DIFERENÇAS & IGUALDADES
Se alguém me chama de veado ficarei ofendido, se me chama de vagabundo também.
Outro dia numa discussão um sujeito me chamou de pobre, confesso que não me ofendi, poderia até me ofender por outras razões, mas não por essa. Creio que atualmente me considero um pouco pobre financeiramente, então ele me falou uma verdade temporária.
Se alguém numa discussão me chamar de magrelo eu não devo e não vou me ofender, pois sou magro mesmo.
Por essa razão que eu não acho que chamar uma pessoa de gordo, magro, preto, branquelo seja um preconceito, se de alguma forma o adjetivo tiver relação com a pessoa.
Lembro que uma vez, mas mais de 30 anos, eu estava em São Paulo, num ônibus urbano superlotado. Os vidros estavam fechados, pois estava muito frio do lado de fora, mas do lado de dentro esta abafado demais e onde deveria caber apenas umas 40 ou 50 pessoas havia mais de 100. Num determinado momento uma senhora que estava em pé abriu o vidro da parte de cima. Nesses ônibus havia dois níveis de vidros basculantes, um que atendia quem estava em pé, e outro, inferior, que atendia quem estava sentado. Como estava garoando alguns pingos caiam sobre um passageiro sentado. Esse por sua vez levantou-se e fechou o vidro, comentando que estava chovendo nele. A senhora tornou a abrir o vidro e ele tornou a fechá-lo. Tornado a abrir o vidro ela falou em tom alto e claro:: O seu branquelo quer fazer o favor de deixar esse vidro aberto!
O sujeito não era albino e nem era loiro, mas também não era negro, assim como ela.
A palavra branquelo, pronunciada pela senhora, tinha o intuito de ofender. O sujeito sentado não poderia se sentir ofendido, pois ela era realmente branco, não branco como uma folha de papel, mas era de cor de pele considerada branca.
Mesmo que ela o chamasse de “preto” ele só deveria se sentir ofendido se aquilo soasse como uma ofensa para ele.
Naquele momento presumi que se ele se ofendesse seria muita imaturidade da parte dele, uma vez que ela falou o óbvio, porém com entonação agressiva.
Recordo-me também que quanto eu era criança eu brigava com meu irmão porque ele desenhava na lousa uma bolinha bem pequenina, querendo dizer que estava me chamando de cabecinha. Eu tinha realmente a cabeça menor que a dele, então procedia o adjetivo. Eu, para me defender e ao mesmo tempo atacá-lo desenhava um nariz enorme, isso quando não o chamava verbalmente de narigão.
Ele se ofendia e queria até me bater, pois era mais velho, mas na verdade não deveria se sentir ofendido, pois ele tinha um nariz bem maior que o meu.
Assim eu aprendi que quando a gente é criança se rende e se ofende a adjetivos que dizem exatamente o que somos e muitas vezes não aceitamos.
No transito onde já cometi erros (quem não erra?), me chamaram uma vez de FDP e em outra mandaram ir TNC. Como eu já estava mais maduro não me ofendi, pois não sou um FDP e nem ia TNC.
Fico pensando que assim como é crime se dirigir a um afro descendente e chamá-lo de preto, de forma ofensiva, também era um crime o que aquela senhora fez em chamar um branco não muito branco de branco, assim como é chamar um negro não muito negro de preto.
Eu discordo de tudo que evidencia essas diferenças: Vagas para negros é uma diferenciação, Dia da Consciência Negra é uma diferenciação. Não sei se ainda existe, mas cheguei a ver em bancas uma revista chamada raça, onde só havia fotos e reportagens sobre pessoas negras, também é uma diferenciação.
Tive oportunidade de observar pessoas que não queriam de jeito nenhum que suas filhas ‘brancas’ se casassem com homens “negros”, e foi justamente o que aconteceu, para desencanto dos pais. Porém são muito felizes até hoje, talvez até mais que seriam caso aceitassem a imposição racista dos pais.
Infelizmente ainda há pessoas que realçam a diferença, além da cor, entre pessoas de peles diferentes. Mas quanto mais se realça essa diferença, seja pela mídia ou por alterações legais, tenho a impressão que faz um efeito contrário, pois quem se acha superior, com lei ou seu lei continuará se achando algo mais que o outro..
Esse é um problema cultural, pois eu realmente não vejo cores, mas sim pessoas. O Pedro é legal, a Maria é linda, o Fulano é chato, o Sicrano é desonesto. As pessoas são isso ou aquilo, no meu ponto de vista, mas independente desse negócio de cor de pele.
Para criar uma legislação rigorosa, deveria ser proibido qualquer tipo de distinção entre seres humanos, a começar por normas legais que de alguma forma realcem que há diferenças. Jamais em qualquer formulário que fosse deveria haver perguntas como cor de pelo ou raça, salvo em casos realmente necessários para identificação de doenças que possam ter relação com a cor da pele.
