AMORES FRÁGEIS, AMANTES ÁGEIS.
Não pense que o amor é invenção. Ele pode até ter sido, senão não existia, mas agora não. Depois de legitimado pelo tempo, está em xeque por conta das relações “modernas” que tentam sufocar o amor que satisfaz a gente; que dá sentido a vida, que provoca saudades, que dá friozinho na barriga. Entendo que o amor foi feito pra nos satisfazer só que não nos foi dito isto em nosso processo de vida. Um carro, uma boa casa, um bom vinho, uma boa música, com certeza foram feitos pra nos satisfazer. Certamente que isto nos faz bem e nos satisfaz. Mas o amor nos faz bem e mais que bem ele nos satisfaz no sentido da vida. Digo até que ele foi inventado para isto, a despeito do FICAR que a modernidade tenta emplacá-lo, mas sem muito sucesso.
(Fico pensando: se a vida por si mesma é passageira, por que não investir no único sentimento que parece nos eternizar?)
O amor moderno é produto de consumo. Ele parece que segue a mesma trilha dos produtos que estão nas vitrines, nos shoppings e nos supermercados. Às vezes vejo o amor MODERNO cantando: “se hoje eu sou estrela, amanhã já se apagou. Se hoje eu te odeio, amanhã te tenho amor”... Talvez esta seja uma perfeita tradução musical do amor nestes tempos tumultuados de conceitos confusos e preconceitos objetivos.
O amor como a gente tem presenciado e até se vitimado com ele se mistura com o sexo e com a paixão. Talvez seja este o viés que mais agrade aos mais jovens, pelo pressuposto de que suas relações foram desenvolvidas sob a égide da coisa passageira; pela possibilidade de que o FICAR se transforme em algo mais duradouro, desde que não implique numa quebra de liberdade. LIBERDADE. Palavra-chave desse processo de amor em tempos de valores frouxos, pela possibilidade que fiquem sólidos sem que os parceiros assumam o compromisso com a própria relação.
A LIBERDADE nos parece ser confusa na compreensão do amor à moda nova, digo moderno e estruturado no conceito da pílula do “dia seguinte”. Essa tal liberdade (talvez não aquela cantada por Zezé Mota) não tem intimidade nenhuma com a sexualidade, mas, como vimos, com o sexo e com a paixão. Amar alguém até significa simplesmente ter praticado sexo. É assim que a palavra amor tem sido difundida entre os mais jovens e parte dos nem mais tão jovens. “Fulano não ama fulana, mas vivem fazendo amor”... Essa expressão é bem sintomática do que estamos tentando contextualizar neste vendaval de amores sem nomenclatura firme, como se estivessem correspondendo a sentimentos duradouros e cheios de mistérios como são os verdadeiros amores. Talvez aqui possamos intrometer a questão da sexualidade, do homem, da mulher, do macho e da fêmea.
(Mais um parêntese: não estamos provocando uma ode ao romantismo piegas nem saudosista. É que existe lá fora um fato novo decorrente do FICAR: angustia, solidão, desespero, fadiga, conflitos interiores, Aids, etc, massacrando especialmente os mais jovens para quem consumir é a lei, inclusive consumir sentimentos como se produtos fossem.)
Nas relações estáveis – substrato dos processos de construção do afeto – corolário das relações fincadas no amor, temos que compreender os papéis que, de fato, são desempenhados pelo HOMEM, pela MULHER, pelo MACHO e pela FÊMEA. Certamente que o amor é coisa de homem e mulher (estamos falando da ortodoxia do amor) nos processo de construção de uma identidade simbólica baseada na cultura estabelecida. Sendo coisa de gênero em sua perfeita completude, não se pode ignorar sua estrutura social e sociológica transcorrida no tempo histórico. Por não ignorar isto, nos postamos na defesa do amor sólido. Contraditório ao amor líquido brilhantemente discorrido por Bauman (Amor Líquido que estou lendo no momento) e distanciado do amor gasoso que a natureza nos pode oferecer no contexto da vida como ela é.
