Osama, Obama e nós todos

Jornais opinam sobre o acontecido no Paquistão, com Bin Laden, em seu encontro com as forças armadas norteamericanas. Escolhemos alguns desses periódicos em formato digital para ler o que eles veiculam sobre o fato consumado.

O primeiro é o la nación.com Exterior (matéria também publicada na forma impressa) e cuja manchete diz objetivamente que "a rede terrorista Al-Qaeda promete vengar a Ben Laden", acrescentando, ainda, que uma maldição recairá sobre os Estados Unidos.

"Confirmamos que la sangre del jeque combatiente Osama ben Laden no fue derramada en vano y que será una maldición que perseguirá a los estadounidenses y a sus agentes, dentro y fuera de sus países", afirmó Al-Qaeda en un comunicado divulgado por los portales islamistas de Internet y chequeado por el organismo estadounidense SITE, especializado en el control de este tipo de sitios.

Realmente, sabendo mesmo que pouco sobre o que pensam e como agem os terroristas, sejam orientais ou ocidentais, pode-se imaginar que isto não passará em brancas nuvens. Para uns, Osama é o maior miserável da face da terra e para os seus, quem sabe se torne uma espécie de deus cujas forças trabalharam contra o que consideram tirania e exploração; e cujo espírito continuará “alumiando” aqueles que seguem a mesma trilha ideológica.

Bin Laden está morto. Bin Laden está morto? Difícil matar alguém portador de uma sina, assim como até hoje, “Elvis Presley não morreu”, Marylin também não.

Temos todos que continuar a nossa sina de cidadãos que têm a vida ditada pela mídia e por tantos estudos de especialistas em diversas temáticas. A nossa educação pouco se preocupou nesses anos todos de Brasil em nos mostrar a realidade do Oriente. Entretanto, algo precisamos pensar e dizer.

Por outro lado, o clarín.com focaliza a ação da chamada potência mundial e evidencia a figura do seu chefe maior:

El presidente Barack Obama dijo ayer que Estados Unidos decapitó a Al Qaeda y prometió derrotar a esa organización tras condecorar a las fuerzas especiales que llevaron a cabo el operativo que mató a Osama Bin Laden la noche del domingo, lo que fue –dijo– la “más difícil decisión de mi vida” .

O texto jornalístico costuma ser entremeado por metáforas e esta da decapitação é uma que pode ser lida praticamente como uma versão ipisis litteris, vez que o estrago feito pelos soldados da América do Norte foi centrado na face e na cabeça do líder terrorista.

E, por falar em condecoração, ouvi uma repórter anunciando na TV que o Presidente Obama condecoraria o soldado que “matou Osama”. Apesar de tudo e de todos, aquela frase ficou ecoando em minha mente. Haveria uma justificativa para tanta demonstração de euforia por um semelhante ter sido morto? Pensei em filmes de cowboys e de heróis matadores. Pensei tantas coisas...

Hoje mesmo recebi um e-mail de um amigo que contém um texto que me respondeu a tantas perguntas que me fiz. Sinto-me feliz por não ser um bicho diferente e por haver estranhado a felicidade de tanta gente perante a morte e um ato de violência e sangue. Fiquei pensando nos alunos, nas crianças que acompanharão estas divulgações na televisão e em filmes e que esses jovens se formarão neste clima que reina no mundo de hoje. E se essas crianças concluírem que matar o inimigo é bom e, além disto, gera prêmios, honrarias?

