Eu e Jozildo Dias
Conheci Jozildo quando era adolescente. Trabalhávamos juntos num jornaleco alternativo, ali, na Avenida Trincheiras, dirigido por um membro da família Cartaxo. Éramos então desenhistas, ilustradores, cartunistas. Dávamos-nos bem até quando, anos depois, participante de uma daquelas Paixões de Cristo em Art-door, Jozildo teve seu outdoor censurado por não ter atendido as especificações do regulamento da exposição, cuja intenção era ceder outdoor's para que artistas plásticos se expressassem sobre o tema da Paixão de Cristo; a despeito de que, atendendo o direito de livre expressar-se, o artista multimídia Pedro Osmar tenha pintado seu outdoor todo de preto, o que gerou muitas interpretações sobre o que pretendera dizer.
Para compor toda a série dos outdoor’s disponíveis, então, os artistas convidados a participar do projeto, entre eles, eu, foram também convidados a fazer uma pintura coletiva utilizando o outdoor de Jozildo, já que ele se recusara a refazer outro.
Na ocasião, participando da empreitada coletiva, durante minha visita aos outdoor’s recém instalados na Lagoa, passando por Jozildo – que, em protesto, até onde o alcançara, tinha acabado de depredá-lo – ao cumprimentá-lo ainda amigavelmente, fui chamado de “cabra safado” por ele por minha participação na feitura de “seu” outdoor, tendo ele passado uns cinco anos sem me dirigir a palavra.
Noutra ocasião, quando reatamos conversas, ele questionou o valor de minhas críticas publicadas em jornais a certos estados de coisas dizendo que eu tinha a mania de apontar os problemas, mas nunca soluções (definitivas, como compreendo deve ser a natureza das soluções), sem que tivesse adiantado muito tentar lhe explicar porque não posso apontar soluções para certos problemas quando a única que vejo é a promoção (impossível) de certas conscientizações (humanistas, cidadãs) por parte de nossos educadores, e que, portanto...
Mas aqui não vou entrar em detalhes sobre isso; aqui, vou apenas me defender da acusação de “calúnia” que me foi feita por Jozildo Dias, por tê-lo apontado um dos defensores da retirada do nome de meu pai da galeria da FUNESC. E mesmo que também não possa provar que Jozildo, uma vez, me chamou de “cabra safado” por tê-lo “traído” durante nossa participação numa produção coletiva.
Não sou de inventar fatos com o único intuito de criar polêmicas, como fazem fofoqueiros e certos jornalistas. Em relação à Jozildo, depois que fiz a arte do convite para uma de suas exposições, faz alguns anos que não o vejo. Porém, quando aquele meu amigo engenheiro soube o que disse pelo rádio certo comentarista sobre o valor do nome de meu pai a referendar a galeria da FUNESC, me lembrei – porque não poderia esquecer – do que havia me dito Jozildo Dias certa vez sobre o assunto.
Fora o fato de que Jozildo tenha feito aquele infeliz comentário sobre meu pai e de ter enveredado por experiências tardias com o Abstracionismo, nada tenho contra ele. Agora, pensando melhor – embora tenha providencialmente esquecido certas coisas – com seu senso crítico e seu desejo de fazer desenvolverem-se corretas informações sobre nossa produção cultural, talvez também Jozildo Dias possa apresentar projeto de coleta de informações sobre a curta e significativa vida de Archidy Picado.
A cultura paraibana agradece.