Bloco de Notas, Lápis e uma Luzinha escassa
Já se sentiu enclausurado? Já sentiu o gosto desgostoso da claustofobia?
Fato ocorrido:
Diariamente sinto as paredes estreitarem-se, aparentemente o tempo passa e elas aproximam-se por mais 1 metro, as lâmpadas já explodiram, o escuro é horripilante, os sussuros são amedrontadores, já não sei distinguir como são as vozes, os sussuros não me deixam escutar nada além de gritos e mais gritos. Só tenho um bloco de notas e um lápis,evito afinar sua ponta esfregando na parede, tenho medo de perde-lo, escrevo na frente e na costa da folha do bloco de notas, uma luzinha quase impercepitivel ajuda-me, escrevo sobre tudo o que penso e meus amigos me ouvem, apesar de não falarem nada, eles me ouvem. Ontem escrevi o quanto eu sinto saudade dos dias frios no campinho de futebol, ao lado de várias outras crianças, correndo na lama, subindo na árvore, colhendo manga para comer e atirar nos outros, os dias ajudando meu pai na pescaria, os banhos na maré, maré que me trouxe e nunca veio me buscar, maré que me deu frutos e hoje me dá lixos, não sei como vim parar aqui, já não sei que dia é hoje, as horas estão perdidas, apenas a escuridão, apenas a escuridão.
Não tenho ideia de quando sairei daqui, talvez com o fim da arrogância Hitletista eu consiga pelo menos viver os últimos dias de minha vida na cidadezinha natal, se é que ela ainda exista. Vou correr com as crianças, subir nos pés de manga e pescar, pescar e pescar. Viver independete de governos burocráticos que só roubam, roubaram e roubarão.
Enfim, esse é só mais um sonho escrito nas últimas folhas do bloco de notas, a parede já está a alguns centímetros mais perto de mim, não sei quando morrerei, mas sei que morrerei, talvez o segundo plano, seja uma segunda chance de viver.