PRIMEIRAS IMPRESSÕES

“Eu não pedi pra nascer, eu não nasci pra perder, nem vou sobrar de vítima das circunstâncias”.

Após 20 anos distante, volto à periferia. Volto ao lugar do qual saí. E não mudou quase nada, continua tudo tal e qual. As fachadas do comércio com suas pinturas kitsh, gente, gente, gente, gente por todo lugar; as ruas sujas, como em toda cidade, e uma novidade: agora o lugarzinho possui um trânsito de cidade grande.

Maldito Lula. Por que deste crédito à classe C? Hoje, qualquer boçal possui um carro. Qualquer boçal menos eu. Talvez o carro, a não ser para viagens e finais de semana, seja um utensílio dispensável no trânsito caótico de toda a mancha urbana paulista.

Pelo menos há um trem que serve à periferia. Tudo bem que as máquinas estejam em atividade desde a década de 1970, o que faz com que a decadência seja a regra nos trens urbanos paulistas; a despeito de toda a “revolução nos transportes” alardeada pelo governo estadual.

Assim, peguei um ônibus que não estava lotado e o trem também, para minha sorte. Vim por eles ouvindo um rock’n roll de primeira linha, algo bem pesado para dar energia, foi o meu Red Bull sonoro. Balançava levemente a minha cabeça e também batia os pés; o que causava um certo estranhamento em algumas pessoas que me olhavam ressabiadas. Quem será esse maluco ouvindo essa barulheira a essa hora?

Mas eu não estava nem aí para os olhares alheios. Eu quero é ser feliz! Dane-se os olhares de reprovação, tenho que agradar as pessoas que amo e que me amam, os outros pensem o que quiser. Viver vida alheia não dá.

Ouvi de uma amiga uma coisa bacaníssima, foi num depoimento que colhíamos de uma pessoa, esta disse que se sentiu coagida e tal; no que minha amiga respondeu:

“-Querida, não posso dar conta dos teus sentimentos. Se você está se sentindo assim eu não tenho como ter controle sobre isso, pois isso é subjetivo e somente seu”.

Voltando ao ônibus, tinha que ouvir a barulheira para ter energia e também para tentar apagar o quadro negro da periferia e a fria atmosfera operária, sina de tantos. Tinha que não pensar muito nesse contexto para ter força e continuar.

Pensei que muitas vezes é bom estar alheio às coisas, estar completamente alienado. Isso te salva de pensamentos ruins.

Mas, espere aí. Pensamentos ruins por quê?

Não é que uma porta se abre para mim neste momento! O que eu tanto procurei por todos esses anos será não está bem próximo de se concretizar? Afora a liberdade, a possibilidade de fazer escolhas, de correr riscos e de, claro, ter responsabilidade por eles.

Esse é um momento bem feliz!

Dificuldades há para todos e as minhas são pequenas perto das do resto da humanidade. O caminho da periferia poderá ser o caminho de uma vida muito mais feliz. Mais gratificante, acompanhado de gente muito mais ‘fina, elegante e sincera; com habilidade pra dizer mais sim do que não’.

Estou muito Lulu hoje.

Não. As circunstâncias não me transformarão em vítima, esse não é o meu papel. A minha cena agora é outra, embora em meio à pobreza, muito mais rica, muito mais estimulante. É como se tivesse ressuscitado depois de um longo tempo de uma morte da alma.

Tudo será somente uma questão de tempo. Eu, de fato, não nasci para perder. A palavra fracasso chega a me dar calafrio quando a ouço, por isso não vou admitir nunca o esmorecimento. Já foram tantas e tantas batalhas vencidas, tantas reviravoltas de 360° em minha vida...

O grande escritor Goethe disse antes de morrer: Luz ,luz, mais luz!

Frederico Guilherme
Enviado por Frederico Guilherme em 09/05/2011
Reeditado em 09/05/2011
Código do texto: T2958286
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