A LEI DA FELICIDADE

Parece brincadeira, mas não é. A ONU que imagina criar resoluções que mudam o mundo, resolveu incluir em sua pauta de prioridades mundiais a "felicidade", se não bastasse a "oportuna" intervenção da entidade em nossas vidas, políticos brasileiros já estudam a possibilidade da inclusão de mais esse item em nossa constituição, poxa até que enfim seremos felizes, já não era sem tempo de alguém se importar com nosso bem estar, só ainda não ficou bem definido os limites individuais dessa felicidade, se ela vai até aonde eu sinta êxtase, ou se a sua pode atropelar a minha, também não foi decidido exatamente o que é "felicidade legal", sim por que, para que todos sejam felizes teremos leis aparentemente muito rígidas a seguir já que para minha mãe ser assistida pelo SUS eu não posso berrar na frente dos hospitais sob pena de perturbar a felicidade do médico que não foi trabalhar porque resolveu ir a praia, na verdade minha mãe não deveria nem adoecer sob pena de gastar mais do que ganha com medicação, assim atrapalhando a felicidade de nós, os filhos, que teríamos que desembolsar uma ajuda que há muito estava guardada para aquelas férias que nunca vieram, mas que com essa nova resolução seria possível, qual a solução? Acho que teria que remover minha mãe do caminho, afinal ela já começaria a atrapalhar a felicidade de muita gente e isso seria inconstitucional.

Assim como ela, muitas outras coisas que notadamente interferem para a conquista da felicidade geral teriam que ser extirpados, como por exemplo, os miseráveis, os débeis, os sacerdotes, os ambientalistas, os hospitais, logicamente por que não faria sentido manter um lugar que hoje é sinônimo de sofrimento, também desapareceriam as penitenciárias, afinal nada precisaria ser roubado, já que todos ofertariam as sobras de bom grado, as armas, os políticos... não eles não...mas o que é que eu estou dizendo, se a felicidade dos políticos é justamente a penúria do povo, não seria admissível que uma lei criada por eles, os extinguissem, deve haver algum subterfúgio no novo código que os proteja... é deve haver, isso é uma pena por que eu já estava até planejando alijar da minha vida tudo o que me atravanca existência, pra que eu fosse feliz. Retiraria os impostos, o colesterol, as contas, os pleitos eleitorais e os pronunciamentos prolixos. Não precisaria mais dos remédios, dos noticiários nem dos times da terceira divisão.

Parece hilário realmente, estamos falando afinal da única forma de felicidade que pode estar contida nas leis humanas, aquela que emana dos bens e dos direitos, e que na verdade não precisaria de leis adicionais para sua promoção se a preocupação com a elevação do nível de vida fosse levada a contento. Não faz sentido você imaginar que alguém que te suga até a última gota de vida, pode vir a se importar com sua subsistência digna.

Outras leis bem mais antigas tratam desse tema e não passam em nenhum momento por propriedades ou posições. Quando você vê o resultado de um trabalho dando seus frutos, quando sentimos o abraço agradecido de alguém a quem nunca vimos, quando se chega em casa depois de uma batalha diária encontramos uma família reunida e harmoniosa, quando sorrimos ante a dificuldade com a certeza de sua dissolução, quando acreditamos na vida que se renova, no sorriso do bebê, na mão estendida, entendemos que seria impossível traduzir essa emoção em parágrafos e incisos sem vida, com cheiro de ranço e cores pálidas.

De alguma forma nossos representantes políticos demonstram preocupação com a felicidade do povo, já que escolheram o tema para fazer piada e assim tornarem nossas vidas mais felizes. Enquanto não chega a revolução, só nos resta rir de tudo isso.

Anderson Du Valle
Enviado por Anderson Du Valle em 04/08/2011
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