HIPOCRISIAS - Retratos da sociedade de Bem
Como mostrar as contradições causadas pelos milhares de bons cidadãos de bem que apenas lutam por um país bom para todos?
A semana foi cheia de bons e claros exemplos do quanto o nosso país está cheio de boas intenções e o quanto as pessoas se preocupam com o país. Quer dizer, com a vida sexual de cada um no país. Enquanto a educação, a saúde e a segurança padecem e já há alguns anos. O mais importante agora é julgar as pessoas por praticarem sexo com pessoas de outra raça e ou do mesmo sexo. Apenas essas modalidades, o resto fica debaixo do tapete.
Sabemos que tudo precisa de alguns limites e que além de fundamental é necessário informa-se antes de atuar na sociedade como um papagaio que repete apenas o que foi ouvido em algum lugar que nem sabem onde exatamente. E antes que interpretem os limites citados no início deste parágrafo, deixe-me esclarecer que os limites nada tem a ver em dizer quem tem ou não direito a isso ou àquilo.
Um grande reboliço vem acontecendo com o projeto de lei que torna ações homofobicas em crime. O que eu realmente não entendo porque muito acham que agredir alguém até a morte não é crime desde que seja um homossexual agredido e muitos ainda acham o mesmo em relação a negros. Contraditoriamente, são as mesmas pessoas que berram aos ventos os valores e “ensinamentos” de Deus e se indignam com a corrupção dos parlamentares.
Agora vamos por parte para ficar mais fácil para entender a linha de raciocínio, se eu fosse bom em desenhar até faria algumas ilustrações.
Desde a Idade Média a igreja bajula aqueles que possuem “poder”, popularidade e claro muito dinheiro. Hoje o cenário é o mesmo, mas se juntaram ao time algumas outras religiões. No entanto, esse texto não tende a analisar religião e sim algumas conseqüências promovidas por ela. Muito “intelectuais” dirão que essa minha frase foi contraditória porque eu estaria falando do mesmo jeito, mas porque meu enunciado estaria errado se muito dizem que não tem nada contra os homossexuais e sim a homossexualidade?
Vamos deixar de lado os bla blas e vamos começar falando de HETEROFOBIA. Um belo neologismo e um termo que tenta igualar algumas ações criminosas à tentativa de mostrar que oito rapazes agredindo um outro rapaz é um grande dom divino. Li essa semana mesmo em um jornal regional um texto de um jornalista indignado alegando heterofobia por ser criticado por criticar os homossexuais. Ele quer ter o direito sem também dar o direito? Algumas coisas são realmente cômicas.
Querem agora vender a idéia de que aqueles que seriam punidos por agredirem homossexuais seriam vítimas do mesmo veneno – o preconceito. Dizer que não concorda com esses relacionamentos e que não aceitaria dentro de sua própria casa não pode ser considerado um crime, afinal todos têm o direito de acreditar no que quiser acreditar do mesmo jeito que as pessoas também têm o direito de não acreditar e ficar apenas nisso.
Alguém que grita, ofende e agride verbalmente e/ou fisicamente alguém com adjetivos ofensivos não pode dizer-se vítima de heterofobia. Até porque fobia é o sufixo que indica uma aversão, ou seja, não tolera. Uma ação heterofobica seria agredir um casal só pelo fato de ser heterossexual, e também agredir casais nas estações do metro de São Paulo por estarem quase nos finalmente, seria xingar um casal na praça pelo fato dela estar sentada no colo dele enquanto dedos percorrem os corpos um do outro de forma disfarçada, seria jogar água em casais que cochilam em forma de conchinha no parque do Ibirapuera. Heterofobia seria não tolerar a presença de alguém por se dizer heterossexual. O que seria verdadeiramente o cúmulo. Portanto, esse negócio de alegar heterofobia não passa de uma estratégia para justificar alguns atos que são bárbaros.