Na forma do objeto de amor sólido, homem e mulher não podem reinventar “a roda” do afeto. A despeito do jeito meio desconfortável, o FICAR está aí como forma nova de relação disposta a substituir o amor, apesar de pouco ou quase nenhum substrato afetivo. O amor que a natureza inspirou aos homens na sua trajetória histórica continua fincado em seus mistérios e sob os auspícios do destino. Isto mesmo: do destino. Não querer se submeter aos meandros do destino, é coisa de quem quer FICAR. Neste, as pessoas não se surpreendem. No outro – o tradicional – não se vive sem as contradições do destino envolto em mistérios. É neste viés que acreditamos na inserção dos processos de sexualidade. Este contém o sexo e a paixão e por isto mesmo se torna complexo nas relações. E por isto mesmo não interessa ser posto em prática nestes tempos de pressa, de consumo, de entrega em domicilio, de amores líquidos...
Afinal, onde entra o MACHO E A FÊMEA? Sem muita certeza, mas sem absoluta indecisão, temos opinião focada em cima de que dificilmente haverá amor entre macho e mulher. Mesmo no FICAR há tormento de conceito nesse processo em que sempre haverá tropeço, pois os atores ficantes, nem sempre se comprazem sendo um deles homem e fêmea ou macho e mulher. A contextualização disto se estrutura quando a gente tem que ser firme admitindo que MACHO é animal (gato, cachorro, bode, etc.)e fêmea é o feminino de macho. O conflito que gera confronto se dá quando, por exemplo, um MACHO convicto se passando por homem faz uma mulher se apaixonar. Ou uma fêmea, convicta, se passa por mulher e faz um homem se apaixonar. Há dúvidas que essas relações não serão ralações?
Resta-nos neste contraponto, a convicção de que o amor e a morte são os dois momentos em que ninguém poderá senti-los por outrem (Bauman sugere isto também). São em si mesmos a essência da vida. Um – a morte, enquanto certeza absoluta da finitude humana, reveste-se de todos os mistérios. O detalhe é que o homem não pôde fazer com a morte o que fez com o amor quando inventa o FICAR como alternativa. Percebe-se que a praticidade da nossa sociedade, o modo de vida moderno e sem compromissos nas relações não se estende à morte. Mas os mistérios do amor podem ser os mesmos, como os mesmos podem ser o destino que impede qualquer forma de previsão acerca.
Finalizo enaltecendo a colocação de Bauman acerca do AMOR LÍQUDO. Relações frouxas, pouco compromisso, mas a contradição de querer alguém desde que esse alguém não deixe o outro sem a possibilidade de ser livre, embora sendo meio preso. Esse é de alguma maneira, o viés do ficar, embora não ficando, mas querendo que um dia fique.
O amor, digamos, à antiga, faz falta aos novos inventores das formas alternativas de se relacionar. A expressão “à antiga” é apenas uma forma de posicionar o amor legítimo, pelo seu poder de levar os parceiros a sentimentos que não se podem verbalizar alhures; pela certeza de que a incerteza do futuro está posta. Dito diferente, os mistérios e a incapacidade de previsão e de lógica das relações é o que torna os amantes sem a necessidade de novos parceiros. São relações que "criam limo” – diferentes das inventadas pela moda dos tempos modernos. Como já tive oportunidade de dizer, AMOR NÃO TEM LÓGICA humana. Os amantes à moda antiga dificilmente se perdem nas drogas, no vazio, na porralouquice. A solidão acontece, mas há substrato interior para se reinventar em si mesmo novas relações e seguir em frente. O amor dos ficantes não se sustenta em si. A sua superficialidade simbólica não resiste ao dia seguinte. As fossas desses amores estão mais pra Lobão do que pra Maria Creuza e se curam com uma noitada na balada, até que outro beijo aconteça e nova pessoa apareça para novamente se estabelecer uma base passageira de carinho. São amores líquidos como líquidas são as redes sociais. Basta um toque na tecla e tudo sai da rede até que se restabeleçam novas conexões... O amor ao alcance das mãos? Ou das teclas via redes sociais de relacionamentos?
Meu amor,
Nosso amor foi tão bom
Não era?
Era o que, meu bem,
Se eu nem seu sequer seu nome...
Meu nome?
