ALÔ, ALÔ, REALENGO, MEUS SENTIMENTOS!

Indo na contramão do “banquete” que ora alimenta a mídia do nosso país, não vou jogar pedras, não vou acusar, não vou, muito menos, abrir espaços para servir de parapeito para incautos que, sem nenhuma capacidade reflexiva, limitam-se a apedrejar uma casa vazia, responsabilizar uma família em pânico e tão atônita quanto todo o restante do Brasil, como à de Wellington. Venho, ao contrário, com muita lucidez, pelo que me parece, trazer uma reflexão.

Lamento profunda e tristemente pelas crianças que se foram. São vítimas, sim, sem dúvidas. No entanto, fico a me perguntar: De quem, exatamente? A mídia, em pareceria com as nossas autoridades, tenta “resolver” a questão com propostas interessantes como o desarmamento e segurança nas escolas. Ótimo! Sigamos, companheiros! Vamos aproveitar o momento e começar a agir.Um dia chegaremos lá.

No entanto, tenho cá para mim que tudo depende de uma revolução na EDUCAÇÃO. Eis aqui a base de tudo. Vejamos então: Quem era Wellington? Alguém que não tinha o poder de se comunicar. “Mal ouvíamos a voz dele, vivia no mundo dele”, contou uma vizinha. “Era muito calado, muito fechado e a galera pegava muito no pé dele, mas não a ponto de ele fazer isso”, disse seu ex-colega Bruno Linhares, 23 anos, referindo-se ao massacre. Precisava de proteção e carinho? Não sei ao certo, mas precisava ser “respeitado”, apenas. Ser visto como alguém e nada mais. Não tinha amigos, não se comunicava, não falava. E isso, lá, no ensino fundamental. Naquela série em que os professores tentam alertar: “Há algo estranho com esse menino”, mas que ninguém atenta. Muito menos a família que, muitas vezes, prefere ignorar. “Depois passa.” Não passa. Fica e vai sedimentando, em pequenas doses de raiva e desconforto. Aquele mundo não é dele. Ele só está “colado” ali.

Claro que nada disso pode justificar o que aquela pobre alma fez, mas explica, sim. Era um louco, solitário na sua doença, incapaz, desprovido de sentimentos. Mas...ninguém conseguia enxergar isso? Só uma velha mãe, que até tentou, mas foi vencida pelo tempo e pela morte? O cara sofreu Bulling cruel na escola: “A gente chorou muito pensando que Wellington matou aquelas 12 crianças em represália pelo que aconteceu com ele quando nós estudávamos juntos”, contou Thiago da Cruz, outro ex-colega, que usou o adjetivo assustador para se referir ao bullying e à chacota a que Wellington foi submetido. Em entrevista à Folha, reconheceu que não suspeitava do dano que cometeram e acrescentou chorando: “Não era para ninguém ter pago por uma coisa que nós fizemos.” Sim. Fizeram, mas por onde anda a família que mal acaba por “alimentar” o preconceito, com suas mal disfarçadas críticas aos gordos, aos feios, aos menos inteligentes ou aos que se vestem assim ou assado? Muitos professores tentam, alertam, discursam, fazem campanhas, como muitos Colégios, mas precisamos de mais! De medidas concretas contra esse horror que tem nome estrangeiro, mas que, para mim, chama-se: AMEDRONTAR, ENCURRALAR. Câmeras em colégios são legais, detectores de metal, catracas, guaritas, porteiros armados (Sugestões de Sarney!!) Eu me pergunto: Isolar a escola resolve? Não lhes parece uma penitenciária, senhores?

Talvez eu seja uma romântica incorrigível, mas, que tal substituir tudo isso por; EDUCAÇÃO? Que tal as famílias interagirem mais com a escola do filho? Que tal dar EXEMPLOS? Que tal pensar em abolir preconceitos idiotas? Que tal sentar e discutir a questão? Que tal pensar o aluno como um filho, realmente, e ter um olhar mais atento para ele? Faltou ao Wellington tratamento, remédios e, quem sabe, afeto. Quem sabe aquele abraço solidário e aquele cheiro no cangote que Wellington nunca recebeu, levando consigo três fiapos de humanidade: o beijo na testa da professora de literatura, a preocupação com os animais desamparados e a retirada de um aluno de sua mira: “Fica frio, gordinho, que eu não vou te matar”. Ei!!! A propósito: Era um “gordinho”!!! Coincidência? Pense!!!

Resta-nos o desalento de ter que escrever uma página da história do Brasil com sangue. Algo que só acontecia do lado de lá, mas que a internet trouxe para cá. Algo que parecia tão distante, e agora bateu à nossa porta. Nossos loucos eram bem mais mansos; agora eles se avizinham mais cruéis. A internet tem culpa, a sociedade tem culpa, Wellington tem culpa, mas era louco.

Alô, alô, Realengo, meus sentimentos. Que aquelas crianças descansem em paz e que a sua morte não sirva apenas para dar ibope, mas para que iniciemos uma revolução pela EDUCAÇÃO

Profª Rozana Pires

ZanaPires
Enviado por ZanaPires em 11/04/2011
Código do texto: T2902162