Tragédia no Realengo

'O Rio de Janeiro continua lindo

O Rio de Janeiro continua sendo...'

... está aí vivo o poeta e seus lindos singelos versos para não me desmentirem ; porém, a cidade, não deve dormir, assim como país, o mundo e as famílias dos envolvidos nessa inclassificável tragédia. Ponho-me a pensar naquele ditado: 'Vá dormir com esse barulho!' É ensurdecedor, mais do que várias baterias de escolas de samba reunidas no sambódromo. É assustador, mais do que as batidas do tambor que anunciam a morte, as mortes, as mortes não encomendadas, as mortes - sim - precipitadas. Já passei por situações de perdas em que a dor não coube no peito, teve de se aninhar nos colos amigos, no segurar os mil-e-um umbigos, devido ao latejar pulsante e a insatisfação constante, ainda assim me arrepio só de pensar na dor dos familiares, envolvidos e sobreviventes que assistiram a um ato nada solene. Não consigo me imaginar no lugar de cada um deles, acredito que me faltaria o solo, nunca o colo; mas me pergunto: E o depois? Conviver com todas as lembranças daquela matança... Chegará a bonança? Haverá esperança? Paro por aí, me travo, empaco, feito burro velho, pois é demais pro coração, pra razão, pra emoção. O que teria levado alguém a cometer um ato tão desumano? Por mais espiritualizado que eu seja (e sem fazer pré-julgamento), fico estacado, não consigo seguir adiante, minha mente (sempre antenada com Deus) não consegue digerir algo tão escabroso assim.

Então, diante da minha pequenez, não choro, pois minhas lágrimas secaram, também se travaram, apenas oro, pelo causante, pelos morrentes e pelos viventes:

'Deus Supremo,

Senhor que a tudo atende,

dai aos parentes e aos envolvidos nesse acidente

todo o amor

toda a compreensão e

toda a luz

que possa ser irradiada nesse momento presente

para que se continue tendo fé, forças e pernas pra seguir em frente

e que um mundo melhor desponte brevemente no horizonte!'

Além da prece, me aproprio dos versos do poeta Gilberto Passos Gil Moreira para oferecer o meu abraço fraterno e sincero ao povo de Realengo: 'Alô, Alô, Realengo - aquele abraço!' ... abraço amigo que sai do umbigo, cheio de amor e emoção ,como mãe que pinta e borda pela sua criação, a fim de que esse drama de suas mentes se extinga, encontre o caminho da redenção.