BRASIL, O PAÍS DOS ESPECIALISTAS
Não deu outra. Ao ler a notícia sobre o massacre de Realengo, tive um breve lampejo e vi o porvir: os canais de tevê iriam dissecar o assunto por mais de uma semana; especialistas seriam entrevistados; lágrimas seriam expostas; a cada hora, novas imagens, depoimentos inéditos iriam aparecer; os grupos de defesa de qualquer coisa politicamente correta iriam se manifestar; comparações com os EUA iriam ser feitas; políticos iriam propor mudanças drásticas no modus operandi da segurança nacional.
Tudo muito previsível.
Se o massacre foi imprevisível, a reação a ele seguiu as normas estabelecidas de como se portar diante da tragédia da ocasião.
Sugado até os ossos, o assunto vai se dissipar na memória do povo. Logo, só quem esteve no local da tragédia é quem o reterá na memória.
Tem sido assim. No Rio mesmo, em janeiro, houve os deslizamentos na região serrana do Rio. Lembrou?
Pois é.
Uma coisa sempre me chama a atenção. É incrível como os especialistas que são pinçados pelos canais de tevê, para supostamente esclarecem os fatos, fogem da lógica mais comezinha e abraçam os delírios da moda.
Houve quem dissesse que o matador estava se vingando do bullying sofrido na infância. Aliás, hoje em dia, qualquer refrega na escola virou bullying. Estamos parindo uma, por assim dizer, geração de traumatizados, de chorosos, de almas sofridas.
Houve quem gritasse contra o fanatismo religioso, como se as igrejas fossem ninhos de terroristas.
E houve quem disse estar feliz com o acontecimento, pois isso geraria um debate sobre o desarmamento e, talvez, um novo plebiscito para discutir a questão. Feliz, sim. Duvida?
"Estamos muito felizes - tristes pela tragédia -, mas felizes em poder colaborar com a campanha que vai ser melhor que a de 2004. Ninguém pode ser contra uma campanha voluntária. Estamos felizes com essa atitude e confiantes em uma campanha ainda maior. Estamos otimistas que esta tragédia não foi em vão. Ela vai nos ajudar a construir um país sem armas”. Essa fala é de Antônio Rangel, representante da entidade Viva Rio, que prega o uso de flores e pensamento positivo contra a escalada do crime.
Os especialistas do Brasil, na verdade, entendem o país dentro de um tubo de ensaio. São esses especialistas que querem tirar dos pais a autoridade sobre a educação dos filhos. São especialistas como esse que acham legal crianças apreciarem um beijo lésbico (vide kit gay). São especialistas como esse que empurram na goela dos professores o que deve e o que não deve ser ensinado em sala de aula. São esses especialistas que afirmam categoricamente que o Lula foi o melhor e mais popular presidente desse país. São esses especialistas que dizem que toda a forma de fé é um atraso e que a ciência salvará a todos.
Enfim, é dessa gente que o Brasil está cheio.
Cheio. Em vários sentidos.