A Ponte Estaiada
Quando você passa pela Linha Vermelha, em direção à Ilha do Governador, lá está ela: a primeira ponte estaiada do Rio. Obra belíssima, em final de construção. Sua estrutura sugerindo leveza, na transposição de um extenso vão central, com um único pilar de apoio. Toda a fração maior da sustentação a cargo de cabos atirantados. Um efeito estético agradável, na composição com as linhas suaves da estrutura. Se em São Paulo existe uma, porque não uma no Rio também?
Com custo estimado em R$ 4 milhões, ela liga a Cidade Universitária, na Ilha do Fundão, à Linha Vermelha, na altura do Canal do Cunha. Uma segunda alternativa para quem se dirige da Ilha do Governador ao centro da cidade. São 780 metros de extensão, sendo 180 de vão central. Alega-se que a opção por esse tipo de construção deveu-se à grande extensão a ser vencida para a transposição do canal.
Segundo autoridades, “a ponte vai ajudar a desafogar o trânsito na Ilha do Fundão”. Acreditam também que poderão ser beneficiados os motoristas que, vindos do Fundão, procuram um acesso rápido à Linha Vermelha (LV).
Só que na LV eles irão se deparar com o engarrafamento provocado pelos veículos provenientes de Caxias, localidades ao longo da Via Dutra, da Washington Luís, de cidades como São Paulo, Petrópolis, Teresópolis, etc. Sem falar dos carros oriundos dos bairros do Rio para os quais a LV costuma ser a melhor (?) opção para o acesso ao centro.
Do que se pode inferir, infelizmente, que a obra de muito pouco adiantará. A não ser o efeito estético, sobretudo para quem chega ao Rio pelo Galeão, de um equipamento de que ainda não dispúnhamos aqui. O que é muito pouco diante das necessidades e benefícios a que os cariocas têm direito.
Não seria melhor investir no transporte marítimo, na ligação da Ilha do Governador (e do Fundão) ao centro do Rio, através de modernos catamarãs? Na verdade a ligação da Ilha ao centro por mar já existe. Só que precisa ser otimizada e oferecida à população pela mídia, bem como por mecanismos públicos de divulgação, como uma alternativa para que o cidadão perceba a necessidade de deixar seu carro em casa.
Essa é a questão crucial do transporte no Rio. Depois de terem praticamente sucateado a malha ferroviária, ao longo da preferência pelo modal rodoviário, estabelecida no país lá pelos idos de 58, será errado dizer que nossos carros precisam ficar em casa para que as ruas fiquem desentupidas? Já que não podemos contar, tanto quanto já pudemos, com o transporte sobre trilhos, o verdadeiro transporte de massa?
Todo mundo sabe disso. Notadamente os políticos. Porque, muitas vezes com a cobertura de recursos públicos, puderam ver como se realiza o transporte na França, na Itália, na Espanha, nos EUA. Será que não sabem então o que é melhor para o público? Se não sabem, por que não dizemos a eles?
Rio, 23/10/2011