Eu nem pensei que você
Estivesse falando comigo
Não foi?
Não pense que o amor é invenção. Ele pode até ter sido, senão não existia, mas agora não. Depois de legitimado pelo tempo, está em xeque por conta das relações “modernas” que tentam sufocar o amor que satisfaz a gente; que dá sentido a vida, que provoca saudades, que dá friozinho na barriga. Entendo que o amor foi feito pra nos satisfazer só que não nos foi dito isto em nosso processo de vida. Um carro, uma boa casa, um bom vinho, uma boa música, com certeza foram feitos pra nos satisfazer. Certamente que isto nos faz bem e nos satisfaz. Mas o amor nos faz bem e mais que bem ele nos satisfaz no sentido da vida. Digo até que ele foi inventado para isto, a despeito do FICAR que a modernidade tenta emplacá-lo, mas sem muito sucesso.
(Fico pensando: se a vida por si mesma é passageira, por que não investir no único sentimento que parece nos eternizar?)
O amor moderno é produto de consumo. Ele parece que segue a mesma trilha dos produtos que estão nas vitrines, nos shoppings e nos supermercados. Às vezes vejo o amor MODERNO cantando: “se hoje eu sou estrela, amanhã já se apagou. Se hoje eu te odeio, amanhã te tenho amor”... Talvez esta seja uma perfeita tradução musical do amor nestes tempos tumultuados de conceitos confusos e preconceitos objetivos.
O amor como a gente tem presenciado e até se vitimado com ele se mistura com o sexo e com a paixão. Talvez seja este o viés que mais agrade aos mais jovens, pelo pressuposto de que suas relações foram desenvolvidas sob a égide da coisa passageira; pela possibilidade de que o FICAR se transforme em algo mais duradouro, desde que não implique numa quebra de liberdade. LIBERDADE. Palavra-chave desse processo de amor em tempos de valores frouxos, pela possibilidade que fiquem sólidos sem que os parceiros assumam o compromisso com a própria relação.
A LIBERDADE nos parece ser confusa na compreensão do amor à moda nova, digo moderno e estruturado no conceito da pílula do “dia seguinte”. Essa tal liberdade (talvez não aquela cantada por Zezé Mota) não tem intimidade nenhuma com a sexualidade, mas, como vimos, com o sexo e com a paixão. Amar alguém até significa simplesmente ter praticado sexo. É assim que a palavra amor tem sido difundida entre os mais jovens e parte dos nem mais tão jovens. “Fulano não ama fulana, mas vivem fazendo amor”... Essa expressão é bem sintomática do que estamos tentando contextualizar neste vendaval de amores sem nomenclatura firme, como se estivessem correspondendo a sentimentos duradouros e cheios de mistérios como são os verdadeiros amores. Talvez aqui possamos intrometer a questão da sexualidade, do homem, da mulher, do macho e da fêmea.
(Mais um parêntese: não estamos provocando uma ode ao romantismo piegas nem saudosista. É que existe lá fora um fato novo decorrente do FICAR: angustia, solidão, desespero, fadiga, conflitos interiores, Aids, etc, massacrando especialmente os mais jovens para quem consumir é a lei, inclusive consumir sentimentos como se produtos fossem.)
Nas relações estáveis – substrato dos processos de construção do afeto – corolário das relações fincadas no amor, temos que compreender os papéis que, de fato, são desempenhados pelo HOMEM, pela MULHER, pelo MACHO e pela FÊMEA. Certamente que o amor é coisa de homem e mulher (estamos falando da ortodoxia do amor) nos processo de construção de uma identidade simbólica baseada na cultura estabelecida. Sendo coisa de gênero em sua perfeita completude, não se pode ignorar sua estrutura social e sociológica transcorrida no tempo histórico. Por não ignorar isto, nos postamos na defesa do amor sólido. Contraditório ao amor líquido brilhantemente discorrido por Bauman (Amor Líquido que estou lendo no momento) e distanciado do amor gasoso que a natureza nos pode oferecer no contexto da vida como ela é.
