APAIXONAR-SE E APAIXOCAR-SE!

O que não tem futuro já durou demais. Esta lição prática de vida é muito boa que seja observada nas relações afetivas. Como a paixão geralmente nos pega de “calças curtas”, devemos dispor de algum protetor emocional ou mesmo conceitual que nos ampare, se é que assim a gente possa entender.

Dificilmente alguém se apaixona por outrem na mesma intensidade da emoção. Um dos dois se entrega mais, embora talvez aconteça uma suposta crença de que ambos se apaixonam igualmente e na mesma intensidade. A rigor, paixão é uma coisa do sentir. Como tal não se trai nos gestos, nem nos deixa com elementos táteis, materiais, que nos proporcione a certeza de que a nossa paixão esteja sendo correspondida, exceto nas atitudes. Estas, por sua vez, ficam dentro de nós como parte integrante da construção do afeto. Servem pouco para se guardar como prova, na lógica do documento quando a gente compra um bem de consumo. Evidente que o jogo do amor é sedutor e disto não se pode dizer muita coisa contrária, senão senti-lo, entregar-se aos mistérios que somos envolvidos quando alguém nos “flecha” com um olhar ou coisas do gênero.

A contradição da paixão está no fato de nos dá prazer e medo ao mesmo tempo. O “terreno” que os apaixonados pisam é meio movediço. Muitas vezes você tem certeza de que o outro não presta; não se enquadra nos seus valores supremos. Mesmo assim pagamos pra ver. Não raro vemos e pagamos um preço caro por isto. Essa areia movediça que nos toma o corpo e o coração termina nos traindo nos meandros por nós desconhecidos. Se a outra pessoa objeto da nossa paixão não tiver um caráter bom, acima de tudo honesto, pode-se adentrar num terreno complexo em que o jogo de sedução poderá nos levar até a correr riscos físicos de violência, de trambiques, de agiotagem. Para a mulher, além disto, pode acontecer o envolvimento com os conhecidos “cafetões” que, no primeiro momento fingem-se de apaixonados, depois exploram e até chantageiam.

Certamente que há paixões correspondidas. Inegavelmente que viver uma paixão com reciprocidade renova, enleva, nos torna mais nós diante da gente mesmo e dos outros. Não fosse assim, não seria paixão. Não seria essa coisa contraditória que os cientistas nem teimam mais em compreender, mas apenas em viver, mesmo sabendo que o sofrimento vem a galope ou nos espera na próxima esquina, não necessariamente nesta mesma ordem. Talvez não?

Talvez a gente possa aconselhar aos apaixonados que alguns detalhes poderão ser observados antes de uma entrega meio irracional, provocada pela paixão. Ouvir um amigo sincero é bom. Não ignorar a opinião dos pais é melhor. Ficar atento aos detalhes da pessoa no primeiro encontro, fundamental. Iniciar dividindo contas é bom. Pagá-las sozinho é temeroso, pois não custa nada saber se a pessoa que estamos nos encontrando trabalha. Em trabalhando se ganha salário mínimo ou um pouco mais. Contudo se alguém tiver um salário infinitamente superior ao do outro, sinal vermelho. Conflitos a vista! Sentimentos confusos poderão acontecer, pois afinal conforto e dinheiro no bolso ajuda e muito no estabelecimento das relações. Ficar atento às formas de expressão é fundamental, principalmente se a outra pessoa se contradiz no texto inicial do relacionamento. Talvez ela tenha ensaiado mal ou tentando reprisar com você o texto aplicado a outras pessoas. 

Essas dicas não acontecem na prática, literalmente conforme citamos. Quando a gente coloca em nossa vida um olhar crítico em tudo, essas dicas acontecem sem nos maltratar nem provocar desconfortos. Certo é que a paixão tudo poderá nos levar inclusive a nada. Naturalmente não podemos esquecer que viver é também correr riscos. Toda paixão tem riscos. Não se pode é vivê-la ignorando esses aspectos. Como não se faz “omelete sem quebrar os ovos”, talvez valha a pena se arriscar numa paixão intempestiva. O que não podemos é esquecer que ninguém poderá ir pro céu sem morrer... Tendo essa consciência, o amor se basta. A paixão se gasta e o amor toma de conta como forma de compensação. Ou não?