Outra idéia absurda é tentar igualar homossexualidade à pedofilia. O MEC tem o projeto de enviar uma cartilha sobre a vida conjugal de duas pessoas do mesmo sexo. O que é preciso, claro, ser analisado com muito cuidado, mas não existe material algum capaz de ensinar alguém a ser gay ou incentivar heteros à relação homo.
Uma fala dita por um deputado na televisão foi vista com graça, todavia, mais uma vez muitos não perceberam o que possivelmente estaria por detrás dos enunciados. O deputado incentivava e concordava em dar algumas palmadas nos filhos quando os pais percebessem algum trejeito na criança e ainda perguntou aos entrevistados e entrevistador quem já não apanhou para aprender ser homem de verdade. Temos aqui uma possível confissão velada? Qual heterossexual precisou apanhar para ser homem? Se o deputado apanhou quando criança foi porque havia tendência e talvez isso justifique sua aversão.
Agora o mesmo deputado tenta argumentar que a cartilha tornaria as crianças em homossexuais e que deixar-nas-iam vulneráveis aos pedófilos. Quanto absurdo. A própria policia afirma que pesquisas mostram que mais de 90% dos casos de pedofilia acontece dentro da própria casa da vítima, dentro dos próprios valores da família. Só falta dizerem que todo homossexual é pedófilo e ou que todo pedófilo é homossexual e vale lembrar que para o termo homo ou gay também são inclusas as mulheres.
Eu como professor, não tolero dentro da minha sala de aula ações vexatórias – bulling – contra alguns outros alunos que possuem um jeito mais afeminado e ou já assumiram sua sexualidade, em suma, não tolero nenhum tipo de preconceito seja ele lingüístico, raça, gênero e religião. Ressalto sempre nesses casos que ninguém precisa aceitar ou gostar, mas que todos têm o dever de respeitar. Ou eu estaria influenciando esses adolescentes de treze e quatorze anos a serem gays? Faça-me o favor.
É preciso nunca esquecer que há muitos homossexuais que não são afeminados e tão pouco assumidos e isso não quer dizer que todos deveriam viver as escondidas. O que quase nunca é ressaltado são aqueles que foram energeticamente repreendidos ou quase isso no seu contexto cultural da infância até a fase adulta e que casaram-se e mantêm uma vida paralela com um amante tudo banhado a muita hipocrisia e quando de volta a suas “vidas” repudiam relações entre pessoas do mesmo sexo.
Há alguns dias, foi reconhecida a união estável entre pessoas do mesmo sexo. E mais uma vez muitos se sentiram indignados. Talvez por terem a ideia de casamento ou coisa do tipo e nem se quer pensaram no que tal ação refletiria nas vidas dessas pessoas que vivem juntas. Se perguntarmos às pessoas, muitas delas nem sabem se quer explicar o que elas não aceitam neste caso.
Se dois homens ou duas mulheres vivessem juntos durante quinze anos e durante todo esse tempo, trabalharam, construíram suas casas, compraram um carro e pagaram todos os mesmos impostos que todos no país inteiro pagam e de repente um dos parceiros (a) morre, seria justo o que ficou não ter direito a nada? É a isso que as pessoas são contras? Ou são a favor da pessoa não ter direito aos bens deixados mesmo tendo contribuído com a saúde, educação e tudo o mais que é cobrado de todos os cidadãos para o dinheiro recolhido ser desviado? Ou então um dos parceiros (a) não poder autorizar cirurgias de emergências em caso do parceiro adoecer ou sofrer um acidente? Foi nesses assuntos que o reconhecimento da união veio ajudar.
Muitos querem ter direitos a isso e/ou àquilo e ao mesmo tempo ditam quem deve ter ou não o direito acolá.
Muitos questionam o projeto de lei e usam como argumentos de que a própria lei já diz que todos são iguais perante a ela. Se fossem mesmo todos iguais, as agressões não seriam crimes? Não seria permitido herdar os bens do (a) companheiro (a) que juntos conquistaram durante anos de trabalho? Não teriam todos os mesmo direitos já que todos têm os mesmos deveres?
