Osama, Obama e nós todos - 2

* Extrato do texto anterior sem as citações em línguas estrangeiras

Jornais opinam sobre o acontecido no Paquistão, com Bin Laden, em seu encontro com as forças armadas norteamericanas. Escolhemos alguns desses periódicos em formato digital para ler o que dizem sobre o fato consumado. O primeiro é o la nación.com Exterior (matéria também publicada na forma impressa) e cuja manchete diz objetivamente que a rede terrorista Al-Qaeda promete vingar a morte de Bin Laden, acrescentando, ainda, que uma maldição recairá sobre os Estados Unidos.

Realmente, sabendo mesmo que pouco sobre o que pensam e como agem os terroristas, sejam orientais ou ocidentais, pode-se imaginar que isto não passará em brancas nuvens. Para uns, o maior miserável da face da terra e para os seus, quem sabe se torne uma espécie de deus cujas forças trabalharam contra o que consideram tirania e exploração; e cujo espírito continuará “alumiando” aqueles que seguem a mesma trilha ideológica.

Bin Laden está morto. Bin Laden está morto? Difícil matar alguém portador de uma sina, assim como até hoje, “Elvis Presley não morreu”, Marylin também não.

Temos todos que continuar a nossa sina de cidadãos que têm a vida ditada pela mídia e por tantos estudos de especialistas em diversas temáticas. A nossa educação pouco se preocupou nesses anos todos de Brasil em nos mostrar a realidade do Oriente. Entretanto, algo precisamos pensar e dizer.

O texto jornalístico costuma ser entremeado por metáforas e esta da decapitação é uma que pode ser lida praticamente como uma versão ipsis litteris, vez que o estrago feito pelos soldados da América do Norte foi centrado na face e na cabeça do líder terrorista. E, por falar em condecoração, ouvi uma repórter anunciando na TV que o Presidente Obama condecoraria o soldado que “matou Osama”. Apesar de tudo e de todos, aquela frase ficou ecoando em minha mente. Haveria uma justificativa para tanta demonstração de euforia por um semelhante ter sido morto? Pensei em filmes de cowboys e de heróis matadores. Pensei tantas coisas...

Hoje mesmo recebi um e-mail de um amigo que contém um texto que me respondeu a tantas perguntas que me fiz. Sinto-me feliz por não ser um bicho diferente e por haver estranhado a felicidade de tanta gente perante a morte e um ato de violência e sangue. Fiquei pensando nos alunos, nas crianças que acompanharão estas divulgações na televisão e em filmes e que esses jovens se formarão neste clima que reina no mundo de hoje. E se essas crianças concluírem que matar o inimigo é bom e, além disto, gera prêmios, honrarias?

O texto ao qual me refiro foi reproduzido n’O Conversa Afiada, no JB, e é de Mauro Santayana:

A semente do medo

(Por Mauro Santayana)

Os Estados Unidos celebram a morte de bin Laden, e um ex-embaixador brasileiro considerou-a “espetacular”. É melhor ver a morte de qualquer homem, bom ou mau, como a morte de parte de nós mesmos. Como no belo poema em prosa de Donne, any man’s death diminishes me, because I am involved in mankind, and therefore never send to know for whom the bell tolls; it tolls for thee. A morte de qualquer homem me diminui, disse o poeta, porque sou parte da Humanidade, e, por isso, não pergunte por quem os sinos dobram; eles dobram por você. Todos nós morremos um pouco, quando as Torres Gêmeas vieram abaixo, e todos nós morremos quase diariamente com os que tombam e tombaram, na Palestina, no Iraque, no Afeganistão, na Costa do Marfim, no Realengo, em Eldorado dos Carajás, na Candelária e nas favelas brasileiras. (...)

O parágrafo conclusivo de Santayanna diz que:

O perigo maior, e desdenhado, é o de que o conflito atual, iniciado com a ocupação da Palestina por Israel, se transforme realmente em guerra declarada entre os países capitalistas ocidentais, que se identificam como cristãos, e os muçulmanos. Quem definiu a agressão como cruzada foi Bush, ao afirmar que Deus o havia convocado a matar Saddam. E conforme o livro clássico de Essad Bey, todos os movimentos no Oriente Médio, entre eles a ocupação judaica da Palestina, se fazem na busca da posse de seu petróleo. No passado, o saqueio se fazia em nome da “civilização” e, hoje, se faz também em nome da “modernidade”.

A vontade firme, a determinação e o sentido de poder do povo norteamericano estão na intensidade que beira o romantismo contido nas palavras da Secretária de Estado Hillary Clinton, publicadas no estadão.com.br. Teria Hillary sido intensa e romântica ou tentava ser convincente quando demonstrou acreditar que aquele povo oriental deixará suas atividades e ideologias facilmente? Logo por terem “perdido” o líder? Isto equivaleria a pensar que o desaparecimento de um chefe de torcida futebolística decreta o final do “amor” pela camisa de um clube. Quanta inocência!

O elpaís.com, da Espanha que não esquece o ataque terrorista da organização ETA aos trens e ao povo espanhol que vive em constante alerta contra o terrorismo, frisa La guerra invisible de Estados Unidos en Pakistán. Talvez seja até passada a hora de refletir sobre se isto terá fim, e quando?

E, sobre sistema ferroviário, o Los Angeles Times anuncia que os Estados Unidos investirão em segurança e tecnologia de ponta.

O Diário de Notícias, de Portugal, traz interessante e bem estruturada manchete, a de que a Morte de Bin Laden blinda Obama para eleições presidenciais _ afinal, lembremos do adágio que afirma “no amor e na guerra, todas as armas serem válidas”.

O Le Monde.fr frisou o caos da comunicação da morte de Osama que surgiu na imprensa mundial em sucessivas e contraditórias versões. Atabalhoada nos parece a primeira versão de que o terrorista vivia em uma luxuosa mansão. Mas, não sei se por lá aquele prédio mostrado nos noticiários seria um conceito paquistanês de “luxuosa mansão”.

E, para não alongar este texto, preferimos lembrar que determinadas personalidades não morrem, viram mitos, a exemplo de Marylin Monroe, Elvis Presley, John Lennon, Lampião e Bin Laden.

REFERÊNCIAS ELETRÔNICAS

http://www.latimes.com/news/local/la-me-la-rail-security-20110507,0,6576653.story http://www.clarin.com/mundo/Obama-dificil-decision-vida_0_476352538.html http://www.lanacion.com.ar/1371337-al-qaeda-promete-vengar-a-ben-laden http://www.estadao.com.br/noticias/internacional,hillary-diz-que-com-morte-de-bin-laden-viveu-os-momentos-mais-intensos-da-vida,715215,0.htm http://www.dn.pt/especiais/interior.aspx?content_id=1842065&especial=11%20de%20Setembro&seccao=MUNDO http://www.lemonde.fr/asie-pacifique/article/2011/05/06/mort-de-ben-laden-la-communication-chaotique-de-la-maison-blanche_1517950_3216.html http://www.dn.pt/especiais/interior.aspx?content_id=1842065&especial=11%20de%20Setembro&seccao=MUNDO http://www.elpais.com/articulo/internacional/guerra/invisible/Estados/Unidos/Pakistan/elpepuint/20110504elpepuint_9/Tes

taniameneses
Enviado por taniameneses em 07/05/2011
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