A torre de Babel
A TORRE DE BABEL
O episódio da chamada “torre de Babel” faz parte daquele conjunto literário que encontramos na “parte mitológica” (Gn 1–11) da Bíblia. Quando éramos crianças, nos acostumamos a ver, nos livros de História Sagrada, maravilhados, as imagens dessa torre, como um grande cilindro de tijolos unidos com piche, que jogava fumaça para o alto e tocava as nuvens, com enormes escadas (uma novidade naquela época) que envolviam o prédio pelo lado de fora, dando ao edifício um aspecto majestoso e de mistério.
O fato é que depois que terminou o dilúvio, Deus deu ordens para que aquele resto de humanidade que fora preservado pela figura da arca de Noé, se espalhasse pelo mundo conhecido, povoando-o como em um novo processo de domínio e colonização da terra. Sem ter sido sensibilizado pela oferta de Deus, que proveu a salvação daquele grupo, as pessoas resolveram, quem sabe repetindo os erros e pecados de Sodoma e Gomorra, desobederem ao Criador, vivendo conforme sua maneira de pensar e entregues às paixões.
Indignado com este fato, Deus resolve “descer” para confundir a língua deles (v. 7). Se em Ex 3,8 ele decide descer para defender seu povo contra as injustiças do faraó, aqui ele empreende uma atitude de punição contra a pretensão do orgulho dos construtores infiéis.
A partir deste episódio, Babel passa a ser sinônimo de confusão ou desordem, embora, em seu sentido literal a palavra derive do acádico bab-ili (porta de Deus). As línguas confundidas em Babel só seriam harmonizadas em Pentecostes (cf. At 2) e na consumação da história humana (cf. Ap 21-22). O que foi confundido em Babel seria restaurado pelo Espírito Santo, no tempo do cristianismo, na instauração do mistério da Igreja.
Há tempos eu andei por Brasília. Lá, olhando aquelas belas obras de arquitetura, pude contemplar a suntuosidade do prédio do Congresso Nacional. Sem querer acabei por me lembrar da Torre de Babel. Qual a pedagogia teológica que o autor sagrado quer passar aos seus futuros leitores sobre o mito da torre de Babel? O que ele quis/quer dizer é que a torre enfeixa uma idéia de reducionismo sociopolítico, deixando clara uma atitude de não-participação, aliada a uma falta de abertura ao projeto divino. O que fica, como lição, da história da grande torre?
 o pecado de Babel continua sendo cometido todos os dias;
 aquelas atitudes eram/são contrárias do plano de Deus;
 havia/há a imposição radical de uma uniformidade, sem
chances de adoção de outras alternativas;
 é pecado construir, não para o bem-comum, mas por
vaidade;
 a síntese da opressão moderna está nas “grandes torres”
(bancos, empresas públicas, corporações, empreiteiras,
tribunais, ministérios, poderes da República, etc.) onde não
há justiça nem decência.
O autor é Filósofo, Escritor e Doutor em Teologia Moral
Este artigo foi publivado no Jornal Zero Hora, de Porto Alegre, em outubro/2011.