Na forma do objeto de amor sólido, homem e mulher não podem reinventar “a roda” do afeto. A despeito do jeito meio desconfortável, o FICAR está aí como forma nova de relação disposta a substituir o amor, apesar de pouco ou quase nenhum substrato afetivo. O amor que a natureza inspirou aos homens na sua trajetória histórica continua fincado em seus mistérios e sob os auspícios do destino. Isto mesmo: do destino. Não querer se submeter aos meandros do destino, é coisa de quem quer FICAR. Neste, as pessoas não se surpreendem. No outro – o tradicional – não se vive sem as contradições do destino envolto em mistérios. É neste viés que acreditamos na inserção dos processos de sexualidade. Este contém o sexo e a paixão e por isto mesmo se torna complexo nas relações. E por isto mesmo não interessa ser posto em prática nestes tempos de pressa, de consumo, de entrega em domicilio, de amores líquidos...
Afinal, onde entra o MACHO E A FÊMEA? Sem muita certeza, mas sem absoluta indecisão, temos opinião focada em cima de que dificilmente haverá amor entre macho e mulher. Mesmo no FICAR há tormento de conceito nesse processo em que sempre haverá tropeço, pois os atores ficantes, nem sempre se comprazem sendo um deles homem e fêmea ou macho e mulher. A contextualização disto se estrutura quando a gente tem que ser firme admitindo que MACHO é animal (gato, cachorro, bode, etc.)e fêmea é o feminino de macho. O conflito que gera confronto se dá quando, por exemplo, um MACHO convicto se passando por homem faz uma mulher se apaixonar. Ou uma fêmea, convicta, se passa por mulher e faz um homem se apaixonar. Há dúvidas que essas relações não serão ralações?
Resta-nos neste contraponto, a convicção de que o amor e a morte são os dois momentos em que ninguém poderá senti-los por outrem (Bauman sugere isto também). São em si mesmos a essência da vida. Um – a morte, enquanto certeza absoluta da finitude humana, reveste-se de todos os mistérios. O detalhe é que o homem não pôde fazer com a morte o que fez com o amor quando inventa o FICAR como alternativa. Percebe-se que a praticidade da nossa sociedade, o modo de vida moderno e sem compromissos nas relações não se estende à morte. Mas os mistérios do amor podem ser os mesmos, como os mesmos podem ser o destino que impede qualquer forma de previsão acerca.
Finalizo enaltecendo a colocação de Bauman acerca do AMOR LÍQUDO. Relações frouxas, pouco compromisso, mas a contradição de querer alguém desde que esse alguém não deixe o outro sem a possibilidade de ser livre, embora sendo meio preso. Esse é de alguma maneira, o viés do ficar, embora não ficando, mas querendo que um dia fique.
O amor, digamos, à antiga, faz falta aos novos inventores das formas alternativas de se relacionar. A expressão “à antiga” é apenas uma forma de posicionar o amor legítimo, pelo seu poder de levar os parceiros a sentimentos que não se podem verbalizar alhures; pela certeza de que a incerteza do futuro está posta. Dito diferente, os mistérios e a incapacidade de previsão e de lógica das relações é o que torna os amantes sem a necessidade de novos parceiros. São relações que "criam limo” – diferentes das inventadas pela moda dos tempos modernos. Como já tive oportunidade de dizer, AMOR NÃO TEM LÓGICA humana. Os amantes à moda antiga dificilmente se perdem nas drogas, no vazio, na porralouquice. A solidão acontece, mas há substrato interior para se reinventar em si mesmo novas relações e seguir em frente. O amor dos ficantes não se sustenta em si. A sua superficialidade simbólica não resiste ao dia seguinte. As fossas desses amores estão mais pra Lobão do que pra Maria Creuza e se curam com uma noitada na balada, até que outro beijo aconteça e nova pessoa apareça para novamente se estabelecer uma base passageira de carinho. São amores líquidos como líquidas são as redes sociais. Basta um toque na tecla e tudo sai da rede até que se restabeleçam novas conexões... O amor ao alcance das mãos? Ou das teclas via redes sociais de relacionamentos?
Meu amor,
Nosso amor foi tão bom
Não era?
Era o que, meu bem,
Se eu nem seu sequer seu nome...
Meu nome?
Eu nem pensei que você
Estivesse falando comigo
Não foi?