Cinismo, a Filosofia dos Cães

1. Contexto Histórico

O Cinismo é uma corrente filosófica surgida na época helenística, como consequência do pensamente socrático, em que houve a separação da ética e da política, com a descoberta do homem como indivíduo e o ideal cosmopolita, substancialmente¹.

2. Antístenes, o fundador

Seu fundador teórico foi o filósofo Antístenes, que viveu entre os séculos V e VII a.C.. Discípulo de Sócrates, destacou em seu pensamento a capacidade de bastar a si mesmo, a absoluta independência das coisas(propriedade e dinheiro) e dos outros (fama e glória), com um ideal de autarquia.

Assim, sua lógica se baseia em juízos tautológicos, pois só se pode afirmar cada coisa com o nome que lhe é dado ( por exemplo, o homem é homem, o cínico é cínico, o lendário é lendário...).

Antístenes considerava o prazer um mal, chegando a afirmar que “se pudesse ter Afrodite entre as mãos, eu lhe daria uma flechada”.

Na ética, verifica-se um esforço contínuo do homem em combater os prazeres, desligar-se de riquezas materiais e da comodidade, renunciar à fama e opor-se às leis da cidade, orientando-se apenas pela lei da virtude.

3. Diógenes, o filósofo do barril

O símbolo dessa corrente foi filósofo Diógenes de Sinope, contemporâneo de Alexandre, o Grande, e discípulo de Antístenes. Diógenes levou até às últimas consequências os ensinamentos de seu mestre.

O filósofo caminhava em plena luz do dia com sua lanterna e gritava a todos sua mais famosa frase: “procuro o homem”, mas o homem que vive sua mais autêntica essência e, desse modo, consegue alcançar a felicidade. Isto não é tarefa fácil, pois necessita-se do esforço em delimitar somente as exigências de sua natureza, tudo o mais são futilidades, as quais acabam atrapalhando a visão do que é essencial. Por isso, autodefiniu-se como “cão” e vivia tal como um, sem moradia fixa, sem conforto, sem pudor. Chegou a morar num barril, o que o consagrou como o “filósofo do barril”.

Em um episódio, Diógenes foi convidado por um homem rico a entrar em sua suntuosa residência, sob o aviso de não escarrar no piso limpo. Diante disso, o filósofo escarrou-lhe na cara, explicando-lhe que não havia encontrado lugar mais sujo em toda a respeitosa casa.

O episódio mais famoso que ilustra perfeitamente a atitude cínica envolveu Diógenes e o homem mais poderoso da época, Alexandre, o Grande. Este, pediu que o filósofo o acompanhasse e lhe ensinasse tudo o que sabia em troca de qualquer coisa que quisesse. Todavia, o filósofo respondeu-lhe “afasta-te do meu sol”, porque era a única coisa que o imperador não podia lhe dar.

4. Crítica ao Cinismo

Muitos criticam essa corrente filosófica, sobretudo pelo exagerado anarquismo, que não deixava nada a salvo, nem propunha valores alternativos positivos ou mesmo complexas construções metafísicas, como Platão.

Os antigos já reconheciam o cinismo como o “breve caminho para a virtude”. Mas, os críticos dizem que não há caminhos breves na filosofia.

Em contrapartida, pode-se questionar os críticos, como um cínico, que é um erro tentar erigir sistemas morais sobre o frágil terreno humano. Aliás, foram edificadas megalópoles e seus imensos arranha-céus. Portanto, é melhor não ter casa nenhuma. O problema são os vizinhos, a cidade, os outros, a cultura, que não permitem o modo de vida cínica.

Outrossim, há uma perigosa armadilha quando se faz uma pergunta, duvida-se de uma certa ideia e busca-se “novos” pensamentos. É nesta última etapa que se deve ter o maior cuidado, pelo fato de que ao se destruir um pensamento, este pode ser substituído por um outro ainda mais tolo. Por consequência, a resposta está na negação, na dúvida suscitada pelas perguntas. Toda resposta é um erro, sobretudo as prontas, sem falar nas complexas.

5. Conclusão

Este foi um breve estudo que procurou apontar as características básicas da corrente filosófica cínica, de maneira simples e direta, com ampla abertura para a discussão e reflexão.

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¹ O cinismo antecipa os ideais dos anos 70, quanto ao desprezo aos bens materiais e ao moralismo e pela visão cosmopolita, em que cada homem é um cidadão do mundo. Também antecipa ideias do movimento punk, como a radical anarquia e o desprezo pela cultura.

Cephas
Enviado por Cephas em 29/07/2011
Código do texto: T3127414
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