E QUEREM SALVAR O MICO-LEÃO-DOURADO (pelo menos ainda querem salvar algo...)
30.09.2008.
 
 
 
Vivemos a guerra urbana
Do pó, da erva, das armas
Do polícia, do deputado, do juiz
Do viciado, do aviãozinho, do traficante
Do desembargador, do advogado, do vereador
Do bicheiro, do caça-níquel, do bingo
Do crack, do ectasy, do anabolizante
Do roubo de carro, do seqüestro relâmpago
Da invasão, da milícia, do Bope
Do segurança de rua, do rapa
Do acidente, do alcoolismo
Do estrupo, da saidinha do banco
Da rebelião, do celular no presídio
Do pivete que cheira cola; ele só queria colo
 
Na mira, no meio
O estudante, o adolescente
O trabalhador, o morador
A faxineira, o pedreiro
O bancário, o banqueiro
 
Minha cidade acabou
Minha liberdade acabou
O que antes era tão diferente
Pouco daquilo existe
Pouco daquilo se faz hoje presente
 
Acabaram os bairros
Não mais os muros baixos
Os pães, as garrafas de leite e os jornais
O cumprimento nas ruas
As famílias nas calçadas e
“Na fachada escrito em cima que é um lar”
 
Acabou o respeito a qualquer um
Ninguém mais conversa com o passageiro ao lado
Ninguém mais acredita, confia em nada e em ninguém
Não pedem mais ‘por favor”; não dizem mais obrigado
As buzinas não são mais de agradecimento
É só rancor, malandragem e preguiça

Não sei como vou criar meus filhos
As faculdades estão sempre em greve
Nos colégios a violência se instalou e
Ele precisa sair para as ruas
 
Não sei o que meus filhos irão ver
Não mais os programas educativos
Não mais os desenhos inocentes
Não mais as famílias reunidas
A conversa dos domingos pela manhã
O frango que só se comia aos domingos
A horta, o radinho, as pipas e carrinhos de rolimã
 
Um monte de leis para reger a burlação de tantas outras
Um monte de “não permitido” para conter o lado selvagem
Muito dinheiro, tempo e vigor gasto na preservação do ser humano
O homem está extinto e estão preocupados com o mico-leão-dourado
 
Meu estado acabou
Não mais aquele povo da roça na região serrana
Chegou na casa deles o MP7, a câmara e a internet
Não se masca mais capim ou fumo Reis
 
Meu país é um mundo de desigualdade
Meus relatores de CPI serão os próximos réus
O partido de esquerda de hoje será o mais envolvido de amanhã
O político de hoje se engaja, entra no esquema em uma semana de mandato
A família, os amigos e os conhecidos dos amigos também estão lá
 
Acabou o homem sábio, o gênio e culto
Vale mais a grana, a posição, o posto
 
Acabou o universitário, o professor universitário
Um já passou, que se dane o conhecimento
Outro já recebeu, que se dane o aprendizado
O negócio é a indústria das pós,mestrados e doutorados
 
O mundo está bem melhor
Temos luz, carros, tecnologia
O mundo está devastado
Acabaram as matas, os rios e a fauna
 
Vivemos uma falsa paz
Falsos acordos de paz

O Vietnã resolveu parar de “fabricar” dólares
A ONU gasta cada vez mais
Existe ainda a guerra fria
O império americano não conviverá com a queda
A Europa recebe o troco de suas colonizações
Tenta expulsar seus antigos escravos
A China derruba o comércio mundial
Instaura o seu: mão-de-obra semi-escrava
Tudo é cada vez mais descartável
A expectativa de vida aumenta
A contribuição social diminui
 
Ninguém mais aceita ser pobre e isso seria bom
Seria bom se todas as índoles fossem boas
Seria bom se todas as intenções fossem boas
 
Ninguém mais se respeita no caótico trânsito dos novos carros de 200 por mês
Todo mundo tem muita pressa para bater papo furado na grande rede
Todo mundo tem muita pressa para receber a boleta de daqui a 15 dias
Todo mundo tem muita pressa para consumir seus 24 vezes duma só vez
 
Não há mais como viver com esse celular que somente serve para FALAR
Não há mais como viver com essa televisão que só passa PROGRAMAÇÃO
Não há mais como viver com esse emprego, com essa mulher, com esse patrão
Não há mais como viver com a ausência de contas, dívidas e acordos
A vida ficou uma merda
Minha cidade ficou uma merda
Meu estado está uma merda
Meu país uma merda
Meu continente uma merda
O planeta Terra uma merda!
 
Acabou a letra da música
Acabou a poesia
Acabou o romantismo
Acabou a melodia
 
Vivemos a guerra urbana dos anestésicos
Todo mundo injeta-se de “barbitúricos” para enfrentar
O alucinógeno, a perda da sensibilidade para tudo
De cara limpa não dá mais
Andróides; de vítimas a causadores: é isso que somos!
 













Marcelo Braga
Enviado por Marcelo Braga em 14/05/2011
Reeditado em 21/10/2012
Código do texto: T2969235
Classificação de conteúdo: seguro
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