DIA DOS NAMORADOS: REFLEXÕES acerca.

Há muita gente, hoje, sozinha. Uns por opção, outros por contingência, outros por serem abandonados, outros por abandonarem, alguns outros por medo de amar, de se apaixonar, de sofrer, de...

Certamente no dia de hoje poderemos fazer algumas reflexões acerca dos relacionamentos afetivos entre homem e mulher e suas derivações. O conceito de fealdade é muito relativo, mas existe como uma das principais formas de início de namoro. Nesse mesmo viés, vem a tiracolo o culto ao corpo sarado, a moda da estética que a TV tão insistentemente conduz, bem como as roupas de marca inseridas no contexto. Pertinente ao medo de se apaixonar nos parece meio sem justificativa. Na vida sem paixão pode-se ter a impressão de passar por ela sem ter vivido. Certo que a gente não tem medo de se apaixonar por lugares, por guloseimas, etc., mas há pessoas que morrem de medo de se apaixonarem por GENTE. Sendo mulher por um homem, sendo homem por uma MULHER. Sendo gay masculino ou feminino, idem. O grande argumento de não querer se apaixonar geralmente está contido no medo de sofrer, como se sofrer por um grande amor não valesse a pena, desde que seja de fato UM GRANDE AMOR. Não acredito muito nesse medo, até porque o amor, a paixão quando chegam imobilizam e nos deixam sem muita alternativa profilática. Tenho a impressão que se perde tempo nesse argumento ao invés de investir num processo terapêutico que seja capaz de exorcizar alguns “demônios” que nos atormentam a vida. Nós, pela nossa natureza, geralmente conduzimos essas questões interiores projetando-os nalguns outros sentimentos mais imediatos como a paixão.

Não podemos duvidar que a paixão seja a véspera de um grande amor. Contudo, pode-se amar alguém num processo de convivência sem que os fluidos da paixão atormentem com suas chamas. Afinal, não crer nisto seria negar o amor como processo de construção, mesmo sabendo que as questões conceituais dos sentimentos podem ter valores diferentes de acordo com cada pessoa. O amor em seu conjunto de expectativas não isenta os amantes de alguma forma de sofrimento, da mesma forma que se justifica em si nas diversas formas de prazer.

A lógica das relações não pode ser construída em cima de fatores ocasionais como sofrer, ser abandonado, abandonar, etc. Viver é um eterno conjugar de fatores e neles está incluso naturalmente o sofrimento e o prazer. O encontro e o desencontro. O encanto e o desencanto. Uma das coisas que mais mete medo nas pessoas é a solidão. Esta sim ajuda as pessoas a disfarçarem sentimentos e projetarem no amor uma culpa osmótica. Ninguém pode ignorar que solidão é um estado de espírito e que todos de alguma forma um dia se sentirão sós. Há solidão a dois e isto deve doer bem mais do que aquela solidão que está a nossa disposição, como se fosse um livro na estante esperando ser lido.

Sendo prático, tenho por regra que é melhor correr o risco de sofrer e viver um grande amor, do que virar um cacto no canto da sala reclamando da vida e da solidão. Afinal isto não seria uma forma crudelíssima de sofrimento? Afinal, cada um sabe a dor e a delicia de ser o que é, de sentir o que quer, de se apaixonar ou de se apaixocar. Certo que quando um amor se vai a gente fica meio nublado. Certo que a fila anda e que a vida é mágica para novamente a gente se apaixonar, amar e ser feliz do jeito que cada um achar que é seu jeito de ser feliz. Neste sentido os modelos de relacionamento estabelecidos pela sociedade não devem interferir nas nossas escolhas. Por que deixar de ser feliz com uma pessoa negra, se esse for o caso? Por que deixar de ser feliz sendo Gay se esse for o caso? Por que deixar de ser feliz com uma pessoa socialmente diferenciada? Por que deixar de ser feliz com uma pessoa excêntrica ou que fuja aos padrões físicos estabelecidos? Por que deixar de ser feliz com um presidiário, com uma pessoa sem posses, como um habitante de favela ou de bairro distante? Por que... ? Será que os modelos padrão que a sociedade nos impõe não nos trava e nos faculta a perda da oportunidade de ser feliz e ter um grande amor? Não sei. Cada pessoa tem seus motivos para tomar suas decisões. Neste sentido, sendo prático mais uma vez, gosto de perguntar: quem paga minhas contas? A resposta já me basta, embora respeite o que cada um decidir pra si.

O argumento de não se apaixonar, de não amar, pelos mais diversos motivos é questionável. Da mesma forma que é questionável dizer que se vive sozinho por opção como os padres e assemelhados. O que nos garante que eles vivem sozinhos? Que não amam, nem se apaixonam, nem sofrem ou choram por isto? O princípio da vida está no encontro. Encontrar-se é fundamental inclusive para o enfrentamento da solidão. Esta sim tem judiado com muita gente nesse emaranhado de arranha céus que nos cercam nas grandes cidades.

Pela natureza deste dia de namorados, não vale viver sem paixão. Talvez eu exagere, mas eu prefiro estar mal acompanhado a estar na mais completa solidão. A má companhia não poderá sê-la no seu tesão pra mim. Porque aí mexeria na minha auto-estima. Ademais, beijar na boca é tudo de ótimo e eu ADOOOOOOOOOORO.