O texto ao qual me refiro foi reproduzido n’O Conversa Afiada, no JB, e é de Mauro Santayana:

A semente do medo

(Por Mauro Santayana)

Os Estados Unidos celebram a morte de bin Laden, e um ex-embaixador brasileiro considerou-a “espetacular”. É melhor ver a morte de qualquer homem, bom ou mau, como a morte de parte de nós mesmos. Como no belo poema em prosa de Donne, any man’s death diminishes me, because I am involved in mankind, and therefore never send to know for whom the bell tolls; it tolls for thee. A morte de qualquer homem me diminui, disse o poeta, porque sou parte da Humanidade, e, por isso, não pergunte por quem os sinos dobram; eles dobram por você. Todos nós morremos um pouco, quando as Torres Gêmeas vieram abaixo, e todos nós morremos quase diariamente com os que tombam e tombaram, na Palestina, no Iraque, no Afeganistão, na Costa do Marfim, no Realengo, em Eldorado dos Carajás, na Candelária e nas favelas brasileiras. (...)

O parágrafo conclusivo de Santayanna diz que:

O perigo maior, e desdenhado, é o de que o conflito atual, iniciado com a ocupação da Palestina por Israel, se transforme realmente em guerra declarada entre os países capitalistas ocidentais, que se identificam como cristãos, e os muçulmanos. Quem definiu a agressão como cruzada foi Bush, ao afirmar que Deus o havia convocado a matar Saddam. E conforme o livro clássico de Essad Bey, todos os movimentos no Oriente Médio, entre eles a ocupação judaica da Palestina, se fazem na busca da posse de seu petróleo. No passado, o saqueio se fazia em nome da “civilização” e, hoje, se faz também em nome da “modernidade”.

A vontade firme, a determinação e o sentido de poder do povo norteamericano estão na intensidade que beira o romantismo contido nas palavras da Secretária de Estado Hillary Clinton, publicadas no estadão.com.br:

"a operação foi realizada pelos melhores profissionais" e ao perguntar se sua morte foi consequência de um erro militar, a secretária de Estado respondeu: "o esforço claro era colocar fim a sua liderança no terrorismo".

Teria Hillary sido intensa e romântica ou tentava ser convincente quando demonstrou acreditar que aquele povo oriental deixará suas atividades e ideologias facilmente? Logo por terem “perdido” o líder? Isto equivaleria a pensar que o desaparecimento de um chefe de torcida futebolística decreta o final do “amor” pela camisa de um clube. Quanta inocência!

O elpaís.com, da Espanha que não esquece o ataque terrorista da organização ETA aos trens e ao povo espanhol, vive em constante alerta contra o terrorismo, frisa La guerra invisible de Estados Unidos en Pakistán

Desde los atentados del 11 de septiembre de 2001, la batalla invisible que el Gobierno estadounidense ha llevado a cabo en Pakistán se ha hecho cada vez más evidente. Estados Unidos ha realizado más de 120 ataques con aviones no pilotados desde que en 2002 comenzara su ofensiva contra Al Qaeda, según denuncia un informe de las Naciones Unidas publicado en mayo de 2010. El primer ministro paquistaní, Yusuf Razá Guilani, ha pedido hoy en París ayuda para la lucha contra el terrorismo, en un país, Pakistán, donde está la base principal de la red terrorista y donde la presencia de tropas internacionales brilla por su ausencia, salvo en contadas operaciones militares, como la conocida como Gerónimo y que ha acabado con la vida del líder terrorista Osama bin Laden.

Talvez seja até passada a hora de refletir sobre se isto terá fim, e quando?

E, a respeito do sistema ferroviário, o Los Angeles Times anuncia que os Estados Unidos investirão em segurança e tecnologia de ponta, a exemplo do:

Metro plans to spend $450,000 on speedy fiber optic connections, $100,000 for their closed-circuit television system and $609,000 to centralize Metro's rail and bus operation centers. Metro plans to spend $399,000 for an early-warning system that could detect chemical weapons.

That will add to other post-9/11 security measures, which include increases in uniformed and plain-clothes officers and 14 bomb-sniffing dogs. At least 10 fixed cameras were installed on each subway train after the attack and Metro added platform cameras that tilt, pan and zoom.

