Um amigo importante

Para Jesus

*

Tenho um amigo importante. Mas ele não é importante por saber preservar o valor da amizade, já que muitos que consideramos “amigos importantes” deram bons exemplos de inimizades, quando descobrimos que muitos a quem damos parte de nossas vidas nunca a mereceram. Talvez mereçam agora, mas a verdade sobre a amizade deles ou sua vocação vampiresca deverá ser descoberta por outros, que mostrarão a amizade deles tolerando-os nas convivências necessárias a descobertas sobre quem, de fato, eles são, ou na disposição de procurar mudá-los para melhor naquilo que têm de pior - tarefa árdua e, muitas vezes, impossível.

Mas esse meu amigo é mesmo muito importante, e por eu saber também o valor da amizade e, mais, do peso da responsabilidade sobre certas consciências, me isento de ser um dos que fazem coro pra dizer um pouco do que ele tem de bom ou, perversamente, me atrever a dizer muito de seu “mau caráter”.

Sendo assim, não posso dizer o nome desse meu amigo pra poder dizer que, sem que talvez ele próprio saiba quão grande é seu poder, é um desses poucos representantes da Justiça suprema sobre este mundo em seus últimos primeiros dias - embora infelizmente ele não esteja entre os do Supremo Tribunal.

Mas o nome dele não é "Jesus", como talvez tenham pensado alguns até aqui - já que dediquei o texto àquele mestre. Não posso negar importante mencionar a importância dos dizeres de Jesus em minha formação familiar primeira, o que o tornou meu amigo invisível até anos atrás. Mas Jesus terminou por exigir de mim mais do que sou capaz de dar. Não posso amar meu inimigo, por exemplo, pensando que, com meu amor por ele, ele possa se sentir finalmente influenciado por mim a mudar e, aos poucos, ser também meu amigo – o que significa me ter por mim respeito, admiração e dedicar cuidados.

Dessa forma, não posso ser autêntico cristão quando, ainda a pouco, tive outra vez raiva daquele que pensei ser meu amigo. Tive raiva dele em espírito e, portanto, em Verdade; pequei em essência, e o problema é que tenho feito muito isso de uns tempos pra cá.

O que é importante para amenizar minha remanescente culpa cristã é que há alguns anos aprendi que todos pecaram e pecam; o tempo inteiro. E que, portanto, não preciso me sentir mais desgraçado do que qualquer um, o que é um alívio. E mesmo que me lembre sempre dos ditos de meu pai que, em suas considerações fundamentais sobre como participar da criação de um mundo melhor, me alertou para o fato de que “um erro não justifica outro”.

Sem que talvez meu importante amigo saiba ainda quão grande é seu poder, então, apesar de certos ignorantes dizerem ter passado os feitos de homens “diretamente inspirados por Deus” – ou melhor dizendo, expirados por Ele a representar na Terra Suas melhores partes humanas – meu amigo é um desses poucos bons representantes da Justiça suprema sobre este mundo.

Para os que nunca foram ou se tornaram não crentes das promessas cristãs, tal personagem não pode passar de ser senão um mito, uma utopia, uma impossibilidade. Contudo, de fato, temos mais poder do que imaginamos. Para descobrir isso, é só de alguma forma ter sido escolhido, ter um pouco mais de imaginação, boa vontade e algum poder de realização.

Como tem aquele meu amigo importante.