Vivendo com o monstro
A tragédia da escola de Realengo, além de nos chocar, fazer-nos ver que a vida é insegura e que pode ir embora em um piscar de olhos e que ninguém está protegido por uma redoma dos perigos deste mundo, mostra-nos que nunca conhecemos realmente ninguém. Todos os que haviam conhecido o assassino só pensavam que era uma pessoa esquisita e pouco dada ao convívio social. Muitos que haviam observado seu comportamento dias antes da chacina dizem que só agora perceberam que ele já estava se preparando para realizar a monstruosidade que fez.
Esse é o problema. Muitas vezes, na convivência com as pessoas, embora elas deem pistas, não lhes damos atenção e, apenas muito tempo depois, ligamos os acontecimentos e vemos que aqueles traços de comportamento ou atos aparentemente tão insignificantes eram indícios de personalidade anormal. O assassino era um excluído com quem ninguém se importava. Sofreu bullying quando criança (foi estudante da escola onde efetuou o massacre). O que os que o maltrataram pensaram dele? Certamente, que era um bobo, que nunca faria nada de marcante. Não tinha amigos, não se destacava como estudante nem era um trabalhador que chamasse a atenção no ambiente de trabalho. Talvez desse mostras de seu comportamento estranho mas todo mundo só pensasse que era um mero esquisitão.
Assim é como nós agimos. Vivemos mergulhados em nossas vidas e quase nunca prestamos atenção a quem nos cerca ou, então, julgamos que, por conviver com quem está a nosso lado, nós o conhecemos bem. Triste equívoco. Infelizmente, somente quando ocorrem desgraças desse tipo, é que notamos que convivíamos com um monstro e não sabíamos. E o pior: não foi por falta de pistas. Os loucos costumam dar pistas, mas nós não as interpretamos como deveríamos.