O ANACRONISMO DA AL QAEDA

Gostaria de fazer uma observação sobre o canto das sereias nos atos antiamericanos de Osama Bin Laden e sua franquia Al Qaeda.

Nesses últimos vinte anos vimos ataques bem organizados da Al Qaeda contra alvos ocidentais ( “ocidental” aqui, entende-se no sentido acadêmico ou real, não como forma de preconceito disfarçado, colocados por cronistas de quinta categoria ), são alvos principalmente símbolos do capitalismo e do cristianismo. No entanto, vejo espantado parte de pseudo-esquerdistas celebrarem tais acontecimentos, em especial quando os alvos são ligados aos Estados Unidos, espantado não por ser admirador desse país, mas espantado pela ideologia e os conceitos atrás desses ataques.

Depois da queda do socialismo real, os Estados Unidos passaram a ser potencia hegemônica no mundo, agem como império, exportando “seus” valores decadentes para o restante do mundo, apoiando ditaduras quando convém, derrubando governos não alinhados e praticando todas as técnicas de um Estado terrorista, e, a cizânia com o mundo islâmico tem um nome: Israel.

O Estado de Israel ocupa a região desde 1948 com total apoio das nações ocidentais, contudo, para o mundo islâmico esses israelitas retornados não passam de alemães, poloneses, russos e tutti quanti, pessoas sem a menor identificação com a terra herdada, muito longe de uma eventual ancestralidade comum com a região. Diante desses episódios e, de forma natural formaram-se diversos grupos de resistência, sendo a Al Qaeda mais um ( claro, cada um com sua característica ideológica ).

Voltemos aos reais valores alqaedeanos nesses ataques contra o ocidente, fico consternado quando vejo alguns colegas de esquerda apoiarem essas ações, pois os motivos dos alqaedeanos é a implantação de uma teocracia nefasta, construída por uma hierarquia sacerdotal, apóiam um mundo sem liberdade de pensamento, tendo como norte a leitura estrita do alcorão, onde o homem é subjugado por conceitos metafísicos delirantes, sem classes sociais, porém, numa ordem de castas sem a menor possibilidade de mobilidade social. Esses conceitos anacrônicos estariam em nosso modelo político ocidental, na posição de “direita da direita”, estaria inclusive longe da extrema direita fascista, sendo o fascismo identificado mais com um líder laico do que um clérigo fundamentalista.

Estariam então esses grupos fundamentalista muito longe do “estado de direito” , do poder laico dividido em três poderes, da mobilidade das classes sociais, do liberalismo econômico, da propriedade privada e da democracia representativa, ou seja, todos essas demagogias do mundo capitalista ocidental.

Entretanto, esses grupos estão muito mais longe ainda do materialismo marxista, da sociedade sem classes, do direito coletivo, da liberdade e do mundo sem opressão, da solução das contradições tão evidente no mundo capitalista, por isso tudo, causa-me estranheza ver pseudo materialistas dizendo “amém” para atos contra esses valores, pois qualquer marxista mediano sabe, para haver uma revolução proletária e para essa ser bem sucedida, deverá antes haver uma revolução liberal burguesa, acabando com dogmas do antigo regime, criando assim uma classe operaria ( ou trabalhadores ), forte suficiente para derrubar as próximas barreiras. Portanto, esses grupos estão aquém desses valores, alguns marxistas não aceitam, mas, defender valores da sociedade democrática liberal, colocá-los-iam mais próximo do socialismo do que o mundo teocrático desejados por esses grupos.

Bin Laden era um facínora, tinha ideais teocráticos ( a opressão em forma de Estado religioso ), considerava a monarquia absolutista saudita demasiadamente frouxa em valores maometanos, contudo, sua existência é fruto do choque com ideais ilustrados, da ingerência estadunidense em suas terras, mas, saber separar o joio do trigo é fundamental, saber observar as lacunas das paixões, não escutar o canto das sereias, bem como entender as contradições na colisão dialética desses mundos e sem se levar por preconceitos tolos, teríamos assim um melhor entendimento dos acontecimentos, caso contrário, devemos mesmo idolatrar Bin Laden.

Alexandre Histthor
Enviado por Alexandre Histthor em 08/05/2011
Reeditado em 09/05/2011
Código do texto: T2957292