A CARTILHA DOS INGLESES

Causou um certo mal estar em nossos arraias, a cartilha editada pelo Governo Inglês, para os ingleses, de como deverão lidar com os turistas que visitarão o país, por ocasião das olimpíadas de 2012. O guia está na internet, foi elaborado pela Agência Nacional Turismo e está pontilhada de estereótipos e exageros. Faz referência, entre outros povos, a brasileiros, argentinos, mexicanos, indianos e árabes. A história de antipatia dos ingleses vem de longa data e tende a se agravar com material desse tipo. O inglês é frio, formal, como a maioria dos europeus. A forma de se portar de um povo, a sua cultura, as suas tradições, devem ser respeitadas. Ingleses ou não. A civilidade, entretanto, é universal. Mas será que, do que foi orientado, não caberia alguma reflexão? Especificamente aos brasileiros o guia diz: 1) “seja gentil e não fique bravo com as tentativas dos brasileiros de falar inglês.” Ora, não vejo porque ficar irado. Se estou em um país de outra língua, é natural que tente falar a sua língua. Obviamente com os mais diversos níveis de conhecimento da mesma. Assim, cabe ao inglês tentar compreender-nos, como fazemos quando eles por aqui estão. 2) “Esteja preparado para ser interrompido enquanto fala”. Aqui, cabe-nos fazer uma “mea culpa”. Temos que reconhecer que esse é um mau hábito de muitos brasileiros. Seria o caso, portanto, de policiarmo-nos. 3) “Nunca pergunte a eles sobre idade e estado civil”. Nunca identifiquei isso como problema entre nós, brasileiros. Talvez um ou outro. As mulheres, principalmente. Mas, generalizar foi um exagero dos “senhores lordes”. 4) “As mulheres brasileiras sempre se vestem de forma provocante, independentemente da ocasião”. Aqui, temos que admitir que existe alguma verdade. Não cabe, todavia, a generalização. É a beleza e a sensualidade da mulher brasileira que, às vezes, exagera na sua exibição. Cabe o exame e o cuidado. Não somente para estar na Inglaterra, como em outro qualquer lugar do mundo, inclusive aqui, no Brasil. Outro dia, presenciei uma jovem entrar em uma igreja com uma vestimenta totalmente inadequada para o local. É preciso ter bom senso. O Inglês é muito conservador em relação a isso, embora lá também ocorram os seus excessos. Quem tem uma Amy Winehouse... 5) “Não se assuste com beijos”. A orientação procede. Somos mesmos muito exagerados em nossas demonstrações de afetividade. A cartilha adverte que “demonstrações calorosas não devem ser vistas como conotação sexual”. Às vezes, parece mesmo. Temos de refletirmos sobre esse aspecto. 6) “Brasileiros sempre se atrasam para os compromissos”. Excluído o “sempre”, havemos de concordar. Quanta dificuldade vivenciei em uma excursão pela Europa. Praticamente todos os dias tínhamos problemas dessa natureza. Precisamos mudar esse comportamento, até porque certos eventos não permitem atraso. Se um jogo de futebol está marcado para as 21 horas e você chegar as 22, só ira ver o segundo tempo. No caso você será o único prejudicado, mas há casos em que toda uma coletividade pode ser prejudicada. Precisamos mudar esse péssimo comportamento. Compromisso é compromisso e horário é compromisso.

Façamos uma reflexão e mudemos os nossos hábitos no que for preciso, sem nos descaracterizarmos. Retirados os excessos, considerei válido o guia. No mais, é preparar uma “cartilhazinha” para recebemos os nobres ingleses, quando aqui chegarem em 2016, embora seja mundialmente conhecida a forma gentil como sempre recebemos os que por aqui aportam. Afinal, somos todos seres de um mesmo planeta chamado terra, tão diverso