Apenas sou reticente com relação à escravidão, pois realmente não sei o trauma que foi gerado nas gerações seguintes e se esse trauma foi impregnado no DNA. Por mais que eu tente imaginar nunca será possível imaginar o que foi o sofrimento de um povo apenas porque tinha uma diferença na cor da pele.
Recentemente reli sobre o episódio da Revolta da Chibata, um momento histórico que marcou a maldade e o racismo.
Pela minha maneira de pensar só o fato de publicar esse texto eu já estou falando de diferenças, as quais não existem e limitam-se apenas a pele e não a beleza, caráter, inteligência, capacidade ou cultura.
Algumas vezes, quando uma pessoa não lembra o nome de alguém e quer fazer referencia àquela pessoa, diz assim: Qual é mesmo no nome daquele senhor de cor?
Eu simplesmente em tom irônico digo: Que cor, azul, verde, vermelho, amarelo... ?
Oras, numa demonstração de não racismo, de não preconceito, se não sabe o nome deveria apenas dizer, sem medo ou receio: Como é mesmo o nome daquele senhor magro, gordo, negro, etc...
O adjetivo magro, gordo ou negro é apenas para ajudar a lembrar daquela pessoa, sob o aspecto de uma característica física predominante, nesse caso não simboliza preconceito ou distinção.
Se eu dissesse: Como é mesmo o nome daquele sujeito alto? Estou sendo preconceituoso? O preconceito verdadeiro reside na entonação de voz e na maneira com a qual fazemos referencia a uma pessoa.
Um sujeito descontrolado pode dizer ao outro: Seu preto safado! O outro pode retrucar: Seu branco desonesto! A ofensa não é dizer preto ou branco, mas sim safado ou desonesto.
É lamentável ainda existirem pessoas (e realmente existem) que acham que um negro possa ter alguma diferença que não seja apenas a cor da pele. Creio que é para esses que foram efetuadas mudanças na legislação.
Mas uma coisa é certa, há afro descendentes que também são preconceituosos e que já presumem que uma pessoa é racista antes mesmo dessa fazer qualquer demonstração que confirme essa suspeita.
É tão bom não ter preconceito de nenhum tipo, pois aumentamos o numero de amigos a nossa volta.
Se alguém me chama de veado ficarei ofendido, se me chama de vagabundo também.
Outro dia numa discussão um sujeito me chamou de pobre, confesso que não me ofendi, poderia até me ofender por outras razões, mas não por essa. Creio que atualmente me considero um pouco pobre financeiramente, então ele me falou uma verdade temporária.
Se alguém numa discussão me chamar de magrelo eu não devo e não vou me ofender, pois sou magro mesmo.
Por essa razão que eu não acho que chamar uma pessoa de gordo, magro, preto, branquelo seja um preconceito, se de alguma forma o adjetivo tiver relação com a pessoa.
Lembro que uma vez, mas mais de 30 anos, eu estava em São Paulo, num ônibus urbano superlotado. Os vidros estavam fechados, pois estava muito frio do lado de fora, mas do lado de dentro esta abafado demais e onde deveria caber apenas umas 40 ou 50 pessoas havia mais de 100. Num determinado momento uma senhora que estava em pé abriu o vidro da parte de cima. Nesses ônibus havia dois níveis de vidros basculantes, um que atendia quem estava em pé, e outro, inferior, que atendia quem estava sentado. Como estava garoando alguns pingos caiam sobre um passageiro sentado. Esse por sua vez levantou-se e fechou o vidro, comentando que estava chovendo nele. A senhora tornou a abrir o vidro e ele tornou a fechá-lo. Tornado a abrir o vidro ela falou em tom alto e claro:: O seu branquelo quer fazer o favor de deixar esse vidro aberto!
O sujeito não era albino e nem era loiro, mas também não era negro, assim como ela.
A palavra branquelo, pronunciada pela senhora, tinha o intuito de ofender. O sujeito sentado não poderia se sentir ofendido, pois ela era realmente branco, não branco como uma folha de papel, mas era de cor de pele considerada branca.
Mesmo que ela o chamasse de “preto” ele só deveria se sentir ofendido se aquilo soasse como uma ofensa para ele.
Naquele momento presumi que se ele se ofendesse seria muita imaturidade da parte dele, uma vez que ela falou o óbvio, porém com entonação agressiva.
Recordo-me também que quanto eu era criança eu brigava com meu irmão porque ele desenhava na lousa uma bolinha bem pequenina, querendo dizer que estava me chamando de cabecinha. Eu tinha realmente a cabeça menor que a dele, então procedia o adjetivo. Eu, para me defender e ao mesmo tempo atacá-lo desenhava um nariz enorme, isso quando não o chamava verbalmente de narigão.
