O NIILISMO E O INDIVÍDUO HUPÉRMORES

O NIILISMO E O INDIVÍDUO HUPÉRMORES

Percebemos um mundo sem compromisso aos interesses comuns entre os seus indivíduos. O sujeito da sociedade busca para si mesmo todos os resultados de seus esforços, com raras exceções, enquanto está sob as regras morais que por natureza ética, o mova a cumpri-las, em parte, por força da lei que o rege e lhe salvaguarda. O ser social perde gradativamente, a crença na força do seu destino, que lhe impõe a missão de servir, acreditando, que a vida deva ser resultado de seu esforço a beneficio próprio. Para ele, é mais fácil acreditar que o valor está no que a si interessa e nunca no que ao outro serve. Pensam com isso, que o melhor das coisas está na escolha que o indivíduo faz, sendo isto, mais valioso do que o certo que ele deva adotar. É claro, que a desordem familiar tem gerado indivíduos sem compromissos a lei. Não interessam para eles regras contrarias as suas regras e, tais regras contrárias, devem ser substituídas como resposta a nova ordem moral. Chamo estes indivíduos de hupérmores (indivíduo de moral superior a qualquer outra). Como já citei num outro escrito, “A Política e o Continuísmo Contemplativo”, defino o termo hupérmores a partir da união de duas palavras; da grega hupér, que significa ‘acima de alguma coisa’, ‘elevado sobre’; e mores, do latim, que significa ‘costumes’. Com isso digo que o indivíduo da sociedade em sua moral é hupérmores, por ser movido pela assimilação social isolada do outro em suas regras e gosto sobre o outro. Sendo assim, o indivíduo da sociedade em sua moral é isolado de algum tipo de debate com outro individuo, quanto a formulação de algum tipo de regras de conduta. Este indivíduo zela apenas pelos seus interesses, e por vezes, promove o bem ao grupo social do qual faz parte, desde que este grupo corresponda aos seus interesses. São indivíduos que quebram as tradições sem substituição das regras por outras semelhantes, pois fazem juízo de que não valem o suficiente para a nova moral. Acredito que isto indica que estamos vivendo uma forma de niilismo. O niilismo como conceito filosófico, diz sobre a desvalorização ou perca do sentido das coisas. Nele, os valores tradicionais perdem a razão em sua finalidade e aplicação, exaurindo-se dos princípios absolutos das verdades em seus valores, e dos valores como verdade das respostas com regras para a vida. Mas, como o indivíduo na sociedade precisa de sentidos a vida; de esperar em suas esperanças; de acreditar nas suas ideologias; de construir o mundo do absoluto em sua realidade finita; e de sentir o imaginário em suas crenças. Surgi essa nova forma niilistica que inibe o valor as verdades da tradição, e cria uma idéia própria de regras sem valor duradouro à moral, já que são apenas de serventia aos interesses de bem estar do estado atual em que vivem. Vivemos e experimentamos a vida. É importante dizer que, a subjetividade não importa ao que de fato impede a razão, mas pela razão amputa o impedimento da ficção do mundo dos desejos. A subjetividade é um algo natural na criatura pensante, pois, esperar, idealizar, sentir e imaginar, caracteriza o indivíduo pensante, e não lhe faz mal, desde que ele saiba equilibrar estes elementos a sua busca por novas experiências. Estas buscas não deveriam desprezar as experiências anteriores de uso a construção da sua realidade de vida, por serem depósitos de valores para medição do que é certo ou errado a própria vida. O indivíduo em sociedade é um acumulo de experiências a construção do conhecimento, que envolve no saber das coisas a descoberta de mais regras para a vida. Essas regras são como se fossem degraus de uma escada. Quando subimos uma escada sabemos que algo nos sustenta. São os degraus que superamos que continuam lá, sustentando-nos sobre o nada. Não estamos no nada, mas sobre o nada pelos degraus que nos sustentam e não nos deixam desmoronar. Sem a base, sem os degraus passados, cairemos. Assim são com as regras em suas tradições passadas. A sociedade é resultado da cultura de seu povo. As novas regras devem ter como base as leis que lhe fundam. Sem fundamento moral uma cultura tende a desmoronar. A nova forma niilistica imerge os indivíduos hupérmores da sociedade numa nova moral de interesse próprio que lhe salvaguarda do outro. Essa nova moral se diz vazia em sua sustentação, por não encontrar no passado um algo satisfatório ao gosto de seus indivíduos morais; e se diz vazia em sua armação, por não encontrar no presente um algo que lhe faça continuar em seu controle. Sendo assim, é possível que se aproxime o dia, em que teremos indivíduos que não encontrarão sentido algum na vida a dois, e por isso, farão do seu isolamento um caminho exclusivo de gosto e prazer ao seu próprio bem estar. Eles, ainda que sejam da sociedade, não serão para o outro que vive em sociedade. Fatalmente desapareceremos como indivíduos sociais. Seremos de fato um nada, como um nada se acredita que seja.

Ricardo Davis Duarte

Pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil

Professor de Filosofia do ISES – Salgueiro.