Casamento em xeque

Prólogo

“A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso, cante, chore, dance, ria e viva intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos.” – (Charles Chaplin).

“Não devemos julgar a vida dos outros, porque cada um de nós sabe de sua própria dor e renúncia. Uma coisa é você ACHAR que está no caminho certo, outra é ACHAR que seu caminho é o único!” – (Paulo Coelho).

“Há um tempo certo e limitado para a gente se encantar com a vida e viver feliz, apaixonado para desfrutar tudo com toda intensidade possível, sem medo nem culpa de sentir prazer, sem causar sofrimento ou prejuízo alheio.” – (Wilson Muniz Pereira).

A manutenção de um casamento, às vezes, está apoiado em princípios religiosos, familiares, culturais e sociais mesquinhos. Mas em tudo há uma definição, uma necessidade. Obstam-se as mentes privilegiadas e as vontades mais recônditas por conta de princípios obliteradores e hipócritas.

Hoje, no facebook, uma colega por quem tenho excelsa consideração, conversava comigo e discutíamos de forma acalorada as relações homoafetivas banalizadas, anarquizadas pelo judiciário (STJ e STF). Ela e Eu concordamos em um ponto nevrálgico nas relaçãos interpessoais contemporâneas: O casamento está em xeque!

Ora, se a mulher "pula a cerca" é uma vadia e sem vergonha, mas se o homem faz isso é, no mínimo, um galã e/ou intimorato conquistador bem sucedido. Assim acredita a nossa sociedade hipócrita. Sou exceção nessa crença esconsa.

Quem busca um caso extraconjugal está fazendo uso do livre arbítrio! Ninguém tem nada com a vida alheia e quem se achar ofendido com estas palavras analise-se e encontre uma ocupação mais útil.

Estou querendo escrever sobre as uniões mais ou menos infelizes, na sua maior parte simplesmente imperfeitas, medíocres, em que os esposos são o que em geral se poderá chamar bons esposos, no sentido de que não têm censuras graves a fazer um ao outro e podem gozar de certa felicidade afetiva e material, sendo, no entanto, incapazes de subirem mais alto na escala dos valores morais.

Não escrevo agora de dificuldades de caráter, dessas que opõem momentaneamente os esposos. Estas dificuldades sempre haverão, e esposos unidos por um grande ideal podem ter atritos que de modo algum excluem um profundo gostar e, também, uma explicável vontade de "pular a cerca" à guisa de complementação de anseios.

Há casais que não se beijam mais na boca, não se abraçam, não dormem numa mesma cama, não tomam banho juntos, não se divertem unidos, depois de alguns anos de casamento... Isso é normal! No entanto, esses conviventes são felizes mesmo com essa limitação espontânea de uma paixão que não mais existe por conta de fatores intervenientes e não administrados da melhor forma.

Não nos esqueçamos que há casais que NÃO TÊM privacidade para transar na sala, na cozinha, no banheiro, onde desejarem, porque há filho (s) de maioridade, incapaz (es) de se emancipar (em) morando com o casal! Absurdo? Também acho. Há mães e pais que não podem sequer atender um telefonema, receber um amigo (a) porque o filho (a) está no pé, vigilante e extremamente inconveniente!

Afirmo e até grito para que meus diletos leitores fiquem alertas: Nossos filhos babacas, limitados, inconvenientes e dependentes (financeira e/ou emocionalmente) não crescem quando moram com os pais não menos néscios e sem atitude positiva no sentido de mostrar aos filhos o momento certo de bater asas e ganhar o mundo. (Não é esse o meu caso - Felizmente!).

O perfeito acordo entre dois seres humanos, especialmente entre um homem e uma mulher, em todos os pormenores da vida quotidiana, não pode produzir-se espontaneamente, e já vimos que cada um dos esposos deve aceitar que o seu cônjuge seja imperfeito. Ninguém é perfeito!

Creio que o segredo da coexistência longa e pacífica entre os casais está no aprendizado sem trégua dos conviventes. Aprender a conviver com os defeitos é bem mais difícil do que sorrir pela felicidade do excesso de virtudes quase sempre dissimuladas.

Um dos esposos pode gostar de se deitar tarde, e o outro de se deitar cedo; um pode ter mais necessidade de sono do que o outro; um não gosta de tomar banho acompanhado, e o outro (é o meu caso) adora ter suas costas esfregadas pelos seios e mãos da mulher amada… Cada um deve ter em consideração o outro, os seus gostos, o seu caráter, as suas necessidades, as suas limitações.

