Desigualdades raciais e realização socioeconômica: uma análise das mudanças recentes
Após ter efetuado não poucas leituras de textos teóricos sobre a questão do racismo no Brasil, ainda na atualidade, atendo-me aos textos afins sobre a desigualdade, seus efeitos enraizados na sociedade com reflexos na realidade atual, pode-se observar que este é tema que tem sido analisada pela literatura nacional e internacional de modo bastante amplo e singular. No entanto, apesar dessa ampla teorização, Sua complexidade ainda se perpetua até nossos dias atuais. Há de se convir que um dos principais fatores para que isso ocorra é o fato de que sua articulação a diversos campos disciplinares ainda esbarra com tabus e preconceitos revelados, constatados nos índices do IBGE, nas estatísticas de desemprego, subemprego, baixos salários para homens negros, e em se tratando de mulher negra, nem se fala. Isso se reflete em os mais diversos setores da vida em sociedade e áreas disciplinares tais como economia, filosofia, política, sociologia, dentre outros, e vem repercutir numa multiplicidade teórica de variáveis que buscam explicar os fatores envolvidas (assim, volta-se para aspectos tais como atributos individuais que referenda aspectos de discriminação pela “aparência, por exemplo; origem familiar, que se estrutura num determinismo cruel e elitista; no capital social e econômico, que coloca o cidadão e a cidadã negros em situação de desprivilegio social e financeiro, uma vez que a grande massa pobre é negra dou afro descendente, e alguns tantos outros fatores que perpetuam as desigualdades afirmadas intrinsecamente nas diferenças).
Assim, o tema da desigualdade pode ser abordado no âmbito do debate dos discursos socioeconômicos e que concentra sua análise nos critérios de alocação dos indivíduos nas posições sociais estabelecidas por uma ideologia subjacente numa confluência de preconceitos...Dessa forma, fica evidente que o cidadão negro, e mais especificamente a mulher sofre os efeitos desse aspecto social que claramente é evidenciado na simples ocorrência de as mulheres negras, segundo as estatísticas, ainda serem a maioria das empregadas domésticas do Brasil (isso não desmerecendo a profissão, mas reconhecendo a condição de desvalorização humana).
Desta feita, percebe-se que a discriminação racial e o preconceito implantados no país desde a abolição da escravatura, deixaram fortes e profundas marcas existentes até hoje. O elemento negro, sem poder se manter nas propriedades trabalhando como escravos com a necessidade de força para o trabalho, o imigrante ocupou o lugar, o que levou negro, novo cidadão livre à condição de mendigos (principalmente os idosos), favelados, excluídos...Porém a maioria da população brasileira é de negros e mestiços. Mas a elite branca que comungava, através das correntes teóricas apresenta-se um tipo de “medo” de conviver em um país mestiço e negro, e desejo ou busca pelo “embranquecimento” da população brasileira, assim, os empregadores davam preferência aos imigrantes europeus, fazendo com que as empresas ainda deem preferência na contratação de pessoas de pele clara, de “boa aparência”, o que faz com que os negros sejam obrigados a migrarem para os trabalhos menos valorizados, de menor status social e menor remuneração. Os fatores que influenciam para que a mulher negra, depois de 140 anos continue sendo empregadas domésticas ou sendo obrigadas a assumir subempregos retratam essa cruel realidade de déficit no status social que a discrimina nos aspectos de gênero, raça e classe . O tempo passou mas a sociedade não evoluiu pelo nesse aspecto.
No Brasil, a Carta Magna, a Constituição assume o princípio da “não discriminação racial” e a partir dela, foram criadas alguns políticas públicas em atenção ao problema da discriminação racial. Surgem organizações sociais a partir desses movimentos e inicia-se um sentimento de orgulho negro que começa a se fortalecer no país, entre a população da grande fatia negra e mestiça levantada pelos índices pesquisados. Surgem, assim os movimentos afros para fazer valer os direitos constitucionais do cidadão e cidadã negros e mestiços. Nomes como do de Abdias Nascimento se transformam como ícones de luta pela identidade negra... A negritude brasileira toma corpo e se fortalece.. Mas, ainda há muito para conquistar, pois é no dia-a-dia que se depara com a discriminação e exclusão de negros/negras, seja essa velada ou não. Há muita coisa a ser feita ainda para minimizar os efeitos, por exemplo, da má distribuição de rendas, da violência contra mulheres e jovens negros física e/ou simbólica.
