BELA BELÉM QUE TE QUEREMOS BEM
Sérgio Martins Pandolfo*
Belém é uma cidade bela. Bela não, linda, faceira, brejeira, charmosa, que encanta e cativa quem nela habita ou a visita. Sua riqueza patrimonial a põe, sem ponta de dúvida, entre as de maior expressão ou representatividade. Bastaria, para simplificar a tarefa de apontá-las, referenciá-la com as obras de Landi (e são dezenas), as de Lemos e aqueloutras erigidas ao tempo da chamada “Belle Époque”, para alçá-la ao patamar das mais bem fornidas e aquinhoadas, com um centro histórico cujas qualidades, presentes em alto grau, o tornam destacado entre os seus congêneres nacionais. Não és cidade dos sonhos, és um sonho de cidade.
Entrementes, entre mentes iluminadas que forjaram tamanha beleza e harmonia, também vicejaram e mal agiram aquelas vazias, conturbadas, deformadas por patologias mil que, ao revés, só planejam e arquitetam malfeituras, ruindades, desmazelos. Por isso que, quando estamos a pouco de completar 400 anos de existência, iniciada como a atalaia do Norte do primevo grotão parauara, temos que começar a prepará-la para a festividade de gala, cepilhando rudezas, aqui e ali, a fim de tê-la novamente opulenta e majestosa à feita do evento.
Cremos que três mazelas mais gritantes a reclamar a ação dos poderes públicos impressionam hoje aos aqui viventes e aos aqui chegantes, impondo imediata correção:
1- A irregularidade das calçadas, em verdadeiro desatino estrutural, desiguais, desconformes, quebradas, mal conservadas ou mesmo ausentes em muitos trechos, com diferentes alturas ou inclinações, compostas por materiais os mais díspares possíveis (cimento, pedras portuguesas, pedras de lioz primitivas ou regularizadas a posteriori, mosaicos, blockrets), bueiros sem tampa, o que se constitui em verdadeiro suplício para quem caminha sobre elas, em especial as mulheres com seus saltos altos e finos, que têm que fazer prodígios de acrobacia para galgá-las e para os mal providos da visão ou de todo invisuais que correm mesmo perigo de acidentes graves e até de morte.
2- O triste espetáculo das mangueiras em Y ou em forquilha, que tomaram essa forma em virtude da “poda” predatória, nefasta dos funcionários da Celpa - que nem mucura a tomar conta do poleiro das caipiras poedeiras -, preocupados somente com resguardar os fios elétricos da rede da galharia das plantas jovens cortam-lhes o grelo, impedindo-as de crescer para o alto ensejando com que brotos laterais se encorpem e insinuem para cada lado da linha de fios. Mais: por nenhum apego sentimental à bela cobertura vegetal que o “velho” Lemos nos legou e precisamos manter, não removem as ervas de passarinho ou outros parasitas que ocupam a parte mais alta da ramagem e que acabam por levá-las à morte. Num passado não tão alonjado nossas mangueiras eram tratadas com o devido carinho e respeito que merecem, recebendo poda correta e remoção dos organismos nefandos, deixando apenas aqueles não mortíferos e assaz embelezadores, as orquídeas, de variedade impressionante, milhares delas espalhadas a locé pelas copas a engalanar nossos túneis verdes. Dizia-se, ao tempo, ser esse serviço prestimoso e indispensável de conservação, feito por presidiários do São José, que chegavam em velhos caminhões e/ou carroças puxadas a burro, portando apenas cordas e facões para o meritório labor. Nada das telescópicas ou “magíricas”escadas de hoje.
3- A praga infernal das pichações emporcalhantes, poluidoras, agressivas e reveladoras, pelo nada dizer ou significar, das mentes de quem as concebe e executa. Conhecemos praticamente todo o Brasil e uma boa porção deste “rotundo Globo”, mas não nos lembramos, sinceramente, de ter visto em algum lugar, daqui ou de fora, outra cidade tão emporcalhada com essa desgraceira, que inclusive inibe ou desestimula os proprietários dos imóveis a recompô-los ou requalificá-los, pois sabem que já no dia seguinte outro alesado rebento de marafona, impelido pela deformação mental, virá, na calada da noite, para nova e ruinosa “façanha”.