Ninguém está tentando convencer o que é normal ou anormal. E o argumento de que não existe relação homo no reino animal é mais um belo exemplo de ignorância. Há sim mais de 1400 espécies que têm relações homossexuais, entre elas, aves: pingüins, albatroz, patos e também em golfinhos, cachorros e até bois e cerca de 500 espécies claramente documentadas pelo pesquisador Bruce Bagemihl.
Muitos pesquisadores interpretam esses fenômenos como mecanismo de seleção evolutiva para conter o aumento excessivo de populações e um estudo publicado pelo Trends in Ecology and Evolution conclui que a homossexualidade ajudou várias espécies de diferentes maneiras ao longo da evolução e faz um estudo sobre o comportamento das fêmeas do albatroz do Havaí durante a escassez de machos. Mais uma vez, alguns dirão que esses fenômenos são aberrações da natureza. Crescemos aprendendo que tudo é feito por Deus, até mesmo Lúcifer é um anjo. Então Deus seria uma aberração? Ou seria o livre arbítrio? Mas como o golfinho teria conhecimento sobre o que seria pecado? Perguntas para as quais ninguém jamais terá respostas.
Citando mais uma vez o projeto de lei que torna crime ações homofóbicas e a confusão ocorrida no planalto acerca da votação da lei, muitos brasileiros são contra o projeto alegando censura. Censura no que podem dizer e até achar – afirmam que a lei tira deles a liberdade de expressão.
Primeiramente é preciso saber o que é Liberdade de Expressão. Líderes religiosos temem a “nova lei” por se verem proibidos de ensinarem o que acreditam, mas no texto disponível (a lei PCL122) não há nenhum artigo proibindo à manifestação de pensamento decorrente a fé.
Outra vez a expressão Liberdade de Expressão foi jogada ao vento como tentativa de confundir as pessoas. Não vejo problema de lideres religiosos pregarem o que acreditam, desde que isso fique apenas no espaço religioso. Já li em blogs de pastores cujos textos incitavam os fieis a esmagarem a cabeça das serpentes (gays). Uma coisa é ler àqueles que acreditam que a relação afetiva ou sexual entre duas pessoas do mesmo sexo é pecado e punido por Deus, outra coisa é incentivar aqueles que acreditam no pecado a tentarem mudar à força as pessoas ou acharem que são capazes de fazer “milagres”.
Agora pergunto a essas pessoas: O que é liberdade de expressão?
Atirar uma lâmpada fluorescente no rosto de alguém é liberdade de expressão? Agredir em grupos uma pessoa é liberdade de expressão? Ofender alguém é liberdade de expressão? Incitar a violência é liberdade de expressão? Humilhar alguém é liberdade de expressão? Se eu passar próxima a casa de alguém e xingar de vagabunda, vadia ou outras coisas é liberdade de expressão?
Há muitas coisas que também não sou a favor e nem por isso faz de mim um homofóbico. TODOS TÊM SIM O DIREITO DE DIZER O QUE PENSAM, MAS TÊM O DEVER DE PENSAR ANTES DE DIZER!
Algo também que causa muita polêmica e expressões são jogadas novamente para tentar não haver uma reflexão mais demorada é o conteúdo do Parágrafo Único do Art. 8º da PLC122. Cujo texto caracteriza também como ato discriminatório a proibição de manifestação de afetividade em locais públicos ou privados abertos ao público, uma vez que tal ato é permitido aos demais cidadãos. Aproveito o momento para perguntar àqueles que afirmaram não haver necessidade para a criação desta lei já que todos são iguais perante a ela. São todos iguais mesmo?
