-se iguais, oscilando entre os impropérios do patrão nervoso, as intrigas dos colegas de trabalho, o choro plangente do filho birrento, os lamentos da esposa que se queixa pelas unhas quebradas, as sobrancelhas e depilação da virilha malfeita, o feijão queimado, a camisa e terno malpassadados, o silêncio que entra em casa por frestas aparentes das portas e janelas escancaradas, a pia do balcão da cozinha ainda sem conserto.

Muito plúmbeos passam-se cinzentos os dias cor de chumbo, negros, de quem aspira momentos agitados, tumultuados como os ratos fugitivos pela chegada imponente do gato esfomeado ou do surgimento de maneira inopinada da polícia no covil dos ladrões.

Quem compreender meu grito de alerta vai desejar e até preferir todos os cansaços e tormentos, menos a extenuação do tédio pelo nada fazer, pelo bem viver, pela indiferença da sabedoria popular, pelo desconhecimento do axioma:

"Cumprimente a todos com alegria. Muitas vezes uma simples saudação, alegre e espontânea, consola uma dor e faz mudar uma opinião a seu respeito".

CONCLUSÃO

O tédio ocorre em diversas situações. O sentimento que envolve o tédio é aquele no qual sente-se um vazio, ou então simplesmente a falta de vontade de realizar atividades rotineiras, pois o comportamento humano funciona como uma espécie de equilíbrio, onde em demasia de atividades repetitivas, a pessoa sente-se frustrada, infeliz, incapaz, inerte ou insatisfeita, pois sente que algo esta lhe faltando.

O sentimento de tédio pode ocorrer diversas vezes em um mesmo dia, tendo estas características e podendo levar a pessoa a realizar ações impulsivas, se não tendo auto-controle, ou simplesmente definhar até que faça algo a respeito da situação ou que encontre algo ou alguém novo para interagir no espectro do seu "universo".

O tédio é ruim, medonho! "O enfado se torna crônico a ponto de se confundir com uma depressão. A pessoa acaba ficando isolada, se sente nostálgica e vai perdendo as perspectivas que tinha em relação ao futuro", descreve o psiquiatra Marcos Ferraz, professor da Universidade Federal de São Paulo.

Claro que isso acontece com frequência entre indivíduos mais maduros que não planejaram o que fazer depois da aposentadoria. Leia o livro, veja a peça e assista ao filme: "Ensina-me a viver".

OBSERVAÇÃO PERTINENTE:

"Ensina-me a viver" trata-se de uma comédia de humor negro, com cenas hilariantes ao estilo da perfeita Ruth Gordon. O contraste é a marca principal do filme. Afinal, a abordagem da vida e da morte é feita de uma maneira diferente, apresentando comicamente o drama psicológico através do relacionamento entre gerações normalmente conflitantes. O resultado é um legítimo “cult movie” cinematográfico, completamente atemporal.

Maude é uma senhora que possui toda a bagagem de vida nas costas. Além disso, ela tem uma disposição para certas façanhas na vida. Seu principal feito agora é se preocupar em estabelecer forte relação com o garoto Harold - de apenas 20 anos – e, resgatá-lo para a vida. Recomendo por saber que esse filme, livro ou peça teatral fará você, leitor amigo, sair da mesmice, porta imensamente larga que conduz ao tédio.

Pratique esportes, viaje, estude, escreva, aprenda, ensine, veja outros bons filmes e peças teatrais; ouça boas músicas; tenha equilíbrio e temperança no trabalho, em tudo o que fizer, principalmente na comida e no descanso (Durma menos)... Viva intensamente!

Execute ideias ousadas, conteste adágios e axiomas, refute, com argumentos convincentes, até mesmo as afirmações mais verdadeiras. Fazendo isso você não sofrerá do mal danoso do tédio.