violência globalizada
Hans Magnus Enzensberger, autor da coletânea de Ensaios "Guerra Civil" é uma das vozes mais lúcidas que se levantam para tentar entender e dar sentido a um mundo contraditório: marcado pela globalização das economias e pela falsa sensação de paz; mas na verdade explodindo em conflitos. O "ovo da serpente" está sempre a ser gestado, e há sempre uma expectativa de que tem alguma coisa sempre pior para acontecer. Depois do 11 de setembro a humanidade perdeu mais uma vez a sua inocência. Vivemos num mundo integrado no que ele tem de bom e de ruim. Pestes se espalham na velocidade de cruzeiro, cada vez mais crescemos em número e já excedemos o limite populacional suportável, clandestinos tentam transpor fronteiras fortificadas entre países, seja a que separa EUA do México, seja a que separa Judeus dos Palestinos, numa afronta a liberdade de ir e vir, aos ideais iluministas de justiça e liberdade, a miséria global produz uma brazilinização do mundo com o aumento das favelas em torno das grandes cidades e nestas, zonas deflagradas. Enzensberger fala num mundo produtor de superfluidade de população - há gente por demasia não incorporada ao chamado mercado global. O autor de Guerra Civil, aborda a questão da violência com extrema lucidez. Violência autonomizada, sem justificativas aparentes e destituída de legitimidade, antes ao menos a violência era justificada pela causa, hoje a violência torna-se autônoma, seja nas ações dos narcotraficantes travestidos de guerrilheiros das FARC, que sob o verniz ideológico de revolucionários, matam e seqüestram aqueles que em tese deveriam proteger; ou os traficantes das favelas dos morros cariocas que tem leis próprias, bem como as milícias que julgam, condenam e executam seus desafetos, sob o argumento de proteger as comunidades pobres do julgo dos traficantes. Mas é possível ir além, os combatentes dessa Guerra Civil atual, são segundo Enzensberger cada vez mais jovens abnegados e autistas que num piscar de olhos cometem sua série de assassinatos. Seus alvos são civis inocentes, crianças, velhos, mulheres, homossexuais. A Guerra Civil está instalada no cotidiano deflagrado das cidades, sejam elas na América Latina ou na Europa, EUA ou Ásia. Um dos sintomas desse mal que se dissemina, estão nos massacres cometidos por suicidas nas escolas americanas, cada vez mais espetaculares e sanguinários. O enredo é sempre o mesmo um desajustado até então com ficha policial limpa, invade uma escola, atira a esmo em alunos indefesos e em seguida se suicida. Numa carta, num vídeo, deixa pistas sobre as razões do massacre. Uma cena que se globaliza em inúmeros casos pelo mundo cada vez mais apocalíptico e integrado numa aldeia global, há uma triste e lamentável conexão entre o massacre de Columbine ocorrido há 12 anos e a matança em Realengo no Rio de Janeiro, num fenômeno chamado copycat (“imitação”) que infelizmente nos integra na reprodução daquilo que o homem tem de pioro ódio aos indefezos, adentramos na anti-utopia de Thomas Hobbes, uma guerra civil globalizada de todos contra todos.