Ao Mestre com Carinho
AO MESTRE COM CARINHO
Um negro magro e luzidio, porte ereto, passo leve e seguro, de majestática altivez no semblante tranqüilo adentra a sala de aula para o seu primeiro dia como professor da turma do primeiro período do Curso de Ciências da Religião da Universidade Estadual de Montes Claros – MG -Unimontes, em 2009.
Era o professor WAWAY KIMBANDA.
O sotaque já indicava ser um estrangeiro, fato confirmado pelo mesmo ao anunciar, com orgulho, a sua pátria de origem, o Congo. Tal orgulho, franco, autêntico e sem esnobismo jamais disfarçou o seu encantamento pelo Brasil e por este duro e quente chão norte-mineiro e sua preciosa gente.
A primeira aula já nos quedou embevecidos tornando-o, eterna e definitivamente responsável por aqueles que cativou.
Oh, doce e frutífero cativeiro!
Jamais, nos meus 60 anos de vida, vi alguém com tamanha maestria no ensinar, como o vi em Waway. E, olha que já tive excelentes mestres na vida, desde os tempos do Seminário Premonstratense até chegar à Unimontes que merece reverência pela qualidade dos professores que passaram pela nossa sala nos cinco períodos que ali estudei até o primeiro semestre deste ano, no curso de Ciências da Religião.
Mas, o Waway tinha algo diferente: ele apresentava uma disposição, uma vontade, uma determinação em esclarecer todos os pontos de determinada questão, fazendo o aluno navegar por entre nuances imprevisíveis até que a reflexão exalasse o último suspiro em busca pelo saber em plenitude. Parecia querer e acreditava ser possível termos o mundo em nossas mãos através do conhecimento. Despido de qualquer arrogância ou ensimesmamento tão comum a tantos pseudo-intelectuais permitia que o conhecimento jorrasse de si e nos provocava a abrir a fonte inesgotável das experiências e visões pessoais, de forma a resultar no saudável e enriquecedor usufruto comunitário.
Como era exímio em ensinar o respeito à diversidade e como exercia esse respeito! Como era arguto na crítica ponderada e no elogio justo! Deixava brilhar o seu lado criança sentando-se no chão da sala, matava a saudade de sua terra querida e de sua cultura tocando instrumentos sagrados da família, dançando e cantando seus cantos religiosos ou folclóricos quando transmudava-se-lhe o rosto e os olhos pareciam alongar-se até o distante torrão natal e até seus entes queridos.
Somente, agora, percebo a urgência que ele tinha de ensinar, o motivo de alongar suas aulas sem que nenhum de nós arredasse o pé do lugar, receosos de perder a oportunidade de sorver de seus lábios e gestos a profunda sabedoria humana de que era possuidor.
De repente, adoece e se afasta por um tempo, longo tempo para todos, retorna, adoece novamente e, então, se vai para sempre.
Que pena que se foi tão logo!
Que bom que nos legou tanto de si, tanto de bom, tanto de tão bom!
Que dor lancinante, Waway!
Que saudade, MESTRE DA VIDA!
Autor:
João Batista Gomes Maia
Ex-aluno do Curso Ciências da Religião
Universidade Estadual de Montes Claros – Minas Gerais – Brasil
Agosto/2011