O VELHO DESEJO NAZISTA
Há coisas nesta nossa breve passagem pela terra que são inesquecíveis e a meu ver em duas circunstancias distintas elas se perpetuam em nossa mente, pela tristeza que causam e em igual proporção, pela alegria comovente.
Não sei quantas mil pessoas estavam no estádio de Dresden no ultimo domingo, para assistir EUA jogar contra o Brasil, na copa do mundo feminina de futebol, mas acredito que passassem de 50 mil, e que tranquilamente poderíamos dizer que metade eram alemães e metade americanos, com uns gatos pingados vestidos de brasileiros no meio de todos.
Aquelas vaias para as meninas morenas da seleção brasileira me remeteram à década de 30 do século passado, quando ao invés de vaias, aplausos e apupos recebiam a elite nazista nos monumentais discursos no estádio de Nuremberg, e era normal para aqueles, comemorarem o brilho nazista, com soberba e superioridade racial, a festa ariana se dava para o mundo ver e temer.
Não sou um estudioso do comportamento humano, mas eu vi na atitude dos alemães, mesclados de americanos, uma aversão travestida esportivamente para não dar-se a notar.
Não falo de uma predisposição para a discriminação, mas creio que o que está no inconsciente coletivo, aflora as vezes, fazendo ressurgir velhas e rotas bandeiras, embora vergonha tenha causado, e o passado tenha condenado, é a superioridade negada tentando uma brecha no vão da história para mostrar o seu rosto, e reafirmar que nunca se fez extinto.
Para quem leu e releu sobre a segunda guerra, viu e reviu vídeos sobre a sanha nazista, como eu, sentiu um arrepio na espinha, ao ver a movimentação no estádio de Dresden, domingo.
Reviveu os aplausos delirantes de jovens hitleristas, quando seus ídolos se revezavam em discurso inflamados exaltando a raça branca e maldizendo todas as outras apenas por existirem, e foram tão loucos e irracionais na sua afirmação que ás portas da hecatombe em 1945, nunca negaram este ideal, e trouxeram por todas as gerações até nossos dias incrustadas em suas almas estes inconfessáveis desejos de superioridade.
Talvez seja apenas impressão de minha parte, que tudo isso não exista, mas tenho minhas reservas, pois acredito que no inconsciente coletivo revivem-se os acontecimentos de Fátima, o Glorioso dia D, e mais próximos de nós a copa de 1950, perdida inapelavelmente para o Uruguai, basta meus caros que haja as condições para que isso seja revitalizado no ambiente em que teve lugar os acontecimentos, e que se encontrem ali as almas predispostas para o ato.
Vai-se da alegria a tragédia se a comoção assim direcionar os acontecimentos que estiverem ocultos na vontade dos personagens.
Para quem teve conhecimento do comportamento da cidadania Alemã nos negros tempos da segunda guerra, viu como eu aquelas manifestações de domingo passado. Poderia ser metade americana, metade alemã, mas deu pra sentir o amargo do pensamento e ver em cada bandeirinha esportiva um estandarte em homenagem a superioridade racial.
O que me credencia a ter medo de tais manifestações, é justamente o conhecimento de que 6 milhões de judeus e outras raças sucumbiram no genocídio que tinha por base a vontade de um povo em tornar realidade os sonhos de um louco chamado Adolf Hitler, que sonhou um império de mil anos para a sua ariana raça, mesmo que para isso fosse preciso a extinção de outras.
Que Dresden fique na memória como a cidade que ardia em fósforo nas noites de 1945, e que recebeu o pedido de perdão da humanidade, e que hoje, linda e recuperada da tragédia, foi apenas o templo para um acontecimento esportivo que passou.
Lembrar o que pode acontecer quando o inconsciente coletivo aflora é apenas uma maneira de preservar nossas almas das dores que podem advir em qualquer momento da humanidade.