TER ALGUÉM.
Por Carlos Sena
Por Carlos Sena
TER O OUTRO, talvez seja o que mais motiva as pessoas a buscarem ser feliz. A nossa cultura estimula desde cedo que a gente tem que ser de alguém e desse alguém ser igualmente possuidor. Nesse passa/repassa, as ilusões são construídas, os tipos de pessoas são construídos mentalmente. Uma série de instrumentos culturais como musica, teatro, etc. servem para consolidar essa forma equivocada de se definir o afeto, o amor de alguém por nós e nosso por ele. A música ALMA GÊMEA de Fábio Jr dá um pouco desse tom. O livro de Shakespeare ROMEU E JULIETA virou filme e teatro, em função dessa lógica do ter alguém. Como se não bastasse TER alguém, há um complemento: pra vida toda. No linguajar usual nordestino, há frases que também sintetizam isto: “fulano é a tampa da minha laranja”; “é panela e testo”; “cara-metade”, etc.
A gente vai crescendo e, de repente, se encontra com a mesma construção legitimada em nós. Naturalmente comandamos para o nosso consciente e inconsciente, nossos modelos ou tipos de pessoas que buscamos para ser feliz. Nesse contexto, homem e mulher desenvolvem expectativas diferenciadas: a fidelidade, por exemplo. Em tese espera-se que a mulher seja mais fiel ao homem do que ele a mulher. Contudo, há aspectos importantes comuns aos dois: o senso estético, a excitação, o desejo. A cultura não nos permite verbalizar, por exemplo, diante de um homem bonito, que a mulher diga ao ser namorido que aquele cara é gostoso. Gostoso tem que ser ele, posto que um é do outro, pelo menos no usual teórico. Contudo, sabemos que todo mundo que está vivo tem vontade, senso estético e desejo. Se não fosse assim não haveria traição. Esta, na maioria das vezes acontece dentro das relações que foram constituídas no viés da “ALMA GÊMEA, CARA METADE”, etc. O mesmo caldo cultural que sustenta a lógica do TER ALGUÉM PRA TODA VIDA, da mesma forma legitima, às avessas, a traição. Como se diz por aqui no meu nordeste, a conhecida GAIA, PONTA, CHIFRE. Então se pode constituir uma série de incursões nesse universo avesso ao do TER ALGUÉM, que pode muito bem nos colocar, enquanto gente, na berlinda da afetividade.
Ficamos imaginando na possibilidade de rompimento com esse “status quo”. Afinal, tudo indica que nós humanos, não nascemos para a monogamia. Contudo, o medo do futuro, da velhice, nos conduz para essa lógica do “até que a morte nos separe” tão bem ditas pelo padre na hora do casamento. Há pessoas que, quando jovens “aprontam” tudo que podem e que não podem. Chifram, até levam doença para casa, mas quando velhos, voltam cordeirinhos. Surpresa: boa parte das mulheres aceita. Há controvérsias, mas é essa a regra geral das relações. Esse já mencionado caldo cultural é, de fato, quem fica no meio de todo o nosso processo de vida afetiva. Não são poucas as pessoas que, em função disto, passam a vida toda constituindo ilusões acerca de um grande amor que nunca vem, mas as sustenta via sonhos de um dia TER ALGUÉM pra sempre.
No nosso modelo de sociedade, a mulher é quem sofre mais. Dela se esperam sempre que fique ali, esperando seu maridinho. A sociedade, de alguma maneira, entende que HOMEM é HOMEM, bem no cumprimento do nosso modelo machista. Por outro lado, há uma canção de Caetano (salvo engano) – DOM DE ILUDIR que mostra as “artimanhas” da mulher para iludir o homem e ele fique pensando que ela continua sendo sua. “Como é que a mulher vai viver sem mentir (...)”. Como se intui, trais e coçar é mesmo só começar. Mas não creio que seja privilégio só dos homens, nem só das mulheres, mas dos dois e em suas mais diversas denominações modernosas como: homem x homem, homem x mulher, mulher x mulher, etc.
Certamente que esse assunto carece de mais estudos sistemáticos. Há bem mais variáveis em função desses comportamentos sociais tão cristalizados em nossa sociedade machista que, por ser machista, desenvolve, como conseqüência o falso moralismo. É no falso moralismo que se institui a gaia, o chifre, independente de se TER ALGUÉM. Firmam-se condutas meio que calcadas em cima da natureza do homem, não da humana propriamente dita. O homem pode está amando de corpo e alma, mas ele acha que está na sua natureza, por exemplo, não deixar um rabo de saia se oferecer a ele e ele “não comer”... O danado é que a mulher faz a mesma coisa, só mudando a forma, como se pode imaginar.
Talvez, exercitando um pouco da imaginação sociológica, não seria o caso de um dia o homem inverter esse processo? Algo como legitimar a gaia, para que a monogamia se estabeleça? Talvez o certo fosse TODOS SEREM DE TODOS. Assim, ter alguém se tornaria clandestino e, desta forma, a falsa moral seria estabelecida como modelo... Mas como tudo isto fica no terreno do talvez, a gente deixa induzir para o campo da imaginação sociológica do humor.