O Diário de Notícias, de Portugal, traz interessante e bem estruturada manchete, a de que a Morte de Bin Laden blinda Obama para eleições presidenciais _ afinal, lembremos do adágio que afirma “no amor e na guerra, todas as armas serem válidas”.

A opinião é expressa por Lluís Bassets, director-adjunto do El País. Para Bassets, tudo muda na campanha para as eleições presidenciais nos EUA, no próximo ano: "A presidencia ficará blindada, graças a uma acção que afecta a segurança nacional, pedra angular de qualquer política com pretensões de hegemonia. Não se pode esquecer que até das próprias fileiras democráticas se colocava em dúvida a capacidade de Obama para se erguer como presidente com os instintos e a preparação para garantir a segurança dos norte-americanos. Isso está feito: o crédito de Obama é agora imenso."

O director-adjunto do El País destaca também as repercussões internacionais, em especial para o "jihadismo": a morte de Bin Laden representa a segunda "derrota sonora" do "culto da morte", que com os seus crimes não conseguiu mudar os regimes ditatoriais árabes e viu-se ultrapassado pelos movimentos pró-democracia e pró-ocidentais dos jovens, que lançaram as sementes para a queda das ditaduras no Egipto e Tunísia, que estão prestes a vencer no Iémen, continuam a lutar na Síria e Líbia e levaram o Rei de Marrocos a anunciar mudanças constitucionais.

O Le Monde.fr frisou o caos da comunicação da morte de Osama que surgiu na imprensa mundial em sucessivas e contraditórias versões. Atabalhoada nos parece a primeira versão de que o terrorista vivia em uma luxuosa mansão. Mas, não sei se por lá aquele prédio mostrado nos noticiários seria um conceito paquistanês de “luxuosa mansão”.

Lundi, version 1 : Ben Laden vivait dans une luxueuse villa évaluée à 1 million de dollars. Il aurait été tué lors d'un échange de tirs nourris, et il aurait utilisé une femme, la sienne, comme bouclier humain, qui aurait également été tuée. Mardi, version 2 : Ben Laden n'était pas armé, et n'a pas utilisé sa femme comme bouclier : elle s'est jetée au devant des assaillants. Elle n'est pas morte mais blessée à la jambe. Mercredi, version 3 : il n'y a pas eu d'échange de tirs. Seul un des messagers de Ben Laden, qui vivait dans la villa, a ouvert le feu dans les premières minutes de l'attaque et a été rapidement abattu. Il est le seul résident à avoir tiré sur les commandos.

E, para não alongar este texto, preferimos lembrar que determinadas personalidades não morrem, viram mitos, a exemplo de Marylin Monroe, Elvis Presley, John Lennon, Lampião e Bin Laden.

REFERÊNCIAS ELETRÔNICAS

(Todas as referências listadas foram acesssadas na presente data da publicação deste texto)

http://www.latimes.com/news/local/la-me-la-rail-security-20110507,0,6576653.story http://www.clarin.com/mundo/Obama-dificil-decision-vida_0_476352538.html http://www.lanacion.com.ar/1371337-al-qaeda-promete-vengar-a-ben-laden http://www.estadao.com.br/noticias/internacional,hillary-diz-que-com-morte-de-bin-laden-viveu-os-momentos-mais-intensos-da-vida,715215,0.htm http://www.dn.pt/especiais/interior.aspx?content_id=1842065&especial=11%20de%20Setembro&seccao=MUNDO http://www.lemonde.fr/asie-pacifique/article/2011/05/06/mort-de-ben-laden-la-communication-chaotique-de-la-maison-blanche_1517950_3216.html http://www.dn.pt/especiais/interior.aspx?content_id=1842065&especial=11%20de%20Setembro&seccao=MUNDO http://www.elpais.com/articulo/internacional/guerra/invisible/Estados/Unidos/Pakistan/elpepuint/20110504elpepuint_9/Tes

taniameneses
Enviado por taniameneses em 07/05/2011
Reeditado em 07/05/2011
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