A CULPA É DO BANDIDO

De repente se descobre que o irmão é bandido, de repente aquela pessoa com quem se conviveu tantos anos, torna-se um criminoso, e então não tem mais nenhum valor.

O termo “bandido” tem o poder de tirar a vida de um ser vivo. Cria-se um “zumbi”, um morto-vivo no meio social. O bandido é aquele que vai falar e ninguém vai ouvir pois é bandido. È aquele que vai tentar ser, mas sua identidade já está pré-definida.

È uma contradição a falácia de que o Código Penal tem objetivo de reinserir o sujeito no meio social, na verdade o que se tem na sociedade atual, tanto em função do Código Penal, quanto da mídia em geral é uma tormentosa estigmatização das pessoas que cometem qualquer forma de infração.

Cometer uma infração penal tornou-se critério para que alguém seja classificado como “bandido”.

Este termo por sua vez, tem um poder de destruição quase genocida. Quando se classifica um irmão como “bandido”, como têm feito com tanta freqüência os programas de televisão, tem-se que em uma só pessoa resumem-se todas as mazelas do ser humano.

O traficante que vende drogas é por excelência - nos critérios da mídia atual, um bandido, e quando se classifica alguém como bandido, resumem-se naquela pessoa todas as falhas, defeitos e problemas do ser humano. Ele está ali classificado como bandido, não tem recuperação não tem chances, não tem direito a nada.

O termo “bandido” na forma como é utilizado nos dias de hoje, mata o sujeito tacitamente. Ele é excluído do corpo social. Torna-se um problema, uma doença, um câncer do qual todos se querem ver livres.

È triste.

O sujeito “bandido” vive numa sociedade que vai negar sua existência. Será uma alma penada andando pelo meio sem nem sequer ser notado.

O “bandido” é alguém que é simplesmente bandido. Este ser não tem personalidade, perfil, gostos, nada, a não ser o desejo criminoso de prejudicar os demais. Ele é uma escória, algo que atrapalha a nossa comunidade alegre e feliz, vivendo em sua superficialidade.

Ser classificado- estigmatizado como “bandido” é como a sentença de morte, em que o sujeito não faz mais parte da sociedade, que se torna a cada mais elitista e excludente. Ninguém tem piedade, ou consideração pelo “bandido”, tudo que acontece de ruim com ele é merecido, “é pouco”, afnal de contas: bandido tem que morrer mesmo. Este é o pensamento atual.

O perfil do bandido, em geral , é aquele que engloba jovem negro, de classe baixa, que comete alguma infração penal.

Após ser classificado como bandido, o sujeito deixa de existir. Na verdade, a responsabilidade pelas mazelas sociais será a ele conferida.

È lamentável.

Numa sociedade corrupta, hipócrita e elitista, o teatro da guerra entre policia e ladrão passa a impressão de que nisto se resumem todas as mazelas sociais do país.

E não faltam apoiadores para dizer: “ a pena de morte vai resolver”, que é preciso punir bandidos, e que tudo gira em torno dos punição dos “bandidos” para que possamos ter uma sociedade melhor.

Não se fala do abismo social proveniente da super concentração de renda, da falha estrutural da educação que tem o modelo colonizador, e que em nada auxilia o jovem que busca uma carreira digna. Não se fala na farra com o dinheiro público que ocorre em todas as esferas do governo. Não se fala nas necessidades dos irmãos menos favorecidos.

O que se tem é um Estado punidor. O cidadão conhece o Estado vendo diariamente a policia fazendo guerra contra os traficantes, mas não vê um assistente social, um agente do governo, ou alguém que lhe queira oferecer a mão. O que o cidadão vê é somente ameaças e condenações, e nunca oportunidades.

Então quem é o “bandido”? Seria ele um bode expiatório para carregar todas as nossas culpas como sociedade, que não consegue se desenvolver no mínimo necessário e não quer trazer para si a responsabilidade pelo bem estar dos seus cidadãos?

Vivemos numa sociedade que não aceita diferenças, e cuja a forma de trabalhar com as deficiências do outro é simplesmente excluindo-o do meio.

Se o cidadão não tem emprego ou não tem uma forma de trabalho, ou mesmo uma cultura suficiente para se auto determinar, precisando de uma ajuda do Estado, o que este Estado tem feito é simplesmente eliminá-lo, taxando-o como bandido e o problema está resolvido.

"Lugar de bandido é na cadeia". "Bandido bom é bandido morto" dentre outras soluções dos “pensadores” de plantão.

O homem não é bom nem mal. O ser-humano está em evolução. Somos santos e pecadores. Esta ideologia que se difunde por ai de que o ser humano é do bem ou do mal, é bandido ou mocinho, é uma farsa e nos distancia a cada dia mais do próximo, reduzindo-o a uma mera classificação superficial.

E o verdadeiro bandido, onde esta?

Isaias João
Enviado por Isaias João em 08/09/2011
Reeditado em 09/09/2011
Código do texto: T3207725
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