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*Médico e escritor. www.sergiopandolfo.com
Sérgio Martins Pandolfo*
Belém é uma cidade bela. Bela não, linda, faceira, brejeira, charmosa, que encanta e cativa quem nela habita ou a visita. Sua riqueza patrimonial a põe, sem ponta de dúvida, entre as de maior expressão ou representatividade. Bastaria, para simplificar a tarefa de apontá-las, referenciá-la com as obras de Landi (e são dezenas), as de Lemos e aqueloutras erigidas ao tempo da chamada “Belle Époque”, para alçá-la ao patamar das mais bem fornidas e aquinhoadas, com um centro histórico cujas qualidades, presentes em alto grau, o tornam destacado entre os seus congêneres nacionais. Não és cidade dos sonhos, és um sonho de cidade.
Entrementes, entre mentes iluminadas que forjaram tamanha beleza e harmonia, também vicejaram e mal agiram aquelas vazias, conturbadas, deformadas por patologias mil que, ao revés, só planejam e arquitetam malfeituras, ruindades, desmazelos. Por isso que, quando estamos a pouco de completar 400 anos de existência, iniciada como a atalaia do Norte do primevo grotão parauara, temos que começar a prepará-la para a festividade de gala, cepilhando rudezas, aqui e ali, a fim de tê-la novamente opulenta e majestosa à feita do evento.
Cremos que três mazelas mais gritantes a reclamar a ação dos poderes públicos impressionam hoje aos aqui viventes e aos aqui chegantes, impondo imediata correção:
1- A irregularidade das calçadas, em verdadeiro desatino estrutural, desiguais, desconformes, quebradas, mal conservadas ou mesmo ausentes em muitos trechos, com diferentes alturas ou inclinações, compostas por materiais os mais díspares possíveis (cimento, pedras portuguesas, pedras de lioz primitivas ou regularizadas a posteriori, mosaicos, blockrets), bueiros sem tampa, o que se constitui em verdadeiro suplício para quem caminha sobre elas, em especial as mulheres com seus saltos altos e finos, que têm que fazer prodígios de acrobacia para galgá-las e para os mal providos da visão ou de todo invisuais que correm mesmo perigo de acidentes graves e até de morte.
2- O triste espetáculo das mangueiras em Y ou em forquilha, que tomaram essa forma em virtude da “poda” predatória, nefasta dos funcionários da Celpa - que nem mucura a tomar conta do poleiro das caipiras poedeiras -, preocupados somente com resguardar os fios elétricos da rede da galharia das plantas jovens cortam-lhes o grelo, impedindo-as de crescer para o alto ensejando com que brotos laterais se encorpem e insinuem para cada lado da linha de fios. Mais: por nenhum apego sentimental à bela cobertura vegetal que o “velho” Lemos nos legou e precisamos manter, não removem as ervas de passarinho ou outros parasitas que ocupam a parte mais alta da ramagem e que acabam por levá-las à morte. Num passado não tão alonjado nossas mangueiras eram tratadas com o devido carinho e respeito que merecem, recebendo poda correta e remoção dos organismos nefandos, deixando apenas aqueles não mortíferos e assaz embelezadores, as orquídeas, de variedade impressionante, milhares delas espalhadas a locé pelas copas a engalanar nossos túneis verdes. Dizia-se, ao tempo, ser esse serviço prestimoso e indispensável de conservação, feito por presidiários do São José, que chegavam em velhos caminhões e/ou carroças puxadas a burro, portando apenas cordas e facões para o meritório labor. Nada das telescópicas ou “magíricas”escadas de hoje.
3- A praga infernal das pichações emporcalhantes, poluidoras, agressivas e reveladoras, pelo nada dizer ou significar, das mentes de quem as concebe e executa. Conhecemos praticamente todo o Brasil e uma boa porção deste “rotundo Globo”, mas não nos lembramos, sinceramente, de ter visto em algum lugar, daqui ou de fora, outra cidade tão emporcalhada com essa desgraceira, que inclusive inibe ou desestimula os proprietários dos imóveis a recompô-los ou requalificá-los, pois sabem que já no dia seguinte outro alesado rebento de marafona, impelido pela deformação mental, virá, na calada da noite, para nova e ruinosa “façanha”.
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*Médico e escritor. www.sergiopandolfo.com