sobre a corrupção
Hoje li dois artigos interessantes sobre a corrupção em nosso país. Um no blog de André Barcinski - "só a bandalheira nos une" (http://andrebarcinski.folha.blog.uol.com.br/arch2011-08-01_2011-08-31.html#2011_08-15_10_14_53-147808734-0) e o outro de Dora Kramer - "inversão de valor" (http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,inversao-de-valor,759063,0.htm).
Essa leitura me trouxe à mente um fato ocorrido comigo, anos atrás, em uma empresa em que eu trabalhava.
Lá havia uma Associação Desportiva. Essa Associação era mantida com as contribuições mensais de seus associados, trabalhadores da empresa e pela administração de uma espécie de lanchonete dentro da empresa, onde eram vendidos sucos, refrigerantes e lanches diversos. A diretoria dessa Associação era composta por empregados e havia também um Conselho Fiscal.
A lanchonete era responsabilidade de um empregado da oficina, na função de diretor comercial. Uma de suas atividades era comprar caixas de bolacha de um atacadista e revendê-la aos empregados da empresa.
Certa ocasião surgiu um boato que essa pessoa estava desviando algumas caixas de bolacha em proveito próprio. Algo como de cada cinco compradas uma ele levava para casa. Pode não parecer nada à primeira vista, mas uma aritmética simples pode ilustrar melhor o valor do desvio - 1 em 5, 2 em 10, 20 em 100, ou seja, ele desviava 20% do faturamento!
Eu mais dois amigos resolvemos ir a fundo nos boatos e descobrimos tratar-se de fato. Arrolamos provas e fizemos uma denúncia formal ao Conselho Fiscal.
Quando o assunto tornou-se público, sabem o que aconteceu?
A venda de bolachas foi proibida na lanchonete, porém,
O distinto continuou no cargo de diretor comercial, tendo sido até reeleito na mandato seguinte.
Eu e meus dois amigos fomos chamados para uma conversa a portas fechadas com nossos respectivos chefes e gentilmente lembrados que deveríamos deixar o assunto prá lá, pois qualquer nova investida nossa poderia ser interpretada como disturbio das relações de ambiência no trabalho.
Fomos tachados de dedo-duro por nossos colegas, pois havíamos "entregado" um colega de trabalho.
No final percebemos que ninguém estava interessado em saber que estava sendo roubado, pois roubar parece fazer parte do nosso dia-a-dia.
Agora, ser dedo-duro. Ah, aí já é demais.
Felizmento, pouco meses depois tive a oportunidade de encontrar um emprego melhor e saí dessa empresa.
Não que isso signifique que outras coisas piores não aconteceram.
Parece que aceitamos e queremos participar dos esquemas do "levar vantagem a todo custo", do "eu também quero meu pedaço desse bolo".
Como bem colocou o sr. Barcinski em seu artigo, "Será que o povo estaria disposto a abrir mão de gatos de TV a cabo, ligações ilegais de eletricidade e caixinhas?"