REALENGOs do mundo
A humanidade sofre, morre, mata, tortura, crucifica pela culpa de todos nós.
Temos imagens e vozes que nos agridem na hora do jornal dentro da nossa sala, somos invadidos diariamente com crimes, tragédias... e eu me calo. Tenho um teto, aconchego, comida. Aprendi a ler, escrever, hoje aposentada, mas já tive um trabalho para me sustentar... E não quero saber do resto do mundo, discriminado, sem emprego, sem pão, sem amigos... Não dou um bom dia, boa tarde, não dou a mínima... Há gritos pungentes, pedindo socorro ou talvez um sorriso, um abraço... E eu nada. Me calo. Me encolho. Não dou a mínima...
E pra que?
Não posso fazer nada mesmo por ninguém.
Não dou um sorriso e tenho medo quando me abordam. Se é pedinte, dou umas moedas.
Desencargo de consciência? Medo? Não sei... Aliás, sei sim, mas não quero saber.
Sigo em frente com minhas justificativas.
Sei de casos de pedófilos? Conheço um suposto pedófilo? Ah... não denuncio. Tenho medo. E as pobres criancinhas vítimas? Não quero saber. Tenho pão, tenho teto, tenho o que necessito.... pra que invadir a vida e a privacidade dos outros?
Sim, se denuncio, dirão que é invasão. Ou serei perseguida. Ou quem sabe, serei rotulada de mentirosa, caluniadora, tagarela, metida...
Ou tenho medo????
Tenho muito medo, sim; e também carrego uma grande culpa.
É um contra-senso, sei.
Então faça alguma coisa para se libertar da culpa.
Não posso. Tenho medo.
E assim se formam cada vez mais pedófilos, irracionais, psicopatas, esquizofrênicos, homicidas, criminosos de um modo geral... para essas pessoas o mundo está contra elas.
Se achega uma criança revoltada, chata...
Vou embora, não quero saber o porquê dela ser assim.
Tenho pão, tenho teto, tenho aconchego...
Para que me incomodar com criança chata?
Pois é... Será que essa criança sendo bem acolhida não faria a diferença?
Será que uma pessoa, sendo recebida e aceita pela sociedade não seria uma pessoa que também aceitaria e respeitaria as diferentes culturas? Ou não acolheria da mesma forma como foi acolhida?
Uma pessoa (criança, adolescente, adulto) não marginalizada, não discriminada, sendo bem atendida, recebida, acolhida... pensaria duas vezes antes de entrar no mundo do crime.
Uma pessoa aquém do meu status sócio-economico, religioso, profissional, pessoal... não é menos importante.
Então, por que faço distinção?
Porque tenho medo.
E assim jogo mais uma pessoa para o mundo subjacente. Para o mundo da confusão.
Vejo um crime aí do lado?
Não denuncio. Não vi nada. Não sei nada.
Eu me calo.
1) Fica aqui meu pesar por, eventualmente, causar tanto ressentimento, raiva e sentimentos destrutivos em todos os Wellingtons deste enorme e maravilho universo.
2) Fica aqui minha homenagem e minha admiração a esta corajosa senhora de São Paulo que denunciou PMs por suposto assassinato no cemitério das Palmeiras em Ferraz de Vasconcelos dia 12.03.2011.