Capitães da Real
O menino de rua não é um problema, mas sim, um componente das construções sociais contemporaneas. Se a sociedade não fosse tão desigual, talvez não teria necessidade dessas crianças se arriscarem mundo afora, se independendo precocemente dos pais. O que acontece é que em casa esses marginais são agredidos verbo e fisicamente, e dadas as circunstancias miseráveis da família, num ato de rebeldia e coragem, partem em busca de liberdade. Mas a vida real é cruel para eles. A sociedade os ve como ratos de esgoto e são tratados como lixo pelas autoridades.
Jorge Amado, em seu romance "Capitães da Areia", no cenário de Salvador do início do sec. XX e protagonizado por um grupo de meninos de rua, fez nada menos que uma crítica, muito bem ironicamente elaborada, as estruturas da sociedade moderna e capitalista brasileira. Uma sociedade que não se preocupava com o futuro de suas crianças.
Na época em que o romance se passa até os anos 1980, um verdadeiro "exército de pequenos miseráveis" assolava as ruas de nossas capitais. Foi a partir dos anos 90 que começaram a surgir orgãos que se preocupavam realmente em melhorar as condições deles. Em Belo Horizonte, por exemplo, o NACC ( Núcleo de Atividades Culturais e Capacitações) trabalhava para a inclusão destes "capitães da real" na sociedade por meio de oficinas artísticas e programas culturais como teatro, dança e cinema; atitudes diferentes da FEBEM (Fundação para o Bem-Estar do Menor) que de bem-estar não tinha nada, era um verdadeiro inferno para eles e muitas vezes tratava-os como criminosos. Que bom que acabou. Mas na verdade só mudou de nome, Fundação Casa. Ah, pelo horror do demonio! Se querem saber de reeducação, vão ler relatos sobre os gulags e textos do Homer Lane e A.S. Neill! Apesar de serem abordagens diferentes, ambas são construtivas. Infelizmente a NACC fechou, por problemas estruturais, em 1996.
Hoje em dia, estima-se que haja menos de 600 crianças vivendo nas ruas de BH. Além desses, há um número muito maior, que cabe aquelas que trabalham e mendigam nas ruas. Em Belo Horizonte, no ano de 2005, foi realizada uma pesquisa que encontrou 1,2 mil meninos e meninas de rua com até 18 anos, sendo que, 99% tinham família e 70% recebia benefícios do governo. Os pais os exploram com a alegação que a "bolsa-quadrilha" é insuficente, o que forma uma verdadeira máfia de pais contra filhos. Ou seja, o bolsa-família só serve para fustigar o crime!
Enquanto não houver mudanças estruturais na sociedade, como a socialização dos meios de produção, que afinal pode formar uma porcaria(burocracia) parasitária que se alimenta da ditadura de Napoleão(Stalin) da "Revolução dos Bichos", fazendo tudo o que a lei não permitia para o resto dos animais, transformando numa verdadeira criminalização dos meios de produção, o mundo não vai andar. E enquanto o mundo não anda, eu pego o bonde.