Vale a pena correr tanto? É assim mesmo que as coisas têm de ser? Afinal, por que corremos tanto? A meu ver são dois os motivos; o primeiro é que de tanto lidarmos com as máquinas que inconscientemente nos julgamos lentos demais e nos deixamos mecanizar quando deveríamos humanizar a máquina. São cada vez mais aplaudidas e objeto de admiração as máquinas que fazem as coisas com maior rapidez. O que não percebemos é que a velocidade imposta à máquina acaba sendo imposta a nós mesmos. E cresce o número daquelas pessoas que repetem como num refrão: quando eu tiver tempo, quando eu puder, quando eu tiver um pouco de sossego irei tirar férias, irei com meu filho a uma pescaria, irei plantar no quintal um canteiro de alfaces, irei criar abelhas na chácara, irei montar uma oficininha para pequenos reparos nos móveis ou no carro. Pensamos no hipotético lazer e abdicamos dele porque é preciso acompanhar o ritmo das máquinas. O outro motivo dessa correria desenfreada visa um só objetivo: o dinheiro. Seja o nosso dinheiro, ou o do nosso patrão, ou o do sistema ao qual estamos atrelados. Mas sempre o dinheiro. Porque estando nós condicionados a ele para sobreviver, nem pensamos em outra possibilidade que não seja a de obedecer docilmente à velocidade da esteira rolante que nos arrasta e sacode pelos caminhos da vida. Sim, verdadeira escada rolante. Somos parte da máquina. Já não somos criadores dela. É ela quem manda em nós.
Este mundo mecanizado tem lugar para o lazer? Melhor: o que considera como lazer? Milhões acreditam no sexo como forma de lazer. A garotada desde muito cedo aprende a fazer do prazer a meta principal. Isso é um engodo que cresce na medida em que se divulgam as doutrinas freudianas, que considero discutíveis, pois induzem à crença de que a vida deve estar a serviço do sexo, em lugar de entender que o sexo é que está a serviço da vida. E este sofisma vai mais longe ao estabelecer que não é sensato alguém se unir a quem não conhece, colocando aí a premissa de que só se conhece realmente alguém quando se faz sexo genital com essa pessoa. E a moda pegou!
Esqueceram-se de que a vida vive-se em pé e não deitado.