Minha mamãe Dona Lourdes Sena

O MISTÉRIO QUE UNGE AS MÃES.

Às vezes eu quero entender as mães. Tento separar delas a lógica da maternidade no sentido de ver se nós, homens, somos tão “inúteis” como parecemos nesse processo. Imagino que mulher jamais será mãe sem a nossa contribuição – mesmo IN VITRO, mas tem ali nossa participação. Percorro os labirintos do afeto e me convenço de que não é mais importante ser mãe do que ser pai. Diante dos quereres da vida, homem e mulher se atraem movidos pela sexualidade e com a mesma força e pulsão. Envolvem-se numa “empreitada” de tesão, de afeto, de amor, ou de simplesmente de ficar e... Pumba! Lá vem um filho! A partir daí tudo muda, tudo se torna complexo. Perplexos (ou não), o casal segue sua trilha diante de um novo elemento de ligação. Esse filho é construção de dois. Foi fruto de dois quereres, mas que depois de feito não se pode modificar com a mesma naturalidade. A confirmação de que a mulher está grávida parece lhe dar força de leoa para o enfrentamento das horas de dificuldades que a natureza lhe impôs. No trajeto dos nove meses, se estabelece uma verdadeira “via crucis” no sentido de que a criança venha ao mundo saudável. Quando nasce, dizemos que a mãe “descansou” – tamanho é o trajeto de desconforto que a genitora enfrenta, mas que não reclama, talvez segurada pela lógica do amor maior que ser mãe proporciona.

Filhos...  Filhos?
Melhor não tê-los!
Mas se não os temos
Como sabê-lo?

 Já nos dizia Vinicius de Moraes em seu Poema Enjoadinho. Prefiro o poema, talvez porque na condição de homem, seja difícil mensurar a participação do homem na construção de um filho, embora sabendo que sem nós as mulheres não serão mães. Corrijo-me no conceito: nós homens podemos fazer filhos em diversas mulheres, mas nem todos os filhos que fizermos nessas mulheres nos verão como pais. Talvez esteja aí o enigma que envolve a mãe de mistérios ao ponto de levar Cazuza a dizer numa canção: “Só as mães são felizes”... Elas, as mulheres, nos devem esta. Mas não me dando por vencido no tear desta elucubração materna, talvez me conforte a compreensão de que, se todo homem tem seu lado feminino, a gente possa aproveitá-lo para ser mãe também nesse viés. Mas, a rigor, isto não me convence no grosso, talvez no varejo. Talvez nos falte, enquanto homens, o substrato do amor transcendental que envolve a constituição de um ser com vida inteligente dentro da barriga de uma mulher; talvez a natureza nos tenha dado esse “castigo”, diante da nossa fama de fortes, de “donos da verdade” tão bem corroborada pelo nosso modelo de sociedade.

Como se vê, os homens sempre serão derrotados se quiserem compreender essa magia de ser mãe tão privativa das mulheres. Quem quiser, de fato, saber essa diferença, retorne no tempo e se imagine sendo criado pelo seu pai, como se sua mãe tivesse morrido quando você nasceu. Estranhou? – Eu também. Não me vejo nesse contexto.

Melhor aceitar a dura realidade. Ser mãe é um sentimento tão forte, tão transcendental que nos tirou de nós, os homens metidos a donos do mundo, a lógica concreta de buscar na vida explicações para coisas inexplicáveis como ser mãe. É como diz Djavan, um sentimento que "INVADE E FIM”... Feito sentença de Juiz, não se discute, mas se pode vivê-lo por todos os seis sentidos. Eu sei que os sentidos são cinco. O sexto é O MISTÉRIO QUE SÓ DEUS PODE NOS REVELAR: AMOR DE MÃE.