À primeira vista, parece que os esposos infelizes se encontram com mais frequência entre as mulheres do que entre os homens. E, sem dúvida, as desordens violentas são mais frequentes entre os homens.

Tampouco faltam mulheres insuportáveis que desgastam a vida do marido, por vezes com um ciúme doentio; e há maridos a quem custa entrar em casa, com receio das cenas de que já estão fartos, sem querer ouvir perguntas tolas – “onde você estava?” – ou ver atitudes extremadas (esposa neurótica procurando pistas nos bolsos, cheirando camisa, etc.). Nisso, como em tudo, quando se trata de união conjugal, a variedade dos casos práticos e sandices outras são quase infinitas.

O refrão: “Que sejam felizes para sempre!” é um engodo inominável. Por quê? Perguntariam os meus notabilíssimos leitores. Respondo sem receio de errar:

O ideal do matrimônio é, portanto, que toda a vida seja uma vida a dois. Mas, neste caso, a vida a dois fica reduzida a uma vida material. O contato entre os esposos não passa de um caso mais ou menos superficial; o laço que os une, um laço surreal de felicidade e de rotina; permanece solitário o que há de mais profundo na alma, pelo menos naquele que tem em si alguma coisa de profundo, que tem uma vida interior e aspira a uma comunhão de desejos.

Falta uma união íntima. Cumplicidade e reciprocidade enfraquecidas não mantém um casal solidário. Sem esse respeito mútuo aos valores e costumes individuais a vida íntima terá de prescindir da união conjugal e continuar eivada de fingimentos, solitária com todos os sofrimentos e amarguras que uma derrota causa.

Cava-se uma separação moral entre os esposos e essa dicotomia latente nos seres humanos explode em uma catarse pondo em xeque um casamento outrora festejado. E esse sentimento de alívio ao se trazerem à consciência sentimentos, traumas etc. que estavam reprimidos é o produto final de um casamento em xeque.

Sobre as diferenças de personalidade Leo Trese escreveu:

“Pode-se atribuir a culpa da maioria dos casamentos infelizes ao velho adágio: "O amor é cego". Infelizmente, o amor, ou melhor, a atração física, é um grande olho fechado e um grande teorizante.

"Eu sei que ele bebe um pouco (na verdade, o noivo passa a metade da vida bêbado), mas tudo se deve à sua timidez; quando nos casarmos, isso passará". Creia. Não muda!

"Reconheço que ela é um tanto mandona, mas é uma garotinha tão doce que nem se repara nisso; e de qualquer maneira, quando nos casarmos, serei eu quem terá a última palavra". Será? Não creio.

"Às vezes, zanga-se por qualquer coisinha, e parece que estamos sempre discutindo: mas, coitado, é que ele está nervoso e tenso. O casamento o fará mudar". Infeliz engano!

"Meu Deus, que mulher tão ciumenta! Mal posso beijar a minha própria irmã! Mas aposto que se comporta assim porque tem medo de perder-me. Quando nos casarmos, mudará de maneira de ser". Acredite. Será bem pior.

Não. Não muda! Todos nós temos ouvido exclamações desse gênero. Isso acontece, às vezes, porque o desejo físico faz adormecer a razão.

CONCLUSÃO

É verdade. Os casamentos estão em xeque! Contudo, mesmo entre a grande multidão dos casais normalmente felizes, produzem-se momentos de tensão que resultam da falsa idéia de que o outro cônjuge pode mudar a sua personalidade a uma simples ordem da nossa parte.

Um ingrediente importante na felicidade conjugal é a boa vontade necessária para marido e mulher se aceitarem um ao outro "tal como são". O casal perfeito é um fenômeno raro.

Serão quase inevitáveis as diferenças de personalidade e os antagonismos temperamentais. O importante é acomodar-se a essas diferenças, em vez de esperar que desapareçam.

"Tu tens as tuas faltas, e eu as minhas. Aceitemo-nos tal como somos. Reparemos unicamente no que há de bom em nós para que, sob o olhar de Deus, o nosso casamento e o nosso lar conheçam a verdadeira felicidade".

"Com esta filosofia simples, mas infalível, pode-se edificar dia-a-dia a felicidade conjugal. Benditos os filhos que cheguem a um lar onde tenham assento a paz e a caridade.” – (Extraído do livro: Não vos preocupeis, de Leo Trese).