Muito ficaram e ficam indignados com tal parágrafo alegando ser uma afronta aos valores da família. Alegam ser também uma vergonha e um mal exemplo às crianças. Claro que as coisas não podem ser apelativas, mas não vejo mal nenhum em ver dois homem ou duas mulheres andarem de mãos dadas. Agora pergunto que valores? Os mesmos que negligenciam os filhos que ainda menores saem à noite apenas para arrumar confusão e mesmo assim os pais dizem ser uma brincadeira? Os mesmos valores que muitas vezes jogam a responsabilidade dos pais ao professores e ao estado? Os mesmo valores que parecem não se importar com o grande número de adolescentes grávidas e muitas vezes mães solteiras? Os mesmo valores que ensinam preferir ser enganados porque o que os olhos não vêem o coração não sente? Os mesmo valores que permitem famílias entrar na moda de durar apenas alguns meses, dois ou quatro anos? Os mesmo valores que dizem ser normal casais quase transarem nas estações de metro?
Que valores? Os mesmo que fizeram esquecer a proibição de comer camarão, cortar a barba, trabalhar aos sabados, cometer o adultério, perder a virgindade antes do casamento, crer em outro Deus e outras coisas escritas por homens diferentes em diferentes épocas e em diferentes contextos históricos e culturais?
Pergunto-me porque nos livros didáticos a história do Brasil não é contada na sua forma real sem romantismos? Como por exemplo, a verdade sobre A Princesa Isabel e a libertação dos escravos. Por que então não há interesses de lançamentos de filmes europeus que retratam os abusos da igreja ou até os próprios abortos praticados pelas freiras? Ou por que a própria bíblia não está completa faltando assim mais de vinte e poucos evangelhos? Quem escolheu o que podia entrar ou não? E quais os objetivos de ocultar muitas coisas?
Tudo é uma questão de interesses políticos. Os lideres religiosos temem a diminuição de fiéis e conseqüentemente a diminuição da arrecadação. Os parlamentares não querem perder as mordomias como moradia, viagens, combustível, 13º, 14º e 15º salários entre outras coisas tudo pago por todos, inclusive os gays.
Por que então não mostram vídeos de corrupção? Ah sim, já foi mostrado, mas fingiram que não era nada. Por que não mostram pastores fazendo lavagem de dinheiro? Ah sim, já foi denunciado também, mas fingiram que não era nada. Por que não mostram vídeos de padres e freiras e os abusos sexuais? Ah sim, já foi mostrado várias vezes, mas mesmo assim ainda fingem não ver.
Gostaria de entender porque a vida sexual do outro incomoda tanto. Gostaria de saber onde está escrito na bíblia, já que ela é basicamente o único apoio religioso, que Deus dá permissão de julgar e condenar alguém. Se é pecado, não é para mim e nem para homem nenhum na face da terra que a pessoa deve explicações. Se é um erro, deixe que a pessoa acerte seus erros perante a Deus quando ela morrer.
Ao invés de ficarem preocupados com a vida íntima das pessoas, por que não se preocupam com aumento dos juros? Da gasolina? Da tarifa do precário serviço de transporte público? Com a reforma tributária?
Se os políticos estivessem mesmo preocupados com os valores e com o bem da população, se as pessoas cuidassem mais de suas vidas e de seus erros ao invés do vizinho, se não houve exageros de ambos os lados... muitos familiares hoje não estariam chorando humilhando-se para ser atendidos em hospitais públicos, não estariam andando quilometros procurando uma vaga de emprego, não estariam tentando sobreviver em barracos de maderite e papelão vivendo com ratos, muitas mães não estariam desesperadas pensando o que preparar para sua criança comer. Muitos jovens e professores não teriam que improvisar nas escolas por falta de bibliotecas, salas de videos, TVs, aparelhos de sons, livros entre outras coisas. As pessoas não andariam amedrontadas nas ruas, não seriam obrigadas a trabalhar mais de cinco meses só para pagar impostos. O que vejo de tudo isso é que querem um país melhor, bom para todos desde que alguém sempre tenha um pouco mais: grandes valores deixados por alguns deuses.
É necessário haver o mínimo de bom senso (Isso para TODOS).
Aos grandes sabedores da palavra de Deus, esqueceram-se de que Jesus disse que é preciso amar o próximo como amar a vós mesmos. E lembrem-se de que Jesus não precisava de exercito e nem ganhar almas para fazer o bem.
Que Deus tenha misericórdia de TODOS nós!!!