CHOREMOS O DIA DO TRABALHO

Não sei por que se comemora o trabalho. Trabalhar é horrível. Quem trabalha, na maioria das vezes, não o faz porque gosta muito da labuta, mas porque se não o fizer, sua mirrada vida minguará ainda mais.

Perguntem ao faxineiro, ao limpador de fossas, ao coveiro, ao bóia fria, ao cortador de cana, ao vendedor de porta em porta, a todos que ganham um salário ridículo e até mesmo àqueles que não trabalham em serviços penosos ou humilhantes se realmente há motivo para comemoração estar no mínimo 08 horas por dia preso a uma atividade obrigatória?

O trabalho é a antítese da liberdade, antinatural, muitas vezes penoso e mal remunerado, instaurou hierarquias pelo mundo e os homens medem o valor uns dos outros através de sua atividade laboral.

Mas virá o politicamente correto comentador do século XXI dizer:

“O trabalho é necessário para o progresso. Ser faxineiro é uma profissão honrada como qualquer outra.” E também repetirá um sem-número de lugares-comuns relacionando seu moralismo piegas com seus sentimentos pretensamente bem intencionados.

Primeiro, o progresso só destruiu com tudo o que há. O fruto mais indigesto de nosso insano progresso será a aniquilação deste planetinha.

Nas cidades grandes há lixo por todo o lado, a fauna e a flora certamente vão desaparecer, os trabalhadores, esses que eu citei, não desfrutam das benesses deste ‘progresso’, mas são eles apenas instrumentos de manutenção e construção de privilégios concentrados nas mãos de poucos.

E essa história de progresso é de uma retórica ridícula. Outra retórica que além de ridícula é mentirosa ao extremo é essa história de dignidade do trabalhador. Quem fala isso certamente não pega no ‘batente’.

Esse retórico calhorda, com toda a certeza, nunca colocou uma lata pesada, cheia de concreto em suas costas para servir à construção da casa de algum burguês filho da puta.

Nunca varreu uma rua e engoliu o pó e as imundices que o ‘progresso’ produz. Nunca comeu uma marmita fria, com ovo frito de acompanhamento, não contou o dinheiro para pagar as contas e no final ficou sem nada, nunca lavou um banheiro e limpou o vômito de alguém que ele nem conhecia, também não estava ele de uniforme laranja, parecendo um palhaço, sendo ignorado, invisível socialmente.

Dignidade é o caralho!

Se você não tem dinheiro, nem amor e nem saúde, se você é feio, gordo, velho, se tem um trabalho menos privilegiado, se não ‘venceu’ na vida, vão inventar um monte de lorotas para fazer com que você acredite, de vez em quando, que tem algum valor. Lorotas do tipo ‘Dia do Trabalho’.

Daí vão se reunir todo aquele rebanho, como nas igrejas, ouvindo música de má qualidade, feita por artistas de qualidade duvidosa, sorteio de apartamentos e a fala besta dos aproveitadores de eventos fazendo campanha política. Isso é o dia do trabalho para os desafortunados e deserdados da vida.

Uma historinha boba, da carochinha, para as crianças irem já aprendendo os ‘valores do trabalho’, pois serão a mão de obra barata do futuro.

Não vamos mais tolerar essa bobagem. O dia do trabalho não é uma data a ser comemorada, mas sim chorada. Quantos e quantos não têm sua vida destruída pelos males advindos do trabalho ou da sua falta?

Choremos o dia do trabalho!

Frederico Guilherme
Enviado por Frederico Guilherme em 01/05/2011
Reeditado em 01/05/2011
Código do texto: T2942140
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