Corpo Humanidade, doente, pede socorro.
Uma porção de células: a definição de um ser vivo qualquer. Uma porção de células com cérebro, coração, espírito, sentimentos, ambições e egoísmo: a definição de mais da metade da população. Uma porção de células com cérebro, coração, espírito, sentimentos e silencio: a definição de boa parte da outra metade. Uma porção de células com cérebro, coração, espírito e sentimentos: a definição de um ser humano.
Somos formados de DNA quase idêntico. Mesmo assim, insistimos em encontrar e martirizar diferenças que nem se quer existem ou as que só existem para deixar o mundo mais interessante.
Diferenças entre brancos e negros, por exemplo, não existem. O que existe é o racismo, que define cores da pele como se isso importasse mais do que seu espírito, seu sentimento, seu coração, sua própria humanidade. Diferenças entre pobres e ricos não existem. o que existe é a distância entre eles, causada pela injustiça, que classifica as pessoas por ordem de posses de bens mal distribuídos. A diferença entre homo e heterossexuais está na sua opção, o que não faz de nenhum deles mais ou menos humano do que os outros. A diferença entre judeus, islâmicos, cristãos, evangélicos, budistas está só na maneira de acreditar em Deus ou em seus deuses e em servi-los. A diferença entre americanos e africano, brasileiros e argentinos, chineses e japoneses é apenas seu lugar de origem.
Nada disso importa mais do que o fato de se ter um espírito, de ter sentimentos, de estar vivo, de ser humano, embora muitos digam ao contrário.
Ora, há algum tempo, lutávamos para libertar os negros que foram injustamente escravizados, deixa-los livres para terem suas próprias vidas. Até sangue foi derramado – e muito – para termos essa conquista, mas libertamos os negros da escravidão. Ou talvez não.
Em outra época, pegávamos em armas para lutar contra o nazifacismo, que tinha por função eliminar negros, judeus, homossexuais e outros que “sujassem” o mundo com sua existência, conforme os pensamentos de Hitler. Mais sangue, e novamente somos vencedores: livramos inocentes de injustiças. Ou não.
Cada vez que uma palavra pejorativa é desferida a uma pessoa por conta de sua raça, opção sexual, religião, nacionalidade ou classe social, estamos lhe impondo uma prisão psicológica, quase tão dura quanto os sofrimentos dos escravos ou das vítimas da Segunda Guerra Mundial.
O que nos leva a isso? Será que, como Hitler, o que queremos é um mundo “puro”, sem nenhuma diferença, tudo igualzinho? O que nos torna mais digno, mais forte, mais soberano? A cor de nossa pele? O que nos dá o direito de ferir física ou moralmente uma pessoa? Nossa opção sexual?
O que seríamos de nós sem as diferenças? E se as plantas, os animais, o céu, o sol, as roupas, as casa, os cabelos, os seres humanos, fossem todos idênticos? E se comêssemos a mesma comida todos os dias. E se fizéssemos as mesmas coisas, se os resultados dos jogos fossem sempre iguais, se a vida de todo mundo durasse o mesmo tempo, se todo mundo nascesse sabendo as mesmas coisas, se nunca tivesse nada mais a ser aprendidos? O que seria da vida? Que graça ela teria?
O mundo só é colorido porque cada pessoa tem sua cor preferida. O mundo só tem conhecimento infinito porque cada um sabe um pouquinho. O mundo só evolui porque cada trabalhador exerce sua função.
Pode ser comparada a um corpo, onde cada pessoa é uma parte dele, seja membro, órgão, célula, mas cada um tem um papel diferente a realizar. O corpo só funciona se todas as suas partes estiverem unidas, organizadas e funcionando bem. Se uma dessas partes para, o corpo fica doente e sofre.
É por isso que o corpo da Humanidade está danificado, doente. Precisamos medicá-lo com grandes doses de Solidariedade para curá-lo de infecções causadas pelas bactérias do Ódio, da Ambição e do Egoísmo.