A cidade abandonada
Se você é apaixonado por automóveis, adora esportes radicais e é viciado em adrenalina, venha morar em Porto Velho. É tanto buraco, mas é tanto buraco nas ruas, que cada pequeno percurso com seu carro é garantia de fortes emoções. Com a vantagem de não precisar sair da cidade para fazer uma trilha radical no fim de semana. Veja só que bacana: você vai para o trabalho, ou às compras, e já está no off-road, não importa se é nos bairros ou no centro (na verdade, você se sente meio fora do centro nesta capital brasileira meio fora do centro); vai para a faculdade e já está com a adrenalina a mil, principalmente se for à noite, pois além da baixa visibilidade noturna agravada pela iluminação pública quase sempre deficiente (em algumas ruas, inoperante ou inexistente), há sempre a possibilidade de um assalto à mão armada na próxima esquina (ou no meio do quarteirão, nunca se sabe).
Há buracos de todos os tipos e tamanhos, e para todos os gostos. Como quem deveria fazer algo a respeito pouco faz, a população cuida de ir preenchendo as crateras diante de suas casas, cada um a seu modo: alguns as preenchem com velhas cadeiras quebradas, pedaços de pau e até, acredite, sucata de fogão; outros, com outros tipos de lixo ou entulho; outros mais, já cansados dessa tarefa braçal não remunerada, deixam-na por conta da providência da mãe natureza, por meio das águas das chuvas que rapidamente se transformam em caudalosas enxurradas e alagamentos, quase sempre misturados ao esgoto que corre a céu aberto ou pelas galerias de águas pluviais que geralmente transbordam em vários pontos da cidade.
Nos casos em que a população intervém, tapando os buracos com lixo ou entulho, seja com a melhor das intenções, na tentativa de salvar a vida de algum pedestre, motociclista ou motorista menos atento, seja também para protestar contra o descaso da municipalidade inoperante, quando há buracos sucessivos próximos uns dos outros são formadas interessantes chicanas, obrigando você a fazer manobras curtas e rápidas para não bater nas velhas cadeiras quebradas, pedaços de pau ou sucata de todo tipo no meio da rua.
Já os buracos que a mãe natureza trata de encher com água de chuva, lama e esgoto reservam outro atrativo não menos atraente, pois você nunca sabe a profundidade dos ditos-cujos, o que sempre acaba se traduzindo em doses extras de adrenalina, diante da dúvida sobre de qual deles desviar, já que em vários trechos são muitos, e você tem de seguir em frente, pois não pode chegar atrasado ao seu destino (e sempre chega atrasado, caso não saia de casa com bastante antecedência).
Agora uma má notícia para quem não gosta de ficar parando ao longo da trilha de off-road: há muitos engarrafamentos em Porto Velho, e parece que a curto prazo não vem uma solução a contento, pois os viadutos que já deveriam estar prontos estão com as obras paralisadas há mais de ano, e não se sabe quando serão retomadas e concluídas. Mas, para contrabalançar essa má notícia, ao que tudo indica a buraqueira nas ruas também está sem data definida para acabar.
Você é apaixonado por automóveis, adora esportes radicais e é viciado em adrenalina? Venha morar em Porto Velho! E caso esteja pensando em trocar seu atual veículo de passeio por um novinho em folha, em que pese o recente aumento do IOF, leve seriamente em consideração a possibilidade de investir logo num SUV ou numa pick-up 4x4. Mas, relaxe! Fique tranquilo, não precisa ficar fazendo muitas contas, pois certamente o uso urbano diário do seu novo e querido off-road certamente justificará cada centavo investido nessa compra.
Atenção! Extra! Extra! Notícia que acaba de sair do forno (por falar em forno, aqui só não é mais quente que o Saara e ar condicionado no veículo é condição indispensável): o número de buracos nas ruas de Porto Velho está diminuindo... em muitos pontos da cidade onde havia dois ou mais buracos próximos uns dos outros agora é um buraco só.
Extra! Extra! Mais uma notícia de última hora: batido, pela enésima vez, o recorde da arrecadação de impostos no Brasil!...