Caquis, lembranças, desejos...
"Somente onde há sepulturas há também ressurreições"
(Nietzsche)
Trago na minha memória tudo aquilo que a minha alma provou e aprovou. Desde que aprendi o caminho da leitura, o mundo passou a ter cores, o mesmo está cheio de cores lindas, e é preciso abrir as janelas da sua imaginação para ver como é precioso viver a vida. Todas as vezes que me lembro das belezas realizadas, meu corpo dança, ri, comove-se, chora.
Estamos na época dos caquis, fruta parecida com o tomate. Caqui mole é uma fruta inspirativa ao amor, pois sempre que o como, tenho essa imaginação. Talvez seja por causa da pele do caqui quando maduro: você olha para um caqui mole ele já está tirando a roupa convidando-o para comê-lo.
Assim temos conosco um mecanismo de defesa chamado fantasia, saudável. Com ele podemos criar mundos, imaginamos os cheiros, os lugares, criamos histórias, alimentamos nossos desejos, motivamos para a vida, nos enfeitamos, por dentro com as poesias. Os sábios buscam o seu bem-estar alimentando-se saudavelmente, mentalmente, fisicamente, ecologicamente, psicologicamente, espiritualmente, aprendendo a ler bons livros e a ouvir boas músicas, se envolvendo com arte e cultura.
Os enfeites de fora são o resultado do desabrochar de dentro, quando dentro está lindo, o lado de fora é o espelho. Tente fazer a sua vida valer a pena.
William Blake sabia disso e afirmou: "A árvore que o sábio vê não é a mesma árvore que o tolo vê". Sei disso por experiência própria. Quando vejo os ipês floridos, sinto-me como Moisés diante da sarça ardente: ali está uma epifania do sagrado. Mas uma mulher que vivia perto da minha casa decretou a morte de um ipê que florescia em frente a sua casa porque ele sujava o chão, dava muito trabalho para a sua vassoura. Seus olhos não viam a beleza. Só viam o lixo
Adélia Prado disse: "Deus de vez em quando me tira a poesia. Olho para uma pedra e vejo uma pedra". Drummond viu uma pedra e não viu uma pedra. A pedra que ele viu virou poema.
Inverno de 2011 JF.Alvarez