Guerras particulares

Na matemática, aprende-se que: um mais um, são dois. Na Biologia, percebe-se que um mais um, gera um ou, às vezes dois. Um espermatozoide mais um óvulo resulta em um novo ser vivo, com características específicas e únicas. Sequer as digitais são idênticas.

No entanto, alguns aspectos são semelhantes a todos os seres humanos. Todos participam da luta inicial pela vida, a corrida cujo alvo é a fecundação, uma guerra particular para dar início à vida. Afirmam os entendidos que, mais ou menos 200 milhões de espermatozóides são lançados no interior da fêmea, onde apenas um a fecundará dando inicio ao processo da vida. É o primeiro concurso que o ser vivo enfrenta.

Alguns meses mais à frente, após vencer essa primeira competição objetivando a fecundação e o parto, o ser vivo vem ao mundo, onde travará outras batalhas, a começar pela “palmadinha” aplicada pelo médico, a qual o faz chorar após o nascimento - nasce apanhando, ou apanha para viver -, é a primeira experiência ao ar “livre”, apanhar!

Suporta ainda outros desconfortos como frio, pessoas que lhe babam as bochechas com beijos lambidos, outros que lhes arranham com babas mal aparadas. Lutas que o adaptação ao mundo exterior pós saír do aconchego solitário do ventre materno. Guerras que não se findam por aqui, estão apenas começando.

Surge a necessidade de adaptação ao mundo cósmico, repletos de outros seres considerados humanos, mas, com atitudes desumanas, que gritam alto ao seu ouvidinho sensível, sopram fumaças pelas narinas como se fossem chaminés de um antiquado fogão à lenha, e ainda balançam o recém nascido no momento em que ele quer mamar tranquilamente. Nenhum adulto consegue tomar água ou refrigerante sendo balançado. No entanto, forçam o rebento a mamar sendo balançado. Mal consegue engolir, e se vomita, a mãe, pergunta: Porque será que ele está vomitando?

Outra batalha é travada quando a criança é forçada a adotar uma vaca como mãe. Salvo poucas excessões, grande parte das mães não “conseguem” amamentar seus filhos, conseguem - comprar uma mamadeira plástica, fria, dura, às vezes, até bonitinha - transferindo a responsabilidade da amamentação para as vacas, que já tem seus bezerrinhos, os quais elas não doam para nenhuma mulher que deseje ser chamada de mãe.

A criança quer o aconchego e carinho do peito materno e vê-se forçada a sugar um “peito” de borracha com leite de “vacaterno” ao invés do leite materno. No entanto, tais mães, não ofereceriam este peito de borracha para mais ninguém... só para seus filhinhos! Guardando o peito de verdade para outras finalidades... E no dia das mães, tais filhinhos inocentes dão louvores a estas mães. Pobres coitados. Pudessem tais filhinhos fazer uso de sua razão, nada diriam no dia das mães, ou dariam seus cartões para as vacas que lhe forneceram leite.

Desta altura em diante outras guerras tornam-se rotineiras. Luta por permanecer de pé, quando lhes é imposto que permaneçam deitados nos carrinhos com luzes fortíssimas nos olhos que os deixa quase cegos, sem dizer que, luzes muito fortes pode realmente provocar cegueira. Mas, a “mamãe” está tão preocupada com as “importantes compras” que nem se lembra de pensar no desconforto que é ficar olhando para luzes forte horas a fio, dentro de um shopping, deitado em um carrinho quase que imóvel. Violação ao direito que a criança tem em olhar para um ambiente confortável que não agrida sua retina. Luta também para escapar do gélido carrinho, quando na verdade a criança quer sentir o calor do colo materno, e a mãe prefere doar seu calor humano para um belo pacote de compras no shopping, enquanto empurra o carrinho, como se o carrinho com o bebê fosse um cortador de grama.

Novas e constantes batalhas ribombam a cada instante em situações diversas nas seguintes fases da vida, sejam elas resultantes dos atritos interiores de cada indivíduo consigo mesmo, sejam resultantes da imposições que outros lhe façam. Que dizer dos conflitos interiores gerados pelas diferenças de temperamentos? Um indivíduo é melancólico, sonhador – sempre tristonho- , outro é colérico, sangue quente – por vezes nervoso e agitado, o outro um sanguíneo, barulhento, alegre, espalhafatoso e o quarto tipo de temperamento é o fleumático, empacado, irredutível nas suas convicções, estejam certas ou não, agradem ou não, o fleumático é assim, e não mudará a menos que assim o deseje.

Pensaste que terminou a série de conflitos? Qual nada! Existem os conflitos armados, também os desarmados. Conflitos de guerra que geram neuroses infindas, traumas de pós-guerra, geradores dos medos interiores de tudo que é desconhecido. Indivíduos expostos a estes tipos de guerras, por vezes tornam-se pessoas distantes, com aparências externas de seres imbatíveis, são aparentemente alegres, mas por dentro estão destroçados. Treinamentos pesados e embrutecidos os tornaram pessoas insensíveis aos relacionamentos pessoais, pois, são treinados para matar, e não perdoar o inimigo. Sem contar que vêm inimigos por todas as partes, até sua sombra se torna inimiga. Todos são inimigos, basta descordar de seu ponto de vista ou ser desconhecido.

Os fomentadores das guerras bélicas os treinam para lutar e matar se necessário for, no entanto, via de regra, não os reabilitam para retornar à sociedade como cidadãos comuns. Parece haver pouca ou nenhuma preocupação com sua saúde emocional, e eliminação dos trumas. Humanos que saem das guerras bélicas, como verdadeiras feras enjauladas. Com escassa capacidade para enfrentar outros conflitos pessoais, apenas conseguem impor suas decisões à ferro e fogo se preciso for. São guerras pessoais que cada enfrenta como pode ou consegue nesta luta para poder sobreviver, e muitas vezes sem qualidade de vida.

Tais individuos, podem até, manter um emprego razoável, uma família bonita, saudável, mas nem sempre possuem serenidade para dialogar e relacionar-se com esta família. Relaciona-se com maior facilidade no ambiente virtual, mas, cara a cara não sabe dizer te amo a um filho carente de amor paterno, sente-se incapaz de dar um abraço na esposa carente de tempo com qualidade, mas consegue dizer palavras bonitas no relacionamento muitas vezes adúltero via Internet, distante fica mais fácil, parece comprometer menos. Cara a cara o individuo, não consegue.

A guerra travada em seu íntimo para ser transparente e honesto(a) é imensa, por vezes invencível. Vencê-la demanda força de vontade, capacidade de luta, e humildade para reconhecer quando se está errando, falhando ou indo longe demais. É fácil iniciar qualquer conflito, difícil é vencê-lo produzindo bons resultados para todos os envolvidos. Guerras muitas vezes são particulares, no entanto, os prejuízos atingem a todos à sua volta. Guerra entre marido e mulher, prejudica aos filhos. Como diz um adágio africano: “Numa briga entre elefantes, quem padece é a grama”. Outro adágio africano diz: “Compra-se a cama, mas não o sono”.

Acrescentaria eu, compra-se a cama, mas não o amor verdadeiro e honesto para ser desfrutado a dois, quando já deram espaço a uma terceira pessoa, ou às guerras particulares, que só podem ser vencidas com muita determinação, estratégias bem planejadas, objetivos nobres, alicerçados com as bençãos do Altíssimo.

nana caperuccita
Enviado por nana caperuccita em 29/06/2011
Reeditado em 01/07/2011
Código do texto: T3065060
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