BRANCOS E NEGROS
Realmente lamentáveis os últimos acontecimentos que têm por palco, no momento, várias cidades dos Estados Unidos da América do Norte, mormente Detroit, a capital do automóvel.
Desencadearam-se, e desta vez com mais intensidade ainda, as hostilidades entre brancos e negros daquela nação amiga. Saques, incêndios, choques com a polícia, mortos, feridos, coisa feia mesmo! ...
Inconcebível como na América do Norte existe o preconceito racial. Um povo tão desenvolvido, um país tão rico, uma gente tão adiantada sob todos os aspectos ... Neste particular, entretanto, dão mostras do seu atraso. Não é à toa que os americanos que nos visitam ficam pasmados com a mistura da nossa gente, com a integração plena e total do elemento negro em nossa sociedade.
Coisa mais do que lógica, pois o negro é um ser humano também. Feito de carne e osso, como nós, seus descendentes. Descendentes, diretos ou indiretos, não importa. O fato é que deles viemos, principalmente nós, os latino-americanos. O negro, o índio e o português, povos que mesclaram deliciosamente a nossa raça, fazendo surgir o brasileiro moreno, o mulato dengoso, o caboclo astuto e sabido, elementos marcantes da nossa formação etnológica.
Mas lá não, amigos. Há distinção, segregação, confinação, separação, alienação, um punhado de “ãos” com relação ao pobre do “tição”.Estou para lhes dizer que eu seria capaz de apanhar de brancos nas ruas de Newark, Birmingham, Detroit, Pontiac, Toledo e outras cidades americanas, principalmente no Estado do Alabama. O Antoniel, então, coitado, seria linchado! ...
Mas, felizmente entre nós não existe o problema, pelo menos nesse nível. E vivemos em paz uns com os outros. Brancos e negros. Negros e brancos! ...
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São Paulo, 25/07/1967
Artigo publicado no jornalzinho informativo da “EB”, em São Paulo, onde trabalhava na época, na coluna intitulada “PRIMEIRA PÁGINA”.