Ele se ofendia e queria até me bater, pois era mais velho, mas na verdade não deveria se sentir ofendido, pois ele tinha um nariz bem maior que o meu.
Assim eu aprendi que quando a gente é criança se rende e se ofende a adjetivos que dizem exatamente o que somos e muitas vezes não aceitamos.
No transito onde já cometi erros (quem não erra?), me chamaram uma vez de FDP e em outra mandaram ir TNC. Como eu já estava mais maduro não me ofendi, pois não sou um FDP e nem ia TNC.
Fico pensando que assim como é crime se dirigir a um afro descendente e chamá-lo de preto, de forma ofensiva, também era um crime o que aquela senhora fez em chamar um branco não muito branco de branco, assim como é chamar um negro não muito negro de preto.
Eu discordo de tudo que evidencia essas diferenças: Vagas para negros é uma diferenciação, Dia da Consciência Negra é uma diferenciação. Não sei se ainda existe, mas cheguei a ver em bancas uma revista chamada raça, onde só havia fotos e reportagens sobre pessoas negras, também é uma diferenciação.
Tive oportunidade de observar pessoas que não queriam de jeito nenhum que suas filhas ‘brancas’ se casassem com homens “negros”, e foi justamente o que aconteceu, para desencanto dos pais. Porém são muito felizes até hoje, talvez até mais que seriam caso aceitassem a imposição racista dos pais.
Infelizmente ainda há pessoas que realçam a diferença, além da cor, entre pessoas de peles diferentes. Mas quanto mais se realça essa diferença, seja pela mídia ou por alterações legais, tenho a impressão que faz um efeito contrário, pois quem se acha superior, com lei ou seu lei continuará se achando algo mais que o outro..
Esse é um problema cultural, pois eu realmente não vejo cores, mas sim pessoas. O Pedro é legal, a Maria é linda, o Fulano é chato, o Sicrano é desonesto. As pessoas são isso ou aquilo, no meu ponto de vista, mas independente desse negócio de cor de pele.
Para criar uma legislação rigorosa, deveria ser proibido qualquer tipo de distinção entre seres humanos, a começar por normas legais que de alguma forma realcem que há diferenças. Jamais em qualquer formulário que fosse deveria haver perguntas como cor de pelo ou raça, salvo em casos realmente necessários para identificação de doenças que possam ter relação com a cor da pele.
Apenas sou reticente com relação à escravidão, pois realmente não sei o trauma que foi gerado nas gerações seguintes e se esse trauma foi impregnado no DNA. Por mais que eu tente imaginar nunca será possível imaginar o que foi o sofrimento de um povo apenas porque tinha uma diferença na cor da pele.
Recentemente reli sobre o episódio da Revolta da Chibata, um momento histórico que marcou a maldade e o racismo.
Pela minha maneira de pensar só o fato de publicar esse texto eu já estou falando de diferenças, as quais não existem e limitam-se apenas a pele e não a beleza, caráter, inteligência, capacidade ou cultura.
Algumas vezes, quando uma pessoa não lembra o nome de alguém e quer fazer referencia àquela pessoa, diz assim: Qual é mesmo no nome daquele senhor de cor?
Eu simplesmente em tom irônico digo: Que cor, azul, verde, vermelho, amarelo... ?
Oras, numa demonstração de não racismo, de não preconceito, se não sabe o nome deveria apenas dizer, sem medo ou receio: Como é mesmo o nome daquele senhor magro, gordo, negro, etc...
O adjetivo magro, gordo ou negro é apenas para ajudar a lembrar daquela pessoa, sob o aspecto de uma característica física predominante, nesse caso não simboliza preconceito ou distinção.
Se eu dissesse: Como é mesmo o nome daquele sujeito alto? Estou sendo preconceituoso? O preconceito verdadeiro reside na entonação de voz e na maneira com a qual fazemos referencia a uma pessoa.
Um sujeito descontrolado pode dizer ao outro: Seu preto safado! O outro pode retrucar: Seu branco desonesto! A ofensa não é dizer preto ou branco, mas sim safado ou desonesto.
É lamentável ainda existirem pessoas (e realmente existem) que acham que um negro possa ter alguma diferença que não seja apenas a cor da pele. Creio que é para esses que foram efetuadas mudanças na legislação.
Mas uma coisa é certa, há afro descendentes que também são preconceituosos e que já presumem que uma pessoa é racista antes mesmo dessa fazer qualquer demonstração que confirme essa suspeita.
É tão bom não ter preconceito de nenhum tipo, pois aumentamos o numero de amigos a nossa volta.