AMOR, ESTRANHO AMOR?

Já é sabido que o Supremo Tribunal Federal (STF) fez o que era preciso. Os casais homoafetivos são tão reconhecidos quanto heterossexuais em relação aos direitos de vínculo. Herança por morte do parceiro, acesso a plano de saúde e até pensão alimentícia tornaram-se benefícios legais de parceiros de mesmo sexo. O amor sempre foi para todos. E agora, a justiça está feita.

E que a comunidade LGBT seja feliz! Todas as passeatas do orgulho gay, reivindicações, petições e afins foram recompensadas. Poderia ser o início de uma nova era na sociedade brasileira, finalmente despida de preconceitos arcaicos e embasada em uma falsa fé, a mesma fé que enriqueceu empresas enrustidas de sagradas. Uma nova mentalidade surgiria.

Poderia, surgiria. Há um bom motivo para que apenas o futuro do pretérito seja usado. As coisas não são tão simples assim. O tradicionalismo e os dogmas da nossa sociedade são esmagadores: de acordo com jornais como Gazeta do Povo e Gazeta Online, 55% dos brasileiros são contrários à união homossexual. Tal fato é de um retrocesso inconcebível em um país que gosta de se intitular “do futuro” ou “acolhedor”. Creio que tanta homofobia deva estar ancorada no machismo, muito forte no Brasil. O meu assunto é o homossexualismo, mas o que dizer de pais que exigem a filha casada para que ela não fique “falada”? Ou então, que um filho tenha um currículo sexual vasto apenas para que um pai se orgulhe de seu garanhão? São as mesmas famílias que rejeitam filhos gays. Que atacam a homofobia vizinha, somente com o intuito de enrustir a sua. Às vezes, sinto-me de volta à Idade Medieval em um Brasil de século XXI. Parem para pensar e vejam se não estou certo.

Contudo, a jurássica ignorância tupiniquim não para no aspecto social. Ela ganha contornos religiosos. Nos já citados jornais, 77% dos evangélicos/protestantes são contrários ao casamento gay. E não é difícil entender o porquê. “É coisa do demônio”, afirmam uns, talvez satanistas no armário. “A Bíblia condena”, vociferam os profetas chauvinistas. Aliás, nunca o Livro Sagrado tornou-se tão útil quanto para atacar os homossexuais! Já até decorei a citação dos crentes fascistas. “E Deus fez o homem para a mulher” ou qualquer coisa do tipo. Se bem que é algo complicado acreditar nessa bobagem toda. Afinal, as testemunhas de Jeová não fazem transfusão sanguínea porque “não se deve beber o sangue de um irmão”. Quanto cabresto, Deus do céu!

Continuem atacando gratuitamente os homossexuais, tanto ratos de igreja quanto chefes de família frustrados. Eles só querem o que é deles. Além disso, desejam paz. Aliás, a mesma paz corroída por tanto orgulho e preconceito (parece até Jane Austen).

O autor do artigo sente atração física unicamente pelo sexo oposto. Mesmo assim, não entendo como ofensas gratuitas a um grupo ajudam a reforçar uma suposta heterossexualidade. Pondero que o preconceito, independentemente de seu alvo, é a marca mais pronunciada de uma sociedade moralmente atrasada.

Andre Mengo
Enviado por Andre Mengo em 14/09/2011
Reeditado em 15/09/2011
Código do texto: T3219954
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