Finalmente, TER ALGUÉM é complicado porque ninguém é de ninguém. Fica difícil imaginar alguém “pra sempre” quando nem a vida é pra sempre. Não fica aqui nenhuma ODE a falta de fidelidade. Acho que se pode sim ser fiel a alguém, mas tem um custo. Competirá a cada um saber se pode e deve pagar por ele.
A gente vai crescendo e, de repente, se encontra com a mesma construção legitimada em nós. Naturalmente comandamos para o nosso consciente e inconsciente, nossos modelos ou tipos de pessoas que buscamos para ser feliz. Nesse contexto, homem e mulher desenvolvem expectativas diferenciadas: a fidelidade, por exemplo. Em tese espera-se que a mulher seja mais fiel ao homem do que ele a mulher. Contudo, há aspectos importantes comuns aos dois: o senso estético, a excitação, o desejo. A cultura não nos permite verbalizar, por exemplo, diante de um homem bonito, que a mulher diga ao ser namorido que aquele cara é gostoso. Gostoso tem que ser ele, posto que um é do outro, pelo menos no usual teórico. Contudo, sabemos que todo mundo que está vivo tem vontade, senso estético e desejo. Se não fosse assim não haveria traição. Esta, na maioria das vezes acontece dentro das relações que foram constituídas no viés da “ALMA GÊMEA, CARA METADE”, etc. O mesmo caldo cultural que sustenta a lógica do TER ALGUÉM PRA TODA VIDA, da mesma forma legitima, às avessas, a traição. Como se diz por aqui no meu nordeste, a conhecida GAIA, PONTA, CHIFRE. Então se pode constituir uma série de incursões nesse universo avesso ao do TER ALGUÉM, que pode muito bem nos colocar, enquanto gente, na berlinda da afetividade.
Ficamos imaginando na possibilidade de rompimento com esse “status quo”. Afinal, tudo indica que nós humanos, não nascemos para a monogamia. Contudo, o medo do futuro, da velhice, nos conduz para essa lógica do “até que a morte nos separe” tão bem ditas pelo padre na hora do casamento. Há pessoas que, quando jovens “aprontam” tudo que podem e que não podem. Chifram, até levam doença para casa, mas quando velhos, voltam cordeirinhos. Surpresa: boa parte das mulheres aceita. Há controvérsias, mas é essa a regra geral das relações. Esse já mencionado caldo cultural é, de fato, quem fica no meio de todo o nosso processo de vida afetiva. Não são poucas as pessoas que, em função disto, passam a vida toda constituindo ilusões acerca de um grande amor que nunca vem, mas as sustenta via sonhos de um dia TER ALGUÉM pra sempre.
No nosso modelo de sociedade, a mulher é quem sofre mais. Dela se esperam sempre que fique ali, esperando seu maridinho. A sociedade, de alguma maneira, entende que HOMEM é HOMEM, bem no cumprimento do nosso modelo machista. Por outro lado, há uma canção de Caetano (salvo engano) – DOM DE ILUDIR que mostra as “artimanhas” da mulher para iludir o homem e ele fique pensando que ela continua sendo sua. “Como é que a mulher vai viver sem mentir (...)”. Como se intui, trais e coçar é mesmo só começar. Mas não creio que seja privilégio só dos homens, nem só das mulheres, mas dos dois e em suas mais diversas denominações modernosas como: homem x homem, homem x mulher, mulher x mulher, etc.
Certamente que esse assunto carece de mais estudos sistemáticos. Há bem mais variáveis em função desses comportamentos sociais tão cristalizados em nossa sociedade machista que, por ser machista, desenvolve, como conseqüência o falso moralismo. É no falso moralismo que se institui a gaia, o chifre, independente de se TER ALGUÉM. Firmam-se condutas meio que calcadas em cima da natureza do homem, não da humana propriamente dita. O homem pode está amando de corpo e alma, mas ele acha que está na sua natureza, por exemplo, não deixar um rabo de saia se oferecer a ele e ele “não comer”... O danado é que a mulher faz a mesma coisa, só mudando a forma, como se pode imaginar.
Talvez, exercitando um pouco da imaginação sociológica, não seria o caso de um dia o homem inverter esse processo? Algo como legitimar a gaia, para que a monogamia se estabeleça? Talvez o certo fosse TODOS SEREM DE TODOS. Assim, ter alguém se tornaria clandestino e, desta forma, a falsa moral seria estabelecida como modelo... Mas como tudo isto fica no terreno do talvez, a gente deixa induzir para o campo da imaginação sociológica do humor.
Finalmente, TER ALGUÉM é complicado porque ninguém é de ninguém. Fica difícil imaginar alguém “pra sempre” quando nem a vida é pra sempre. Não fica aqui nenhuma ODE a falta de fidelidade. Acho que se pode sim ser fiel a alguém, mas tem um custo. Competirá a cada um saber se pode e deve pagar por ele.