DICOTOMIA E DIALÉTICA

Na sociedade ocidental, o pensamento dicotomista permeia os conceitos do senso comum e, por conseguinte, os posicionamentos e comportamentos naquela baseados.

O problema da dicotomia como norteador do cotidiano é que ela é falaciosa, restritiva e simplista, reduzindo os posicionamento e as argumentações a certo x errado, bom x mau, verdadeiro x falso, deus x diabo.

Isso impossibilita o diálogo entre as várias correntes possíveis do pensamento, reduzindo a argumentação à repetições de conceitos não construídos com base no pensar filosófico, mas antes repetidos à exaustão sem qualquer base argumentatória que não a original que os mantém.

Um indivíduo que se deixa governar pelo julgamento dicotômico da vida e através dele atua na sociedade é perigoso, hostil e limitado.

A vida é multifacetada, tanto quanto os caminhos percorridos pela razão e pela emoçõs humanas, que lapidam o comportamento neles baseado e que nos dizem quem somos e como nos relacionamos com as outras pessoas e com outros pontos de vistas diferentes dos nossos, mas não necessariamente errados.

A dicotomia levada como verdade absoltuta, dissociada da realidade dos fatos, sem estar aliada à crítica, à razão e ao questionamento dos conceitos incutidos nos indivíduos por grupos dominantes com interesses próprios, conduz a sociedade ao preconceito, à alienação e à subserviência, pois, a partir do momento em que se abraça um dos lados, o outro passa necessariamente a estar errado e o intercurso de informações e a troca de saberes é travada, facilitando a manipulação do indivíduo pelo poder instituído, seja ele religioso, político ou outro qualquer que esteja atuando na detenção e disseminação da "informação verdadeira".

A verdade não é subjetiva, nunca.

Aqueles que advogam a subjetividade de suas verdades, ou uma verdade que apenas o é no campo sujetivo e pretensamente inquestionável estão lançando mão de um argumento inválido, pois a subjetividade não é nem pode ser exclusividade de apenas um modo de enxergar uma questão, ainda mais quando é uma questão que toca a própria existência humana, sua origem e objetivos.

'Verdades absolutas subjetivas', se existirem, não podem ser dicotômicas, haja visto a imensidão das inúmeras possibilidades que se pode abordar e argumentar numa questão que seja, digamos, do campo metafísico.

A única verdade subjetiva é a individual, e, se é individual, não pode ser usada como argumento para validar ou invalidar as outras verdades individuais, mas deveria se restringir ao indivíduo que a defende, podendo este divulgá-la como uma opção, nunca como a única opção.

A única verdade objetiva é a verdade dos fatos.

Fatos são suportados por evidências límpidas, lógicas e facilmente corroboráveis.

Assim é que o pensar dicotômico religioso ou teísta, travestido de pensar democrático, divide os seres humanos em dois lados: os que compatirlham de uma verdade absoltua e os que estão enganados, seja por erro involuntário, seja por opção, sendo que neste último caso não há diálogo possível.

Todo ser humano que se negue a compartilhar desta visão dualista e restritiva é enquadrado como condenável, errado, ingênuo ou perdido para sempre.

As consequências funestas advindas da defesa das verdades subjetivas no mundo são verificáveis e frequentes: guerras entre verdades, assassinatos, condenação, preconceitos, desrepeito pela vida humana e soberba, entre outras.

As consequeências do pensar democrático são opostas: abertura ao diálogo, questionamento dos conceitos, construção de novas hipóteses e avaliação dos fatos de forma impessoal e desapaixonada, o que leva à ampliação da troca e a não exclusão do diferente, ao contrário, será o diferente analisado e interpretado de acordo com suas proposições e a possibilidade de novas interpretações.

Um ótimo exercício para se livrar da visão maniqueista do mundo é tentar, por alguns minutos, se colocar do lado oposto ao ponto de vista que se defende; tentar, de forma imaprcial, agir por alguns minutos como advogado da visão oposta à sua; examinar, por milésios de segundos, os próprios conceitos sob outra perspectiva.

Este exercício pode ser enriquecedor e esclaceredor e seus resultados podem provocar uma revolução interior, que pode não abalar as certezas de quem as tem, mas abrirá espaço para enxergar os opositores ideológicos de uma forma humana e solidária, a partir da experiência de se pôr no seu lugar e vivenciar as dúvidas, questionamentos e conclusões a que o outro teve acesso, por se manter aberto, nu e exposto a outros pensares além de duas únicas respostas possíveis.

Pôr-se no lugar do outro pode estimular um sentimento de identificação com o próximo, de empatia pelas suas dores e dúvidas, de solidariedade pelo seu sofrimento e anseios, de amor pela humanidade até.

O que, de acordo com a História humana antiga e recente, não acontece quando se nega a ver o outro como um igual, e sim como oponente.

Iama K
Enviado por Iama K em 07/07/2011
Reeditado em 25/09/2011
Código do texto: T3080338
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