Assim, segundo as leituras que realizei no desenrolar desta unidade, ou por minha própria experiência como mulher negra que endosso as estatísticas de discriminação, não basta lutar por dias melhores, mudar a concepção de sociedade é impossível, pode-se afirmar que “fazer a diferença é imprescindível”, me impor pelo meu potencial de conhecimento e formação profissional se torna fator sine qua non... Porém mudar a cultura brasileira é algo pouco provável em um curto período, pois esses preconceitos raciais se encontram enraizados no pensamento coletivo. E atores que contribuem para colocação das mulheres, principalmente, as mulheres negras nos postos de trabalho doméstico, babás, faxineiras,...diz respeito à educação brasileira, pois esta parcela da população só tem acesso (quando têm) ao ensino fundamental e médio e não conseguem ingressar no ensino superior ou técnico. Isto apesar da cotas, o que revelam, a meu ver, uma forma de discriminação velada, porque se não houvesse a discriminação, a Educação, o Ensino Superior, realmente seria de livre aceso à população pobre e negra. Mas por existir discriminação, destina-se uma cota para o negro, o indígena, como se este, tendo o suporte necessário, não fosse capaz de ingressar nela por méritos próprios, pela sua inteligência e capacidade cognoscitiva.
Portanto é preciso que o poder público invista na implantação de políticas públicas que possibilitam a inserção das mulheres negras (isso independendo da cor, mas de seu desejo de crescer em termos de conhecimento, de formação pessoal e status social e econômico) na rede de ensino superior e técnico para que possam, dessa forma, ter condições de concorrerem às vagas de empregos com boas remunerações.
Chega da idéia colonialista de que os serviços braçais destinam-se aos negros afro descendentes (com pele escura); os mulatos (birraciais). Nós mulheres ao longo do século XX mudarmos nossos rumos para este novo milênio, mudanças em relação à fecundidade, educação, mercado de trabalho e família onde nos tornamos com maior frequência chefes de família. Nós adquirimos vários direitos a custa de lutas, manifestações públicas, e algumas, a custo de suas vidas. Isso é sumariamente importante e, necessário que continue no que tange à discriminação racial. Na educação, nós mulheres apresentamos atualmente um desempenho melhor do que o dos homens, mas para galgar um patamar de igualdade em termos salariais e de status profissional, por exemplo, somos obrigadas a estudar e nos preparar muito mais que qualquer homem, e ainda há o esbarro, em alguns caso, da aparência, em que ideologicamente boa aparência significa ter cabelo lisos, pele e olhos claros (serem brancas). Em relação ao ensino superior as mulheres negras ainda são minoria em relação às mulheres brancas. Sabe-se que a inserção da mulher o mercado de trabalho se deu a partir da expansão educacional e da reestruturação desse mercado, proporcionado pela urbanização e industrialização brasileira. Esses avanços em relação ao homem negro e desvantagens a mulher negra no mercado de trabalho ainda se perpetuam e, de acordo com minha experiência como educadora, e mulher negra, para mudar esta realidade é necessária que cada um(a) de nós venhamos nos empoderar desse orgulho negro e lutar pela implantação de novas e mais eficazes políticas públicas que valorizem a igualdade entre todos, sem ignorar a diversidade, e lutem contra todo tipo de descriminação e intolerância racial.
Irene Cristina dos Santos Costa - Nina Costa,
Texto síntese de estudos realizados no Curso de Especialização em Gestão de Políticas Públicas em Gênero e Raça - GPPGR. NEAAD/UFES-ES, 2011.